segunda-feira, janeiro 10, 2011

Campanha trágica

A campanha eleitoral das presidenciais começa da pior forma, Manuel Alegre faz o “v” com a mão direita e o punho cerrado com a esquerda, Cavaco Silva põe em cima do automóvel para ouvir “sos” gritado por uma manifestação encenada e Fernando Nobre discursa dizendo banalidades com voz de falsete enquanto Catalina Pestana assume a liderança como se estivesse numa reedição do processo Casa Pia.

Quanto a projecto e ideias para o futuro nada, Cavaco diz que vai salvar o país recordando pequenas vitórias dos dez anos em que foi primeiro-ministro e critica o actual governo ignorando que aquilo que agora critica foi precisamente o que fez. Ele que num dos últimos actos de gestão enterrou milhões numa fábrica de açúcar de beterraba que agora agoniza critica a perda de ajudas comunitárias, ele que promoveu uma política agrícola que em poucos anos reduziu a população agrícola a quase ninguém depois de ter transformado os agricultores num exército de serventes de pedreiro nas suas obras públicas, vem agora acarinhar o sector que desprezou, ele que se limitou a tudo fazer para que o aeroporto de Lisboa se mudasse da Ota para Alcochete vem agora dizer que sempre disse que não havia dinheiro.

Alegre revela-se patético, fala dos mercados financeiros como se estivesse a liderar uma manifestação contra a presença de um porta-aviões nuclear no Tejo, em vez de apontar soluções para um problema que existe esquece que o estado social que defende tem sido alimentado por dívida pública e luta contra uma conspiração dos mercados contra a soberania nacional.

Fernando Nobre assume-se como virgem da política portuguesa e acusa os outros de todos os males e garante que é ele que vai defender aquilo que existe, precisamente o modelo social e económico que se deve aos seus adversários e aos partidos políticos que os apoiam. Para nos tranquilizar quanto à bondade dos seus propósitos não arranjou melhor personalidade do que Catalina Pestana.

Quanto ao futuro do país é um vazio de ideias, todos os candidatos vivem da eventual vinda do país, Cavaco deseja-a para a utilizar na sua luta pelo poder ao mesmo tempo que se assume como sendo o único que poderá salvar o país de tal desgraça. Para Alegre a vinda do FMI é mais ou menos o mesmo que a invasão de Portugal pelos bárbaros endinheirados. Fernando Nobre não sabe muito bem o que o é o FMI mas garantes que se este vier a culpa é dos outros.

Entretanto, enquanto os candidatos se vão arrastando pelo país os portugueses lá vão esperando notícias de Nova Iorque onde um “amor à primeira vista” entre um senhor de 65 anos e um jovem de 21 acabou num homicídio macabro, aquilo que muito boa gente do nosso jet set era digno de um musical da Brodway acaba de forma trágica e com os nova-iorquinos a engolir as cinzas de uma tragédia lusa.