domingo, setembro 28, 2008

Umas no cravo e outras tantas na ferradura

FOTO JUMENTO

Pinguim, Oceanário de Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Andre Penner-AP]

«An official of the Ministry of Agriculture displays dead canaries at Sao Paulo International airport. Brazilian officials said a Portuguese man was arrested trying to smuggle 200 wild Peruvian canaries through the airport. The birds were cooped up in four cages inside two suitcases. Sixty-five of them were dead from suffocation or dehydration.» [Washington Post]

JUMENTO DO DIA

Pacheco Pereira

O mesmo Pacheco Pereira que elogiava Sócrates no tempo em que Menezes liderava o PSD e metia o símbolo do partido de cabeça para baixo no seu blogue decidiu agora mudar de ideias e detestar Sócrates, aliás, o seu ódio a Sócrates é proporcionalmente inverso aos resultados de Manuela Ferreira Leite nas sondagens. E coimo as sondagens têm vindo a remeter a líder do PSD para o patamar que merece, apesar de seguir religiosamente os conselhos de JPP ao ponto de parecer uma marionete, o guru arde de ódio.

Agora escolheu o Magalhães para dizer tudo o que vem à cabeça, não percebendo que a sua opinião só chegam aos que normalmente não mudam de opinião. Perdeu o controlo ao ponto de comparar o primeiro-ministro com Valentim Loureiro, o seu camarada que "dava frigoríficos e outros electrodomésticos", classifica Sócrates como "um típico tecnocrata, mais autodidacta do que com uma formação profissional sólida", suspeita de "obscuridades sobre como este projecto apareceu", quer saber se "saber se a distribuição de computadores individuais para as crianças do ensino básico tem sentido pedagógico e utilidade no combate à info-exclusão".

É ridículo ver um Pacheco Pereira que há uma semana só estava preocupado com a nacionalidade do Magalhães e o destaque que a comunicação social, vem agora manifestar muitas preocupações com as questões pedagógicas. Anda há mais de duas semanas a protestar contra o Magalhães e só agora se preocupa com as criancinhas?

A verdade é que JPP está a sofrer de uma grave crise de dor de corno, deve doer ver o PS sobreviver aos preços dos produtos alimentares, aos preços dos combustíveis, aos boicotes dos camionistas, à vaga de crimes e à crise financeira, enquanto a sua Manuela Ferreira Leite se afunda nas sondagens, com medo de falar e de apresentar as suas ideias.

É ridículo ver um Pacheco Pereira desesperado, ouvindo as piadas de Luís Filipe Menezes, vendo Marques Mendes roubar o protagonismo à líder do PSD, enquanto o PS sobrevive e o PSD de Manuela Ferreira Leite definha. Ele sabe que o que conta são as eleições e que vai ser o maior derrotado, foi ele que inventou a ideia de que com a Manuela Ferreira Leite o PS não alcançaria a maioria absoluta. Parece que já o percebeu, só isso o pode levar a ter tanto ódio contra o coitado do Magalhães.

O GOOGLE ESTÁ DE PARABÉNS, FEZ DEZ ANOS

MASOQUISTA?

Manuela Ferreira Leite chamou masoquista ao PS por lhe pedir para expor as ideias e projectos. Bem, terei que confessar que também sou masoquista, como Manuela Ferreira Leite não foi escolhida nem pelos seus dotes físicos nem pelo seu desempenho brilhante nos cargos governamentais que já desempenhou também aguardo pelas suas ideias e propostas, afinal é para isso que alguém se candidata à liderança do PSD e do Governo. Aliás, sou masoquista em relação a todos os dirigentes partidários.

É lógico que um partido que governa e é criticado queira saber quais são as ideias e propostas alternativas, já que até agora a líder do PSD tem assumido o papel de pivot do boletim meteorológico.

EUROPA E O PROBLEMA AMERICANO

«O presidente da Comissão Europeia, o ‘nosso’ Durão Barroso, descobriu agora os malefícios do “unilateralismo” americano no mundo de hoje. Arrependido, «ex officio», dos tempos do seu americanismo militante, quando se curvava em mesuras perante o “George” na cimeira das Lages, jurando a pés juntos que o seu “amigo George” era incapaz de mentir e que ia atacar o Iraque porque tinha provas das armas de destruição maciça de Saddam Hussein - que ele, Barroso, havia visto com os seus olhos - o comissário-chefe dessa coisa difusa a que insistimos em chamar Europa resolveu agora escrever um «dazibao» aos dois candidatos à próxima presidência dos Estados Unidos, dando-lhe conta dos sentimentos actuais de um europeu. A Europa, diz Durão Barroso, quer que o próximo Presidente americano perceba que não pode passar sem ela; que se renda ao “multilateralismo”, deixando de se comportar como o único actor global; que aceite a reforma das instituições que a Administração Bush tratou de tornar obsoletas e inúteis, como a ONU, o FMI, o Banco Mundial; que aceite a presença de outros «players» emergentes na cena mundial, com direito a audição e participação nas decisões, que reconheça que há problemas sérios à escala planetária que não podem continuar dependentes da agenda doméstica de um Presidente dos Estados Unidos. Tudo coisas óbvias e consensuais e que agora são fáceis de dizer. Há uma década, a ex-secretária de Estado americana Madeleine Albright, classificava os Estados Unidos como “a nação indispensável”. Oito anos de desastrada gestão de Bush encarregaram-se de nos ensinar amargamente que as coisas podiam mudar: os Estados Unidos tornaram-se hoje a nação dispensável - de bom grado dispensaríamos a contribuição que deram para o estado do mundo, nestes últimos tempos. Em oito anos, a nação que a dupla Clinton-Gore havia deixado na prosperidade e no caminho de uma efectiva e inteligente liderança mundial transformou-se num dos problemas do mundo, ao lado da Al-Qaeda e do fundamentalismo islâmico ou do aquecimento global. Os Estados Unidos que George W. Bush vai deixar em herança são o maior consumidor de energia e matérias-primas à escala global; o maior poluidor do planeta e o mais feroz adversário de todas as convenções e tentativas de inverter o caminho para o caos - tendo a Casa Branca chegado ao extremo de falsificar relatórios científicos para tentar provar que o aquecimento global não existia; são o principal factor de provocação do terrorismo islâmico e o maior destabilizador da paz no Médio Oriente, nos Balcãs, no Cáucaso; são o mais hipócrita defensor de um comércio global livre e justo, que defendem no papel e tratam de sabotar na prática, sempre que lhes dá jeito; e são, conforme se tornou agora exuberantemente exposto, o grande agente e exportador da crise económica mundial, graças à ganância dos amigos de Bush e à cumplicidade cooperante deste. Eis a herança do ‘amigo George’. Não admira que até Durão Barroso seja agora capaz de negar três vezes que o conhece. E, todavia, só se deixou enganar quem quis. Os americanos, claro, e é por isso que a América é uma nação perigosa, porque tanto se podem entregar a um Roosevelt ou a um Clinton como a um Nixon ou a um Bush. Mas não só os americanos: também essa geração de dirigentes europeus enfatuados, que parecem desprovidos de pensamento próprio, mesmo quando se trata de questões que tocam muito mais de perto à Europa do que à América, como são os Balcãs, o Médio Oriente ou as relações com a Rússia. Toda a gente sabia que Bush era um completo ignorante em matéria de política externa, dotado daquela ignorância arrogante que se encontra no americano médio, que está convencido de que, fora dos Estados Unidos, nada mais conta e nada mais interessa, e que o mundo inteiro vive no desejo de poder imitar o estilo de vida e os ‘valores’ americanos - os únicos justos e conformes à vontade de Deus. Mas a ignorância é uma arma perigosa nas mãos de um homem poderoso, e dizem que o Presidente dos Estados Unidos é o homem mais poderoso do mundo. Foi a ignorância de Bush que conduziu os Estados Unidos ao caos e fez do mundo um lugar infinitamente mais perigoso. Tudo era por demais evidente que assim seria, mas a «intelligentsia» europeia que ditou moda nos últimos tempos havia decretado, qual «fatwa», que duvidar da infalibilidade americana era crime de “antiamericanismo primário” - uma doença mental de diletantes ou “órfãos do comunismo”. Corremos o risco de ter mais do mesmo. A semana passada, durante uma entrevista à televisão espanhola, ficou a perceber-se que o candidato McCain - tido como um “especialista” em política externa - não sabia que Rodriguez Zapatero é primeiro-ministro de Espanha, o que equivale a dizer que não acha que a Espanha seja uma nação suficientemente importante para interessar um Presidente dos Estados Unidos. E a candidata a vice-presidente, a dona-de-casa do Alasca, Sarah Palin - que até ao ano passado nunca tinha pedido um passaporte para sair dos EUA - só terça-feira passada se encontrou pela primeira vez com um dirigente estrangeiro. Puseram-na nas mãos do ‘guru’ Kissinger para um «brain-storming» intensivo e trataram de introduzi-la à pressa ao resto do mundo, começando pelos amigos: os Presidentes da Geórgia, Ucrânia, Iraque e Afeganistão. Graças a uma indiscrição da CNN, cujo repórter se conseguiu aproximar da senhora mais do que os seguranças consentem, ficou a saber-se que, na quarta-feira, Kissinger tratava de lhe explicar quem era Sarkozy. A coisa promete... O que está errado na carta de Durão Barroso aos candidates às eleições americanas é o tom de pedido: a Europa pede aos Estados Unidos que a levem em conta. Dir-se-ia que a factura de Omaha Beach nunca mais está saldada... Mas venha Obama ou McCain, não há mais tempo a perder nem mais desculpas para que a direcção política europeia continue eternamente a resguardar-se nos interesses da ‘Aliança Atlântica’ para não assumir as suas responsabilidades. A Europa tem de ter uma política externa e uma política de defesa autónomas, que não dependam da NATO nem da ignorância geopolítica dos presidentes americanos. Tem de ter uma estratégia própria para as crises dentro das suas fronteiras e no seu perímetro. Uma estratégia própria para os Balcãs, para o Médio Oriente, para o Magrebe, para o Irão. E, claro, para a Rússia, que é um dos seus principais fornecedores de gás e petróleo e um parceiro indispensável para a manutenção da paz e para a resolução de crises regionais onde os interesses estratégicos americanos só atrapalham. A Europa não tem qualquer interesse em ver mísseis americanos a cercar a Rússia, nem em envolver-se, à sombra da NATO, em intervenções sem sentido e que, em última análise, apenas podem ressuscitar o espírito de guerra-fria sepultado em Berlim há quase vinte anos. Desgraçadamente, toda a gente parece concordar num ponto: não é com esta geração de políticos europeus que a Europa se conseguirá afirmar e construir. Precisamos de estadistas, de visionários, e só temos malabaristas da política e mestres da conjuntura e do vazio. Uma geração muda-se de cima para baixo, começando por mudar as opiniões públicas. É isso que se torna urgente fazer.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Miguel Sousa Tavares

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

AS PERGUNTAS QUE DEVEM SER FEITAS SOBRE O "MAGALHÃES"

«As entregas de computadores nas escolas pelo primeiro-ministro são uma peça essencial da propaganda governamental de sucesso garantido a abrir um ano eleitoral. Como é óbvio, ninguém deixa de gostar que lhe dêem coisas. Valentim Loureiro dava frigoríficos e outros electrodomésticos, coisas que ninguém pode achar serem inúteis e desvantajosas para quem as recebe, Sócrates "dá" computadores, um objecto cuja aura é hoje superior ao frigorífico, e que vem envolvido com toda uma retórica de modernidade, que ninguém se atreve a contestar. Uma das características deste Governo é um grande deslumbramento tecnológico que tem muito a ver com o primeiro-ministro, um típico tecnocrata, mais autodidacta do que com uma formação profissional sólida, e que por isso "gosta" de gadgets e não sabe viver sem eles. Mais: está convencido de que são os gadgets que mudam as pessoas, numa visão tecnocrática típica, sem perceber que o modo como as pessoas os usam pode ou não ser vantajoso conforme as literacias prévias que possuam. » [Público assinantes]

Parecer:

Por Pacheco Pereira.

PS: Isto não é um artigo de opinião política, é um gemido de dor de corno.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Arquive-se.»

QUEM QUER UMA DEMOCRACIA MAIS MUSCULADA?

«"Há semanas assim lutuosas e tristes, em que os crimes e os desastres vêm de enfiada. Como contas de um rosário. Abre-se a medo um jornal, já quase na certeza de que, em grossas letras normandas sobre colunas de prosa compacta, virão anunciados algum cruel assassinato, a desgraça de uma família, o último horrível crime de um novo facínora famoso, imortalizado pela bestialidade", afirmava, com toda a actualidade, João da Câmara na edição de 20 de Setembro de 1898 da revista Occidente.

A criminalidade e a insegurança preocupam a nossa comunidade, mas a resposta a estas preocupações não pode ser uma resposta folclórica (como a do advogado que recentemente referia ser necessário estabelecer penas de 40 ou 50 anos de prisão como se isso fosse resolver fosse o que fosse) ou ainda a defesa do retorno aos tempos da aplicação preventiva como regra e não como excepção. Nesse aspecto, e até porque o Presidente da República pediu que fossem ouvidos os que aplicam a lei, não podemos deixar de divulgar as palavras do juiz-conselheiro Eduardo Maia Costa que, no passado dia 15, num blogue [blogsinedie.blogspot.com] escrevia o seguinte: "De repente o país acordou cheio de saudades dos tempos em que as cadeias abarrotavam de presos preventivos. Que bom que era! Quase não havia criminalidade! Os maus ficavam presos logo que eram apanhados e já só saíam depois de cumprida a pena que, nesses bons tempos, durava sempre dezenas de anos, arredando da sociedade os malfeitores. É esta a 'narrativa' que por aí passa. Mas o pior é que alguns magistrados com responsabilidades sindicais começam a 'recepcionar' essa mesma versão. A culpa, dizem eles, é da reforma de 2007, e da lei de política criminal, porque 'dificultam' a aplicação da prisão preventiva. Não estou minimamente de acordo. O diploma que dificulta extremamente a prisão preventiva é a Constituição, que, no seu artigo 28.º, estabelece que ela tem carácter excepcional (como todos os alunos de Direito sabem). O que está 'mal', pois, é a Constituição, e não a lei ordinária"...

Esta fina ironia do juiz-conselheiro aborda um dos aspectos mais paradoxais do conflito entre o poder político e o poder judicial: o sindicalismo judicial, para atacar o Governo que tem "afrontado" de diversas formas o poder judicial, decidiu acompanhar a onda revanchista e populista defendendo em público que é preciso reprimir mais e que, para isso, torna-se necessário alterar as leis deste Governo - no fundo, muscular a nossa democracia.

É triste, e mostra as limitações do sindicalismo dos juízes, que não haja capacidade de distinguir entre aquilo que é positivo e aquilo que é negativo em termos da nossa cidadania, nas reformas legais que se vão fazendo e que haja uma postura de guerrilha que se confunde com um corporativismo desfasado da realidade. Na verdade, os portugueses, em geral, confiam nos magistrados judiciais e seria bom que estes continuassem a ser conhecidos pelo seu rigor e independência, seja a julgar, seja nas suas intervenções públicas.

Porque ninguém se admira que os sindicatos dos professores não reconheçam que, das reformas feitas, algumas foram em evidente benefício dos alunos, das escolas e de todos nós. Toda a gente sabe, por exemplo, que a bandalheira das faltas sistemáticas dos professores dos ensinos preparatório e secundário terminou com a obrigatoriedade das aulas de substituição. Ora, no campo da justiça, seria bom que, por exemplo, quanto à questão da prisão preventiva, houvesse a capacidade sindical de dizer aquilo que o conselheiro Maia Costa disse.

Como é preciso que os magistrados que se pronunciam publicamente sobre as questões de justiça tenham capacidade para dizer que os processos criminais não podem, pura e simplesmente, ignorar a existência de prazos e que as vidas dos cidadãos, mesmo que suspeitos de práticas de crimes, continuam a ter valor. O Estado não pode ser todo-poderoso, tem é de ser mais eficiente.

Poderá entender-se que não faz sentido a reforma penal que não permite que o Ministério Público possa recorrer da decisão do juiz de instrução que não aplica a prisão preventiva a um suspeito por ser demasiado favorável ao arguido, mas o que dizer, por exemplo, quanto ao facto de, no sistema anglo-saxónico, a acusação pública não poder sequer recorrer no caso da absolvição de um arguido?

Aí entende-se que o Estado, com todo o seu arsenal, só tem uma oportunidade de fazer condenar um suspeito e caso o mesmo seja absolvido, não poderá ser julgado uma segunda vez, mesmo que seja no âmbito de um recurso. No nosso país, o Estado pode sujeitar um cidadão a um processo e a um julgamento criminal, vê-lo absolvido pelo tribunal de 1.ª instância e sujeitá-lo a um novo julgamento através de um recurso. Só no caso de o arguido ser absolvido na 1.ª instância e ver a sua absolvição confirmada pelo Tribunal da Relação, está o Ministério Público impedido de recorrer para o Supremo.

As questões da justiça são complexas e devem ser debatidas com sensatez, rigor e inteligência, sem prejuízo de terminarmos como começámos, com uma citação da revista Occidente, desta vez de Tito Gonçalves Martins em 1 de Janeiro de 1889: "Assim a situação política não tem sofrido sensíveis alterações, e as reformas que se fazem hoje desmancham-se amanhã para serem substituídas por outras que em seguida se condenarão, e n'este fazer e desmanchar, nesta tibieza das leis, não se sabe que mais admirar, se a fecundidade dos legisladores, se a inutilidade da maior parte das suas leis"...» [Público assinantes]

Parecer:

Por Francisco Teixeira da Mota.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

UM ARCAÍSMO

«Previsivelmente, com a crise financeira internacional o Partido Comunista Português redescobriu que o "socialismo" era uma "alternativa necessária e possível" ao horror e à miséria em que o mundo vive hoje. Uma tese do próximo Congresso, o XVIII, vai reafirmar isso mesmo e, melhor ainda, explicar com a autoridade que lhe assiste as razões do colapso da URSS e das "Repúblicas Populares de Leste". Isto - que parece pouco e quase cómico (se não fosse trágico) - basta para demonstrar o atraso cultural, político e económico do país. Não há na Europa nenhuma instituição remotamente parecida com o PCP e, no resto do mundo, só a China (não se percebe porquê), o Vietname, o Laos, Cuba e a Coreia do Norte merecem a aprovação da ortodoxia indígena.

A história passou, mas, significativamente, não passou por aqui. O PC está como estava em 1974. O colapso do "socialismo real" não o diminuiu, nem o fez tremer. A coisa, segundo o XVIII Congresso, foi um pequeno acidente de percurso: o resultado da "traição de altos responsáveis do partido e do Estado" (presumo que da URSS e não da Polónia ou da Checoslováquia); do "abandono de posições de classe e de uma estreita ligação com os trabalhadores"; da "claudicação perante a chantagem do Ocidente"; da "penetração em profundidade da ideologia social--democrata"; e "da rejeição do heróico património histórico dos comunistas". Por outras palavras, excepto por meia dúzia de erros, que não afectavam nada de essencial ou, mais precisamente, nada de material, o sistema funcionava.

O PC não sabe, ou já se esqueceu, que desde 1970-71 o Ocidente subsidiava o "socialismo real", em nome da estabilidade e da paz. Na véspera da catástrofe, em 1988, as "Repúblicas Populares", incluindo a Jugoslávia e tirando a Roménia, deviam ao Ocidente 95,6 biliões de dólares (a preços da época): uma quantia colossal, e sempre a crescer, com que financiavam o seu consumo interno. O problema é que, apesar dessa delirante estratégia, as populações de Leste continuavam numa situação de atraso e de pobreza relativa. Ironicamente, a perenidade do PC também assenta no atraso e na pobreza relativa dos portugueses, que nenhuma "modernização", "reforma" ou subsídio da "Europa" até agora conseguiu moderar ou eliminar. O PC não muda (ou não se extingue), porque a sociedade não muda ou, pelo menos, não muda o suficiente. É um arcaísmo? Talvez. Como Portugal.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Vasco Pulido Valente.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

PS RECORDA NEGÓCIO DO CITIGROUP

«Enquanto o ministro dos Assuntos Parlamentares, Santos Silva, acusou a líder do PSD de ter uma "obsessão" pela vida interna do PS, mais crítico, Marcos Perestrello, secretário nacional do PS para a organização do comício, atirou: "[O comício] custou milhões de vezes menos do que o prejuízo que Manuela Ferreira Leite causou com o negócio do Citigroup", uma operação efectuada em 2003, quando era ministra das Finanças. » [Correio da Manhã]

Parecer:

É uma pena que ao longo de quatro anos o PS tenha mantido este negócio em segredo, acabando por ser cúmplice do mesmo. Seria bom que os portugueses soubessem como foi feito e quanto tem custado aos contribuintes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Produza-se um relatório público sobre o negócio das dívidas vendidas ao Citigroup.»

QUEM FALOU EM AUMENTO DA CARGA FISCAL?

«Os portugueses pagam cada vez mais impostos às câmaras: só em 2007, segundo dados da Direcção-Geral das Autarquias Locais (DGAL), os municípios cobraram a cada munícipe uma média de 235 euros, um aumento de quase 26 por cento face ao ano anterior e uma subida brutal de 24,5 por cento em relação ao acréscimo registado de 2004 para 2005. A Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) já contestou os dados da DGAL e garante que as verbas foram investidas no próprio município.» [Correio da Manhã]

Parecer:

Um aumento de 26% da carga fiscal promovida pelos municípios é mesmo obra.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Divulguem-se as contas dos municípios.»

UMA SITUAÇÃO MUITO ESTRANHA

«Segundo revelou terça-feira o jornal Público, terá sido Pedro Martins a assinar - com base numa portaria assinada mas anulada pelo secretário de Estado da Educação, Valter Lemos - os certificados de equivalência que permitiram melhorar "até dois valores" as médias de vários alunos de colégios estrangeiros, como o St. Julian's ou o Frank Carlucci American International School of Lisbon. Uma situação que levou à abertura de um inquérito na Inspecção-Geral de Educação (IGE). Agora, parece confirmar-se que o GAJURCE também nada fez para avisar a DGES sobre o facto de estas equivalências serem inválidas. » [Diário de Notícias]

Parecer:

Um director de serviços altera as médias de acesso ao ensino superior com base numa portaria anulada?

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao ministério da Educação se já abriu o competente processo disciplinar.»

DESTA VEZ A MANUELA TEM RAZÃO

«A presidente do PSD deixou, na noite de quinta- -feira, em Braga, um conselho aos empresários que têm o Estado como cliente: "Se tivesse que lhes dar algum conselho, diria para se afastarem, que não esperem nada dele a não ser o que lhe é exigível". Ou seja, explicou Manuela Ferreira Leite, "boa justiça, segurança - algo que está a fraquejar". E advertiu: "Cada vez que o Estado faz um investimento com crédito, está a encarecer o crédito para as empresas e famílias, porque o torna mais escasso e caro".» [Diário de Notícias]

Parecer:

Quem pode confiar no EStado quando um ministro das Finanças pode reter abusivamente os reembolsos du IVA com o argumento da fraude, para os usar com o objectivo de ajeitar as contas públicas e fazer propaganda dizendo que já havbiam sinais de retoma? Manuela Ferreira Leite sabe melhor do que ninguém as práticas abusivas seguidas por alguns ministros das Finanças.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Elogie-se a sinceridade de Manuela Ferreira Leite.»

SANTANA LOPES QUER SER CANDIDATO A LISBOA

«Há dias, Santana Lopes afirmou ao DN que considera que "Lisboa é um projecto interessante" e ontem voltou a abrir o livro numa entrevista ao Diário Económico. "Sou candidato a Lisboa, se for, mas não serei ao País", disse Santana Lopes, deixando cair que o processo de alegado favorecimento na atribuição de fogos de habitação social, onde será constituído arguido, não o faz recuar: "As pessoas só devem ver os seus direitos cerceados por sentença transitada em julgado".» [Diário de Notícias]

Parecer:

Era de esperar, já deve estar a precisar de emprego.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se pela resposta de Manuela Ferreira Leite.»

CDS PREOCUPADO COM A SEGURANÇA DOS PORTUGUESES NA VENEZUELA

«O deputado Hélder Amaral - em requerimento ao Ministério dos Negócios Estrangeiros - lembra que desde Janeiro já morreram dez portugueses. Neste quadro o CDS-PP quer saber que medidas tenciona o executivo português para "repor a segurança e a protecção dos cidadãos portugueses que vivem e trabalham na Venezuela", tendo o deputado frisado que para além dos emigrantes assassinados existe também um sério problema com um elevado número de sequestros.» [Diário de Notícias]

Parecer:

Pela forma que o CDS coloca a questão até parece que a solução é mandar a GNR para a Venezuela.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se ao CDS que soluções sugere e porque não propõe medidas idênticas para, por exemplo, a África do Sul.»

A "SANTA CASA" DA CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA

«O director do Departamento de Apoio aos Órgãos Municipais, que integra a presidência da Câmara de Lisboa, recebeu há 19 anos uma casa cedida pelo então autarca Krus Abecassis. Há sete anos que não vive lá. Esteve mais de um ano sem pagar os 95 euros mensais de renda pelo apartamento T1 em Telheiras e, por isso, o executivo camarário chamou-lhe a atenção. Em carta ao então presidente da Câmara, Santana Lopes, pediu desculpas pessoais, confessou “a dívida” e o “constrangimento” pela situação e colocou o lugar à disposição.

A demissão foi aceite. Mas a casa não foi devolvida. Hoje, José Bastos é de novo director daquele departamento e na casa da Câmara mora agora o seu filho. O director tem razões para achar que não está a abusar, tanto mais que, no andar de cima, também mora o filho de uma outra dirigente da Câmara. Isabel Soares, actual membro da equipa do número dois da autarquia lisboeta, Marcos Perestrello, recebeu uma casa de ‘renda técnica’ há 18 anos. Há cerca de quatro anos pediu a opção de compra do apartamento por 10 mil euros. A então vereadora da Habitação, Helena Lopes da Costa, analisou o processo, classificou-o de “escandaloso” e recusou. Ao DN, Isabel Soares assume que o filho “está lá à luz do que é permitido”.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Eis que descobrimos mais um abuso à conta dos munícipes de Lisboa.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Corrija-se esta vergonha.»

MARQUES MENDES: MELHOR ESCRITOR QUE LÍDER PARTIDÁRIO

«Passaram quase vinte anos desde que Marques Mendes foi ministro da Comunicação do cavaquismo, mas é como se fosse ontem: gerir a relação com os «media» deve ser como andar de bicicleta e poucos saberiam transformar o lançamento de um livro num pretexto para aparecer todos os dias nos jornais - a introdução, hoje, aqui; um capítulo, amanhã, ali; outro, depois de amanhã, acolá. Além de quatro entrevistas em dois dias, uma à ‘Sábado’, outra ao Rádio Clube, outra à RTP, outra à TSF.

Em boa verdade, Mendes ofuscou (com propostas concretas para mudar o país) o PSD de Ferreira Leite durante duas semanas e o aviso que deixou no superconcorrido Museu da Electricidade, em Lisboa, onde os directos televisivos se atropelaram, não será a brincar: “Este livro não tem nada a ver com o passado, tem a ver com o futuro”. Para Marcelo Rebelo de Sousa, Mendes “vai voltar”.» [Expresso assinantes]

Parecer:

Na mesma semana em que Marques Mendes brilhou e não faltavam motivos para uma boa intervenção política Manuela Ferreira Leite (deve ter preferido seguir o conselho de JPP) e optou por falar da ostentação no comício do PS.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se a Manuela Ferreira Leite como se sentiu, ainda mais apagada do que os costume.»

SALDANHA SANCHES DEFENDE VEREADORA DA CML

«A entrega de habitações a quem delas não necessitava pela Câmara de Municipal de Lisboa (CML) ao longo das últimas duas décadas pode configurar um sistema do tipo "saco azul" baseado "no tradicional critério do compadrio", admite Saldanha Sanches, mandatário financeiro de António Costa na campanha eleitoral da cidade. O fiscalista entende que o presidente da CML devia demitir a vereadora da Acção Social, Ana Sara Brito, que se descobriu ter beneficiado de uma casa camarária de renda baixa no centro de Lisboa, na Rua do Salitre, durante os últimos 20 anos.» [Público assinantes]

Parecer:

Isto começa a ter graça, a Maria José Morgado investiga ao mesmo tempo que o marido propõe as demissões.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se o espectáculo.»

O JUMENTO NOS OUTROS BLOGUES

  1. O "Largo das Alterações" alerta-me para uma notícia que escapou ao mesmo tempo que manifesta a sua desilusão porque "que nos últimos tempos [O Jumento] se têm dedicado a um cego e cerrado ataque a Ferreira Leite, com um ódio incompreendido e mesmo toldante e debilitador da racionalidade que lhes era característica e apreciada".

    Caro amigo, quando à minha simpatia em relação a Manuela Ferreira Leite tem toda a razão menos quanto à irracionalidades, a minha falta de confiança na senhora e nalguns dos seus afilhados não tem nada de irracional.

    Quanto à proposta do PSD não a conheço em pormenor, ainda que desconfie de tudo o que seja maiores poderes para o Ministério Público. Só tenho a lamentar o fim do pacto da justiça no quadro do qual faria sentido analisar estas propostas.
  2. O "Café Margoso" já foi comprar umas das novas notas de dólar.

AS MELHORES IMAGENS CIENTIFICAS DE 2008 [Link]

GEISER NA ISLÂNDIA [imagens]

MURAT SUYUR

A ARMA DAS FUTURAS FORÇAS ARMADAS DA MADEIRA

EQUILÍBRIO

ACÇÃO ANIMAL