Como era de esperar Cavaco recusou-se a dar explicações sobre os seus negócios colocando-se acima dos portugueses e apostando numa vitória eleitoral como prova da sua honestidade. Para Cavaco o português comum é julgado nos tribunais enquanto os políticos são julgados em eleições, como se os eleitores tivessem sido empossados no estatuto de juízes.
Ao apostar na vitória numa primeira volta Cavaco pretendeu retomar o estatuto de presidente no pressuposto de que com a cobertura da dignidade institucional do cargo põe fim ao escrutínio da regularidade dos seus negócios. Vivemos num país em que são os cargos que dignificam as pessoas e não estas que dignificam os cargos, na nossa história não são raros os casos em que a justiça aguarda pelo fim dos mandatos para actuar, até com dirigentes desportivos isso já sucedeu no passado.
O facto é que os negócios de Cavaco Silva suscitaram dúvidas que ele se recusou a esclarecer, dúvidas que são adensadas pelo facto de alguns dos seus parceiros de negócios terem sido os responsáveis pela maior fraude financeira na história de Portugal, e porque alguns dos benefícios financeiros obtidos por Cavaco Silva terem em comum com essa fraude a mesma fonte de dinheiro.
O Cavaco reeleito nestas presidenciais tem menos credibilidade do que o foi eleito há cinco anos, depois de um mandato medíocre manchado por episódios obscuros como o das escutas a Belém recusou-se a prestar os esclarecimentos necessários para dissipar quaisquer dúvidas quanto à sua honorabilidade. Pior, desculpou-se de forma ridícula, chegando ao ponto de se armar em mísero professor ignorante em mercados financeiros ou de um ignorante em negócios onde só assinava os cheques.
A máquina de Belém e as vastas influências do cavaquismo institucional poderão calar uma boa parte da comunicação social o que, aliás, já sucedeu na segunda semana da campanha. Até poderá levar a justiça a fazer vistas largas, a mesma justiça que se deu ao trabalho de investigar coisas tão delituosas como as licenças de construção da autarquia da Covilhã ou um diploma da Independente. Mas dificilmente silenciará toda a comunicação e muito menos este poderoso instrumento de comunicação que é a internet.
Cavaco ganhou as presidenciais mas sofreu pesadas derrotas, não viu o seu mandato legitimado com o voto esmagador que as falsas sondagens previam, a sua honradez foi questionada sem que a tivesse sabido defender, teve menos votos do que nas eleições anteriores, foi o presidente reeleito com menos percentagem e com menos votos, deixou de estar acima de qualquer suspeita.
Cavaco teve uma amarga vitória.