Vão longe os tempos em que os debates parlamentares concentravam as atenções de políticos da oposição e comentadores políticos, mesmo quando os governos estavam em vantagem eram um momento de avaliação, os partidos da oposição tentavam incomodar os governos, os líderes da oposição procuravam brilhar. Com Santana Lopes na liderança da bancada parlamentar ainda animaram a vida política, ainda se questionou se o brilho da oratória de Santana não iria apagar Menezes e este chegou mesmo a ir ao parlamento assumir o papel de treinador de bancada. Não só Santana Lopes prometia debates animados, como a alteração das regras favoreciam a oposição.
Alguém se lembra do último debate parlamentar? Quase ninguém ligou ao assunto, Manuela Ferreira Leite continuou ausente, o líder parlamentar do PSD deu mais uma de mão em tons cinzentos e Jerónimo de Sousa lá fez a sua defesa dos mais pobres. Louçã perdeu a irreverência de outros tempos, já nem consegue dizer uma piada nova, entre o que o PSD diz na rua e no parlamento e na rua não há qualquer relação, o líder da oposição é Jerónimo de Sousa.
É evidente que o facto de o debate ter sido aberto com a intervenção de um partido que só existe na imaginação do PCP não o favoreceu, mas a verdade é que quer o CDS, quer o PSD são incapazes de usar estes debates para se apresentarem como alternativa. O próprio Pacheco Pereira perde-se com teorias do silêncio ou com a nacionalidade do Magalhães, entre um projecto e tentar desvalorizar a acção do Governo o PSD opta pela segunda solução. Que o Magalhães não é português e até chegou cá em segunda-mão ou que a energia das ondas é uma treta. Depois, quando as sondagens os desiludem queixam-se de asfixia democrática, de manipulação das menos vistas das nossas televisões ou de outros males que os afligem.
Compare-se o comportamento de Luís Filipe Menezes com o de Manuela Ferreira Leite. O ex- líder do PSD antecipava o debate com intervenções públicas, questionava o governo sobre algumas matérias, antecipava que iriam ser feitas propostas, no dia de debate aparecia no parlamento, dava entrevistas, organizava conferências de imprensa. Com a actual líder foi o que viu, andou desaparecida para no dia seguinte ao debate aparecer em Braga para apresentar uma importante posição política, protestou contra uma suposta ostentação no comício do PS realizado cinco dias antes.
Quando o líder da oposição nem está no parlamento nem acompanha a sua actividade, não fazendo a amais pequena intervenção a propósitos dos principais debates que lá se realizam, passa uma semana sem se ver e quando aparece diz que o principal problema do país é a suposta ostentação por parte do partido do governo, algo está mal no PSD e na política portuguesa. Afinal, a prometida monitorização da actividade do governo era saber se o líder do PS aparecia nos comícios com um fato do Rosa & Teixeira ou com calças de ganga. A maior intervenção pública dos líderes do PSD, também prometida por Pacheco Pereira não passou de conversa de circunstâncias, Manuela Ferreira Leite apareceu tarde e quando se esperava que falasse de coisas importantes veio embirrar com a forma e local dos comícios do PSD, como se nesta matéria o PSD tivesse uma tradição franciscana.
É curioso como o PSD ou nada diz e quando se tomam posições nem merecem um segundo de reflexão vem queixar-se da comunicação social, desprezam os debates parlamentares e preferem discutir o sexo do Magalhães, adiam as propostas e discutem o acessório. É natural que o último debate parlamentar tenha passado desapercebido, o parlamento já nem serve para conseguir exposição mediática e romper a suposta asfixia da comunicação social.