sábado, setembro 20, 2008

O negócio da mentira


Embora os analistas pareçam estar esquecidos não é a primeira vez que o mercado financeiro foi abalado pela mentira, isso já tinha sucedido no caso da ENRON e muito embora se tenham feito promessas de transparência dos mercados a mentira voltou a fazer das suas. Só que desta vez o caso foi mais longe, coma ENRON a mentira ajudava a viciar as contas da empresa e desta forma enganar os investidores que compravam gato por lebre. Desta vez era a própria mentira que era vendida em bolsa.

Se no caso ENRON todos se podiam queixar de que tinham sido enganados, na crise do sub prime isso não é bem assim, não foi apenas uma crise no mercado imobiliário que desencadeou a crise do mercado financeiro, foi a concessão de muitos milhões em crédito que à partida era incobrável que levou à perda dos capitais investidos.

Estamos perante uma meia mentira em tudo semelhante à nossa Dona Branca, se alguns investidores incautos e ignorantes entregavam o seu dinheiro ao cuidado da senhora, uma boa parte sabia que não havendo qualquer rentabilização do capital os últimos investidores a aplicar o seu dinheiro iriam perder o seu dinheiro. Todavia a gulodice do lucro fácil levou muitos a não resistir à tentação.

Com o subprime sucedeu o mesmo, enquanto os títulos circulassem gerando lucros alimentados pela afluência de novos capitais o negócio era tentador, num tempo em que a busca dos lucros e dos prémios de gestão deixou de ter limites nem os grandes bancos americanos resistiram à tentação do lucro fácil. A mentira foi um excelente negócio até ao dia em que bairros inteiros apareceram à venda e lançaram o pânico, o mesmo pânico que envolveu os clientes da Dona Branca ou os accionistas da ENRON.

A crise foi o castigo justo para investidores e instituições financeiras sem escrúpulos, mas a bem da estabilidade financeira acabaram por ser salvos com o dinheiro dos contribuintes. Os responsáveis pela perda de milhões e milhões por todo o mundo (veja-se a desvalorização das acções dos bancos portugueses e imagine-se o impacto à escala mundial) beneficiaram da ajuda do governo americano, que depois de a entidade reguladora dos mercados ter fechado os olhos veio em seu auxílio. Tiveram mais sorte que a Dona Branca que ficou falida e na prisão.

Depois de na sequência do caso ENRON terem prometido que o mercado financeiro seria transparente, as autoridades americanas permitiram que a mentira ganhasse ainda maiores proporções. Resta agora saber qual vai ser a próxima mentira que as instituições financeiras norte-americanas vão inventar para aplicarem os imensos capitais que afluem à sua praça.

Resta aos portugueses terem aprendido a lição, afinal não é só por via da dependência em relação às exportações que a nossa economia é vulnerável