segunda-feira, setembro 22, 2008

A queda de uma ponte vinha mesmo a calhar


Manuela Ferreira Leite e os seus pares decidiram atacar a liderança do PSD quando surgiram os primeiros sinais de que a crise do subprime iria ter consequência para a economia portuguesa. Foi a esperança de as sondagens serem empurradas pela crise económica que levou MFL a pensar que podia ganhar as eleições, uma boa parte dos militantes do PSD foram seduzidos por essa esperança e entre um projecto de Passos Coelho e o poder fácil de MFL escolheram a segunda.

Não seria a primeira vez que tal sucederia, todas as eleições ganhas pelo PSD, excepto a segunda maioria absoluta de Cavaco Silva, tiveram ajuda, ou da economia ou, no caso de Durão Barroso, da queda da ponte de Entre-os-Rios.

É evidente que quando se candidatou à liderança MFL não tinha ideias nem projecto, ideias nunca teve e deve estar à espera que lhe entreguem um projecto. Até lá vai mantendo um silêncio oportuno, interrompido com uma ou outra posição episódica, fruto de recados ou parta aproveitar circunstâncias ocasionais.

Desde que chegou à liderança do PSD MFL não tem conseguido manter um discurso coerente e nem sequer consegue manter a mesma posição durante muito tempo, isto quando não se esquece rapidamente da última intervenção. Só em relação à questão das obras públicas falou mais de uma vez e foi para mudar de posição, primeiro disse que ia distribuir o dinheiro das obras públicas pelos pobres, depois veio dizer que não havia dinheiro para obras públicas e, por fim, aproveitou uma dica presidencial para questionar o valor das obras públicas.

Compreende-se, portanto, o silêncio de MFL já teorizado por Pacheco Pereira. Só que a opção de MFL não se deve a seguir os dizeres populares de que o “silêncio vale ouro” ou que o “calado vence sempre” MFL é mais do género de ficar calada porque quando fala “ou entra mosca ou sai asneira”. Mas o silêncio tem o seu preço, rigor á não falar demais ou desnecessariamente, manter o silêncio perante factos graves como o boicote dos camionistas é cobardia política. Os eleitores perceberam-no e as sondagens mostram que a estratégia do silêncio não está a resultar, o próprio Pacheco Pereira já veio anunciar uma correcção da sua teoria do silêncio, Manuela vai continuar calada mas outros dirigentes vão intervir com mais frequência.

É evidente que é possível que Manuela Ferreira Leite ganhe as eleições sem dizer uma única palavra sobre o que pensa ou tenciona fazer, se é que já pensou nisso, ela que sempre foi uma segunda figura de quem nunca se soube muito bem o que pensa. Tal como Durão Barroso encontrou em Entre-os-Rios uma ponte que o ajudou a chegar a São Bento, Manuela Ferreira Leite teria a mesma sorte se, por exemplo, caísse a Ponte 25 de Abril.

A aposta na desgraça, mais do que qualquer projecto ou valores ideológicos, é a matriz da estratégia política de MFL, por isso fica calada, está à espera dos acontecimento. Afinal, na génese da sua candidatura está o pressuposto de que a crise económica proporcionar-lhe-ia o momento da colheita eleitoral. Apesar de todo o silêncio esta aposta da desgraça é evidente na liderança actual do PSD.

Desde logo, quando veio prometer usar os dinheiros das obras públicas para ajudar os pobres estava a tentar retirar proveitos políticos da crise económica que dava os primeiros sinais. Depois tentou por várias vezes colar-se às posições de Cavaco Silva, apostando num conflito institucional que ela chegou mesmo a anunciar nos Açores, a propósito do estatuto daquela região autónoma. Na crise das lotas e dos camionistas Manuela Ferreira Leite ficou calada como de costume, mas Pacheco Pereira não escondeu a desilusão por o governo não ter recorrido à bastonada, um imenso buzinão nacional dava grande jeito. Agora a batalha de Ferreira Leite e Pacheco Pereira é em defesa do regulador contras as investidas do governo pressionando as petrolíferas no sentido de baixarem os preços dos combustíveis, o pior que lhes poderia suceder é uma descida dos preços dos combustíveis.

A estratégia de Ferreira Leite é a prova de que um bom intelectual às vezes dá um péssimo político. Não, não me estou a referir à líder do PSD que, até prova em contrário, pensa pouco e fala mal, refiro a Pacheco Pereira, que pensa muito, fala bem mas conclui mal.