Há menos de um ano ninguém sabia quanto devia Portugal ou como funcionavam os mercados financeiros, os economistas apareciam de vez em quando para chatear os telespectadores para falar dessas acções com nomes esquisitos em inglês, que nem um mísero professor doutorado em York e que foi ministro das Finanças sabe muito bem o que é. Agora, tudo quanto é gato pingado se tornou especialista no famoso mercado secundário, os leilões de dívida pública são tão vulgares nas notícias da manhã quanto os boletins meteorológicos e os que perdiam o sono para tentar conhecer o novo namorado da Lili Caneças sustêm a respiração para saberem qual o juro da dívida pública portuguesa, já prestam mais atenção Às agências de rating do que aos devaneios, pequenas luxúrias e tragédias do jet set de pés descalços que por cá temos.
Falo sobre a vinda do FMI com um amigo, um jovem da JSD formado na universidade de Castelo de Vide, que me garante com ar circunspecto de quem sabe muito da coisa que a vinda do FMI, quase me avança o dia da desejada invasão. Aliás, todos os militantes do PSD são neste momento altos especialistas em finanças públicas e sabedores dos meandros do poder financeiro, designadamente, do fundo europeu e do FMI.
Os tablóides até já deixaram de meter tudo quanto é cadáver na primeira página, o próprio colega assassinado em Nova Iorque foi reduzido a cinzas muito antes das cerimónias fúnebres, agora os tablóides informam quanto é que deve cada português ao estrangeiro, quanto é que foi a taxa de juros nas últimas operações no mercado secundário. Os especialistas em espreitar os segredos de Lili Caneças foram reconvertidos à pressa em especialistas financeiros.
Talvez tenha sido por haver excesso de economistas capazes de aconselhar o governo que Cavaco Silva decidiu desvalorizar os seus conhecimentos de economia, reduzindo-se à condição de mísero professor e optando por exibir os seus conhecimentos de fruticultor algarvio.