quinta-feira, setembro 25, 2008

Uma tese contra a história


«Assim, no ponto O socialismo, alternativa necessária e possível pode ler-se, na página 15: “Perante os complexos problemas que se manifestaram na construção do socialismo na URSS, assim como noutros países do Leste da Europa, o PCP expressou compreensão e solidariedade para com os esforços e orientações que proclamavam visar a sua superação, alertando simultaneamente para o desenvolvimento de forças anti-socialistas e para a escalada de ingerências imperialistas, confiando em que existiam forças capazes de defender o poder e as conquistas dos trabalhadores e promover a necessária renovação socialista da sociedade. Mas certas medidas tomadas agravaram os problemas ao ponto de provocar uma crise geral. O abandono de posições de classe e de uma estreita ligação com os trabalhadores, a claudicação diante das pressões e chantagens do imperialismo, a penetração em profundidade da ideologia social-democrata, a rejeição do heróico património histórico dos comunistas, a traição de altos responsáveis do partido e do Estado, desorientaram e desarmaram os comunistas e as massas para a defesa do socialismo, possibilitando o rápido desenvolvimento e triunfo da contra-revolução com a reconstituição do capitalismo”.» [Público]


Tenho que confessar que quando li a notícia do Público em que se reproduz uma das teses do próximo congresso do PCP fiquei quase sem argumentos, não por a considerar inquestionável, mas porque fiquei com a sensação de que os militantes do PCP preferem viver num mundo imaginário, aquele que melhor se adequa ao seu programa.

Conheci muito bem esse mundo imaginário em que o PCP pretende viver e que serviu de sonho a gerações de militantes, li muitas edições das revistas “Vida Soviética” e "Sputnik", onde todos os russos eram felizes, apareciam as trabalhadoras agrícolas com ar radioso e anafado, com o olhar ligeiramente inclinado para o céu. A indústria era desenvolvida, os operários eram apresentados como os mais felizes do mundo., fazendo inveja aos ocidentais. A marinha soviética assegurava a paz mundial, os seus mísseis nucleares asseguravam a tranquilidade de todo do mundo.

Depois foi o que se viu, os almirantes da gloriosa armada, que comandavam os poderosos submarinos, viviam miseravelmente em minúsculos apartamentos e ganhavam pouco mais do que uma empregada doméstica.

Quando o muro de Berlim caiu foram os alemães do leste que fugiram para este lado e não me recordo da mais pequena manifestação em defesa da sua manutenção, os agentes da Stasi, que dias antes ainda disparavam sobre cidadãos indefesos, fugiram depois de terem destruído o maior número de provas que puderam, proporcionaram-nos imagens muito semelhantes às dos nossos agentes da PIDE em fuga no dia 25 de Abril.

A indústria soviética era o que se viu, atrasada tecnologicamente, poluidora e incapaz de ser minimamente competitiva. A economia ruiu e os briosos dirigentes do PCUS ou se transformaram rapidamente em capitalistas ou aderiram às máfia russas.

Mas para o PCP a realidade é ainda a das revistas da “Vida Soviética”.