Um bom exemplo da transposição da lei de Gresham, em tempos utilizada por Cavaco Silva para enterrar Pedro Santana Lopes, é-nos dada pelas actuais eleições presidenciais, à direita a candidatura de Cavaco Silva inibiu qualquer outra candidatura e à esquerda sucedeu o mesmo com a candidatura de Manuel Alegre.
Há em Portugal personalidades de direita de maior dimensão política que Cavaco Silva mas as suas ambições presidenciais inibiram a apresentação de qualquer outra candidatura nos últimos quinze anos. Há também candidatos mais consensuais e habilitados do que Manuel Alegre na esquerda mas os jogos de alianças e a chantagem sobre o PS impediram este partido de reflectir sobre as presidenciais e de escolher um candidato capaz de garantir uma vitória sobre Cavaco Silva.
O cavaquismo à direita e o alegrismo à esquerda são um bom exemplo de como a lei de Gresham pode ser aplicado à vida política, provavelmente de forma mais clara do que quando Cavaco Silva a usou para tentar tirar Santana Lopes do caminho. A verdade é que nem Santana Lopes o impediu de cumprir a sua velha ambição de imitar o percurso político de Mário Soares. Alegre fez no PS o mesmo que Cavaco fez no PSD ainda que de forma menos pacífica pois, ao contrário do que sucedeu no PSD, foi lançada a ameaça de cisão do partido, ameaça nunca assumida por Manuel Alegre mas mantida viva por muitos dos seus apoiantes.
O resultado é aquele a que estamos a assistir, num momento de crise nacional o país a escolher entre más moedas, com os dois principais candidatos mais preocupados com o seu lugar na história política do país do que com os problemas nacionais. O debate tem sido substituído por baboseiras, no caso de Cavaco por baboseiras económicas, enquanto de Alegre saem baboseiras ideológicas.