Depois de uma manifestação com ares de ter sido encenada, onde os pais de escolas privadas financiadas pelo Estado dirigiam o SOS a Cavaco, eis que a campanha nos trouxe uma nova imagem de Cavaco Silva, o economista sem medo. Uma qualquer senhora esganiçada desafiava o candidato a não ter medo de Sócrates e o candidato presidente em vez de elevar o nível optou por responder ao desafio da provocação e responder que era por isso que ele estava aí. Depois da asfixia e das escutas a Belém eis eu que Cavaco encontra mais um argumento político a seu favor, depois do general sem medo em luta contra a ditadura temos um economista também sem medo em luta contra o Sócrates, só nos resta esperar ouvir Cavaco dizer que “obviamente demito-o”, se é que isso é mesmo necessário.
Aliás, é do medo que se fala nesta campanha, primeiro foi o medo de Cavaco de explicar todos os contornos da sua experiência accionista na SLN, designadamente, os intervenientes no negócio e algo que poucos questionaram, se a operação foi financiada com as suas poupanças ou pelo próprio BPN e a que taxa de juro. Bastou mais uma notícia especulativa sobre uma eventual vinda do FMI para que Cavaco deixasse de ter medo do BPN e passasse a explorar o medo do FMI.
O FMI ainda não salvou o país mas mesmo sem lhe terem pedido ajuda acabou por salvar a candidatura de Cavaco Silva, agora o debate já não se centra na figura dos candidatos mas sim na responsabilidade política por uma eventual vinda do FMI. Foi nestes termos que um Cavaco candidato fala em campanha como Cavaco presidente para colocar a responsabilidade política por um pedido de ajuda no governo, para se eximir de quaisquer responsabilidades até assume a postura de um presidente colaborante que pede que ajudem o governo.
Não houve mudança de estratégia, se quando se sentiu em dificuldades com o caso BPN Cavaco tentou branquear os crimes dos seus velhos amigos, agora tenta fugir a quaisquer responsabilidades políticas e sacode a atenção para o governo. É por isso que ataca o governos sempre que surge a oportunidade, como foram os ataques desferidos no domínio da PAC quando se sabe que o seu governo foi tão fraudulento no domínio da agricultura como o foi a gestão de Oliveira e Costa no BPN, ao fim de dez anos de governo muitos enriqueceram com as ajudas comunitárias e no fim os símbolos dessa época são as terras de Odemira intoxicadas por Thierry Russel e a beterrabeira que agoniza em Coruche, dois autênticos BPN agrícolas.
Se nas eleições legislativas se questiona o desempenho do governo cessante, nas eleições presidenciais deveríamos estar a avaliar o carácter e o desempenho presidência que Cavaco Silva teve nos últimos cinco anos. É isto que Cavaco quer evitar a todo o custo e está a conseguir evitar com a ajuda de candidatos como Fernando Nobre e Manuel Alegre, o primeiro faz discursos patéticos e o segundo é um pateta ao sugerir que se interrompa a campanha que que Cavaco vá pela Europa salvar Portugal, mais um pouco e Alegre ainda propunha que Cavaco fosse empossado antes das eleições para melhor poder ajudar Sócrates.