segunda-feira, janeiro 10, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Gaio [Garrulus glandarius] no Jardim Gulbenkian, Lisboa

IMAGENS DOS VISITANTES

Mosteiro da Batalha [A. Cabral]

JUMENTO DO DIA

Pedro Passos Coelho

É lamentável que Passos Coelho aposte agora na vinda do FMI para chegar ao poder, isto depois da comissão parlamentar de inquérito à TVI e da chantagem sobre a aprovação do orçamento.

«Percebe-se o cuidado. O presidente do PSD, que as sondagens vão insistentemente colocando como favorito a primeiro-ministro se umas eleições pudessem vir a ocorrer brevemente, está a gerir milimetricamente o discurso e não quer intrometer-se em demasia numa campanha que lhe não diz respeito. A estratégia é clara desde o primeiro dia e visa o poder executivo. Nesse âmbito, quer explicar como o PSD está preparado para assumir o poder, mas também quer deixar claro que não tem qualquer pressa. Ele e o seu partido estão aqui se os portugueses precisarem e se o Governo de José Sócrates falhar. Neste caso, "falhar" significa a entrada do FMI em Portugal. Nessa eventualidade, fica explícito que o PSD defenderá que o Governo tem de mudar, e num outro quadro parlamentar. Eleições, portanto.» [DN]

NÃO FALEM MAL DOS MERCADOS!

Quando Cavaco Silva apela aos políticos portugueses que critiquem o mercado financeiro está a referir ao da dívida soberana portuguesa ou a um outro onde uns amigos lhe vendem acções a preços de favor e quando as coisas dão para o torto alguém o avisa de que é o momento de vender e um amigo duvidoso fixa um preço de venda generoso?

O ROTEIRO DO FADO

Nos roteiros presidenciais há um que não é referido, é o roteiro do Fado onde aparece constantemente a fadista Kátia Guerreiro que durante o mandato presidencial quase teve o exclusivo artístico da Presidência da República:

1. Nova Delhi

«No último dia da sua estada em Nova Delhi, no âmbito da visita de Estado à Índia, o Presidente da República e a Dr.ª Maria Cavaco Silva ofereceram um concerto de fado e um jantar português a convidados indianos e aos membros da comitiva que os acompanha.

Katia Guerreiro cantou várias canções do seu repertório de fado, a que se seguiu um jantar no hotel que serviu de residência oficial ao casal Cavaco Silva.» [Presidência]

2. Istambul

«O Presidente da República ofereceu, em Istambul, ao seu homólogo turco e a Hayrunisa Gül um jantar, que foi antecedido por um concerto de fado, com Katia Guerreiro.» [Presidência]

3. Osnabrück

«Ao concluir a sua Visita de Estado à Alemanha, o Presidente da República manteve, na cidade de Osnabrück, um encontro com a Comunidade Portuguesa na Alemanha.

O encontro foi antecedido por um concerto de fado com a fadista Katia Guerreiro, após o que o Presidente Aníbal Cavaco Silva se dirigiu à Comunidade Portuguesa residente no país.» [Presidência]

4. Berlim

«A concluir o segundo dia da Visita de Estado à Alemanha, o Presidente da República participou num jantar de promoção de Portugal, que contou com uma apresentação multimedia do país, com especial incidência nas áreas do turismo e da energia.

Após o jantar, seguiu-se um concerto de fado com a actuação da fadista Katia Guerreiro.» [Presidencia]

5. Viana do Castelo

«O poeta Pedro Homem de Mello foi homenageado no Teatro Sá de Miranda, em Viana do Castelo, com um concerto em que actuaram a cantora Kátia Guerreiro, a Orquestra Sinfónica da Escola Profissional de Música da cidade, dirigida pelo maestro Rui Massena, e a que assistiu o Presidente da República, no âmbito das Comemorações do Dia de Portugal.» [Presidência]

6. Funchal

«O Presidente da República e a Dr.ª Maria Cavaco Silva assistiram, na capital madeirense, ao Concerto Comemorativo dos 500 Anos da Cidade do Funchal, que contou com a actuação da Orquestra Clássica da Madeira e, também, da cantora Kátia Guerreiro.» [Presidência]

7. Goa

«O Presidente da República assistiu à assinatura de um protocolo entre o Instituto Camões e a Universidade de Goa, inaugurou uma exposição de fotografia de Graça Sarsfield e ofereceu uma recepção a autoridades e personalidades de Goa, durante a qual a fadista Katia Guerreiro realizou um concerto.» [Presidência]

Os cuidados de Cavaco Silva não se ficam pela sua carreira artística, a cantora e os seus músicos até beneficiaram de uma boleia presidencial quando os aeroportos estavam encerrados devido às cinzas do vulcão islandês Eyjafjallajokull. Kátia Guerreiro não viajava com Cavaco mas pelos vistos deu para trocarem uns telefonemas e a cantora resolveu o problema.

«No domingo, dia 18, o Presidente e a Dra. Maria Cavaco Silva partiram de automóvel para Barcelona, tendo com eles viajado a Ministra da Saúde, Dra. Ana Jorge, que estava retida em Estrasburgo, enquanto a comitiva, ainda de autocarro, rumou à mesma cidade agora também com a presença da fadista Katia Guerreiro e dos seus músicos, que tinham participado, em Lille, França, num evento no âmbito das comemorações do centenário da batalha de La Lys.» [Presidência]

ÀS VEZES, A FAMA CHEGA. MESMO!

«A culpa, se calhar, é dos dicionários: "fama" e "sucesso" vêm antes de "trabalho". E é essa a ordem de factores que é apregoada pelas televisões. "Em directo da casa mais famosa do país...", e mostra-se gente que não sabe nada, que não viveu nada e que de sentimentos só conhece a versão lambisgóia. "És o ídolo de Portugal!", grita um imberbe para outro imberbe, num desses concursos de caça-talentos em que o protagonista nem entende, apesar de anunciado, o papel que lhe destinam: ser caçado. Na noite da apoteose, Portugal chama com valor acrescentado e faz do miúdo um famoso. Assim, num repente. Com a plateia de pé, os colegas fracassados aos abraços apertados (alguém tem de fracassar para servir de pedestal), os pais a chorar de orgulho. Famoso. No dia seguinte, já há clube de fãs. O Facebook explode de amigos. Millôr Fernandes poetou sobre isso: "Na tela/ Em cada programa/ Notoriedades da hora/ Desconhecidos de ontem/ Famosíssimos de agora." Famoso. Ainda sem saber de quê, nem se interessando porquê, mas já conhecendo as regras: agarrar-se aos holofotes e, sobretudo, a quem detém as luzes dos holofotes. Famoso. Os mais sortudos saberão em breve como a condição é efémera. Os mais infelizes descobrem-se, um dia, mesmo famosos: aparecem nas primeiras páginas dos jornais, até de Nova Iorque. » [DN]

Parecer:

Por Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

BPN?! ESTÁ PARA NASCER

«Só faltava ver Cavaco guardião do Estado Social de Alegre. E Alegre, preguiçoso e anestesiado, impotente para dizer o óbvio: é a família política de Cavaco que deseja um outro Estado Social. E bem, ao contrário da ilusão que Cavaco finge transformar numa convicção.

Para ganhar, Cavaco é capaz de tudo. Sempre assim foi - mesmo quando, sem hesitar, alimentou o "monstro" do Estado com uma progressão automática e comprou uma maioria absoluta.

Cavaco é capaz do pior e tem tido sorte. Agora usa a credibilidade de António Horta Osório, seu apoiante, para virar o bico ao BPN. Esqueçam o que se passou para ser possível comer dois mil milhões de euros ao contribuinte; esqueçam que existiu a entourage capitaneada por José Oliveira e Costa e fraudes como o Banco Insular; esqueçam que Manuel Dias Loureiro foi obrigado a deixar o Conselho de Estado; esqueçam que Cavaco existe no BPN. O problema está na gestão da Caixa. Ou melhor: o azar é não ter sido Horta Osório a pegar no BPN. E, naturalmente, virar o bico ao buraco. Não acreditam? Perguntem aos ingleses.

Cavaco é um mestre do ilusionismo e o povo compra - sobretudo quando encontra pela frente um adversário mal preparado como Manuel Alegre. Alegre perdeu o debate nos primeiros minutos e poderia tê-lo ganho. Bastaria ter tido a coragem de confrontar o adversário com o que agora descobriu ser um filão de campanha.

Cavaco sabia que o BPN era, e é, um calcanhar de Aquiles. Na campanha das últimas legislativas deixou perceber o embaraço quando se recusou a esclarecer a questão que volta agora a persegui-lo: como explicar a mais valia, realizada em tempo útil, com acções do universo BPN.

Perdura o mau estar quando Cavaco insiste na nuance da meia verdade: "nunca comprou ou vendeu nada ao BPN". Pois não. Comprou à SNL, a holding que detinha o banco. Só não se sabe a quem vendeu.

E essa é, quer Cavaco queira quer não, uma questão relevante. Sobretudo quando os seus adversários políticos exigem saber quem as comprou - alimentado a dúvida se o comprador terá sido a SNL ou o próprio Oliveira e Costa.

Cavaco sabe que a questão é séria e o fragiliza. Presente que não está em causa uma vitória previsível, mas sente que poderá afectar a forma e a dimensão do resultado e, consequentemente, limitar uma "magistratura activa".

É neste quadro, triste, que ressurge o "Mourinho" de 2006, também ele triste. Alexandre Relvas, que desta vez tinha ficado de fora, foi chamado de emergência para apagar o fogo.

E o que diz Relvas? Garante que o cidadão Cavaco Silva é impoluto e paga todos os impostos. Já sabíamos ou presumíamos. Mas essa não é a questão em jogo e Relvas sabe-o, senão não teria voltado.

Voltou para publicitar o campeão da honestidade, o slogan do antídoto - o próprio Cavaco diz que é preciso alguém nascer duas vezes para ser mais honesto do que ele.

Para se safar Cavaco Silva é capaz de tudo. É verdade que para se chegar ao seu nível é preciso nascer duas vezes. Perguntem a Fernando Nogueira.» [Diário Económico]

Parecer:

Por Raul Vaz.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se.»

EMPRESA QUE FEZ O NEGÓCIO DE ACÇÕES DE CAVACO ERA INSTRUMENTO DE O. COSTA

«A empresa SLN/Valor, que comprou as 105 378 acções de Cavaco Silva, era utilizada pelo antigo presidente do BPN José Oliveira Costa para controlar todo o grupo da Sociedade Lusa de Negócios, assim como para manter próximo de si um núcleo forte de accionistas que lhe permitisse manter o poder. Era através daquela empresa que Oliveira Costa controlava todo o grupo SLN.

Segundo alega o Ministério Público no processo de Oliveira Costa, a SLN/ /Valor "foi utilizada como forma de concentrar num núcleo accionista restrito a detenção de acções da SLN SGPS". Um objectivo, segundo os procuradores Rosário Teixeira e Manuel das Dores, que o próprio Oliveira Costa "divulgou perante os accionistas de referência através de carta datada de 26 de Março de 2003". Por isso não será de estranhar que, após ter recebido a carta de Cavaco Silva, a 23 de Novembro de 2003, a ordenar a venda das acções, Oliveira Costa tenha dado instruções para que as mesmas fossem adquiridas pela SLN/Valor. Sendo certo que a aquisição de acções por parte desta empresa era feita, em muitos casos, como realça o Ministério Público, através de débitos no Banco Insular de Cabo Verde, uma instituição que está no centro do chamado buraco financeiro do BPN.» [DN]

Parecer:

Um dia saberemos tudo sobre o BPN.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Espere-se.»

OLEG IGORIN