É muito interessante observar como os que a todo o custo tentaram influenciar os magistrados do Caso Freeport no sentido de arrolarem Sócrates como testemunha estão agora a tentar branquear o negócio accionista de Cavaco Silva. Trata-se de um negócio em que segundo disse o próprio Cavaco Silva não houve qualquer contrato e de que se conhecem apenas as cartas do candidato presidencial e da filha solicitando a Oliveira e Costa que procedesse à venda das acções.
Se estivéssemos perante um negócio realizado em bolsa ou uma aplicação num fundo de investimentos de um banco, mesmo que fosse do BPN, não se justificaria fazer qualquer comentário. Mas não foi assim e os felizardos investidores ganharam muito mais do que pode ser aceite como um lucro razoável, os 145% de lucro que obtiveram comprando e vendendo acções de um grupo falido são motivo suficiente para que se suspeite de que quem comprou e vendeu as acções fez um favor de amigo prejudicando a entidade que ficou com as acções, ou então algum investidor amigo comprou as acções a um preço exagerado sabendo que o se prejuízo era o lucro da família Silva.
Se o negócio tivesse sido realizado no BES com a intervenção do seu presidente ainda que moralmente reprovável não deixaria de ser um problema do BES, dos Silvas e do Ricardo Salgado, poderia ser entendido com uma boa acção ou como um subsídio à conhecida família. Mas o negócio foi realizado através do BPN e se foi este banco a comprar as acções por um preço que não valiam estamos perante uma fraude que beneficiou o candidato Cavaco Silva e família, uma fraude que como muitas outras realizadas a coberto da gestão do BPN irão ser pagas com língua de palmo pelos portugueses, principalmente os mais pobres, os tais de cuja existência nos dizem que devemos estar envergonhados.
Se o lucro de 145%, uma taxa mais própria de uma dona Branca ou de um negócio de droga, se traduziu num prejuízo para o BPN isso significa que uma parte da riqueza da família Silva foi conseguida graças a um negócio pouco transparente e que ao traduzir-se em prejuízo para o BPN vai ser suportado pelos portugueses. Recorrendo ao exemplo do leite muito usado pela direita para criticar as propostas de alteração das taxas do iva na proposta de OE, diria que há gente sem dinheiro para comer que quando compra um litro de leite está a dar 8% ao Estado para que este possa cobrir o prejuízo dado pelo negócio de acções da família Silva.
Um Presidente da República deve estar acima de qualquer suspeita e neste negócio há motivos de suspeita, assim sendo Cavaco Silva deve mostrar a todos os portugueses que não obteve lucros indevidos num negócio menos transparente. E estou a ser muito simpático pois se fizesse como muitos que comentaram o Caso Freeport estaria a exigir ao Procurador-Geral da República que investigasse o negócio.