Pelo meio assiste-se a uma grande confusão, em privado cada deputado leva a sua vida e mantém uma relação amorosa com cada um dos seus eleitores, em público são todos machos reprodutores e a maioria aceita a lealdade em relação ao chefe.
No casamento a direita continua dependente dos votos ganhos nas homilias e insiste em que seja o casamento civil, aquele que a Igreja nem sequer reconhece enquanto tal, obedeça a regras que tenham o resultado que o temor aos representantes de Deus na Terra já não assegura. As normas do Código Civil, que até poderiam constar num capítulo do Código Comercial, ganham transcendência divina e alterar na lei civil aquilo que a Igreja já nem consegue obrigar os seus fiéis é pecado. A lógica é simples, já que não respeitas a lei divida da Igreja que abraçaste levas com a lei civil, não é bem a mesma coisa mas vai dar na mesma, se casaste ficas casado quer queiras quer não, é Deus que assim o deseja. E se não és crente pagas pela mesma moeda, vives num país de crentes.
Na esquerda há quem tenha descoberto que o casamento é pouco mais do que um contrato comercial e na hora do divórcio é preciso fazer as continhas, assegurado o bem-estar das crianças o importante é assegurar que o negócio seja encerrado sem prejuízo para as partes. Mas ao mesmo tempo que se preocupam com o negócio de uns dizem aos outros que para que haja negócio é necessário sócios de sexo diferente.
Não me admiraria nada que daqui a uns tempos em vez de casamentos os futuros conjugues optem por constituir empresas de responsabilidade limitada, por exemplo a José & Maria Lda, a António & Rui Lda ou a Joana & Rita Lda. Não é nada de absurdo, já há sociedades anónimas para evitar impostos sem património, quando o filho casa ocupa a vivenda que corresponde às suas acções, quando o pai acha que um dia destes vai desta para melhor procede a uma redistribuição do capital, tudo sem sisas e livres de impostos sobre o capital. Afinal, seria tudo mais claro, as regras dependeriam do humor dos deputados ou da generosidade do cardeal, e apenas os filhos dariam trabalho aos políticos e aos tribunais.
Quem pretendesse que o casamento emanasse de uma vontade divina sujeita a regras bíblicas iria à Igreja, e os que, assumindo serem crentes mas não praticantes, recorreriam ao casamento civil, que alguns pretendem que seja a versão light do casamento religioso.