A forma como muitas personalidades encaram um eventual “ajuda” ao FMI diz bem das vocação de pedintes que se instalou neste país onde a busca por dinheiro se transformou numa vocação colectiva. Pede-se ajuda ao FM para resolver o problema da dívida externa e, de caminho, para fazer o que a oposição não tem conseguido, pede-se ajuda à FIFA para se alterarem os estatutos da FPF, pede ajuda a estudos externos para aprovar ou desaprovar políticas governamentais.
Há quem fale no risco de perda da soberania mas ninguém questiona a perda de dignidade em toda esta pedincha internacional em que se está a transformar a vida política portuguesa. Recordo-me a este propósito de uma famosa visita de Manuela Ferreira Leite a Merkel, a pobre líder do PSD pretendia uns segundos de televisão para promoção pessoal e acabou a ter que dar a palavra de honra de que tinha sido recebido pela chanceler alemã. Senti pena pelo espectáculo da então líder do PSD, estava tão preocupada em provar que tinha sido recebida por Merkel que nem se apercebeu da falta de dignidade de que estava a dar provas.
Os mais de 5% de juros cobrados pelo FMI e pela EU à Grécia e à Irlanda não é propriamente uma ajuda, são poucos os investimentos financeiros que conseguem tal rentabilidade. E os 7% que Portugal está a pagar é quase tanto ou mesmo mais do que na Europa se exige por um crédito para a compra de um automóvel. Por isso não entendo porque a Junta de Crédito Público paga aos que lá colocam as poupanças e depois o mesmo Tesouro vai ao mercado adquirir dinheiro a 7%. Isto significa que o melhor que os portugueses têm a fazer é colocar as suas poupanças em mercados estrangeiros para depois comprar dívida portuguesa a um juro várias vezes maior do que aquele que o tesouro lhes paga em Portugal.
Começa a ser tempo de os portugueses perceberem que são eles que podem e devem ajudar o país, devem fazê-lo das muitas formas que têm ao seu alcance, sendo melhores governantes, sendo melhor Presidente da República, sendo melhores empresários, sendo melhores trabalhadores, sendo melhores naquilo que cada um faz.
De nada nos serve andar a pedir ajuda para pagar as dívidas do Estado enquanto o Banco de Portugal se esquiva a cortes de vencimentos, o governo gere mal o fisco, os empresários se escapam aos impostos, os farmacêuticos roubarem nos medicamentos comparticipados, enquanto permitirmos que o país esteja sujeito a um saque colectivo.