domingo, janeiro 30, 2011

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Juvenil de toutinegra-de-cabeça-preta [Sylvia melanocephala], Cidade Universitária, Lisboa

JUMENTO DO DIA

Pedro Passos Coelho

A Paulo Portas o líder do PSD diz que a questão das eleições não se coloca, mas, entretanto, fala da extinção de seis ministérios como se já tivesse sido convidado para primeiro-ministro. Ainda por cima opta por soluções ridículas como criar um ministério ingovernável resultante da fusão entre a Saúde e a Segurança Social ou insiste na fusão das Finanças com a Economia, uma solução que deu resultados desastrosos no tempo de Pina Moura.

Parece que agora temos um primeiro-ministro estagiário.

«Pedro Passos Coelho quer cortar no número de ministérios e políticos no Governo, se o PSD assumir o poder. De acordo com a edição de hoje do semanário Expresso, o líder dos sociais-democratas está a ser aconselhado a reduzir o número de gabinetes, de 16 para 10, em nome da racionalidade e da poupança.

A medida pode passar por juntar os Ministérios da Economia e das Finanças, acabar com o Ministério da Agricultura e juntar a pasta da Saúde com a da Segurança Social. » [Diário Digital]

O CAVACO GENUINO

Vale a pena ler o artigo do jornalista Paulo Moura com o título "Porque fez Cavaco um discurso vingativo" publicado no jornal Público, onde se reflecte sobre o discurso de vitória de Cavaco Silva. Todavia, parece-me que falta uma abordagem deste discurso que me parece reflectir o Cavaco genuíno, o Cavaco sem ter que lutar pela vitória, convencido de que esta lhe dá poderes ilimitados e sem que sejam os assessores a resfriar-lhe os ímpetos e acrescentarem valor ao seu discurso político.

Foi o discurso que correspondeu ao que Cavaco e familiares sentiram na noite das eleições, reunidos em família e assegurada a vitória deverão ter achado que os eleitores se tinham substituído as juízes inocentando Cavaco, dando-lhe ainda poderes que uma vitória pobre e uma constituição clara não permitem.

Se na história tivemos políticos vencedores maiores do que as suas vitórias que deixaram ao mundo discursos de grandeza como o da posse de Abraham Lincoln, também tivemos vencedores miseráveis de que a história tende a esquecer-se a não ser pelos seus actos. Há os grandes como Abraham Lincoln, mas também há os pequenos como Francisco Franco. Os grandes foram magnânimos no momento da vitória, os pequenos foram mesquinhos e vingativos para com os adversários derrotados. Cavaco Silva e o seu discurso de vitória está no segundo grupo.

Os grandes respeitam os adversários e não consideram as vitórias como um sinal de superioridade moral, recebem-nas com humildade. Os pequenos consideram-se engrandecidos pelas vitórias, têm um profundo desprezo pelos seus adversários derrotados, consideram que as vitórias, sejam eleitorais ou militares, comprovam a sua superioridade moral.

«Após o anúncio da sua vitória nas eleições presidenciais, o discurso de Aníbal Cavaco Silva surpreendeu todos pela falta de magnanimidade. Em vez de falar do futuro, o Presidente reeleito referiu-se com rancor aos ex-adversários. Porquê? Foi um deslize ou uma mensagem? Que consequências pode ter um discurso infeliz?Cavaco Silva só saiu de casa quando foram divulgados os resultados definitivos. Era o vencedor inequívoco e tranquilo de uma corrida de seis candidatos: obteve mais de 52 por cento dos votos, contra menos de 20 por cento de Manuel Alegre, o segundo candidato. Os seus adeptos (e, mais ainda, os adeptos das outras candidaturas) esperavam um discurso magnânimo, próprio de um chefe de Estado. A tradicional promessa de ser "o Presidente de todos os portugueses", depois de uma campanha por vezes agressiva, como são todas. Mas no domingo à noite Cavaco surpreendeu. Em vez de falar do futuro, remoeu as ofensas do passado.

Os outros candidatos fizeram uma campanha de "calúnias, insinuações e mentira", disse ele. "São os políticos e os seus agentes que preferem o caminho da mentira, das calúnias, dos ataques sem sentido." Mas "a honra venceu a infâmia". E logo a seguir, de uma varanda do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, o monumento que simboliza a governação cavaquista, acrescentou que a sua vitória nesta eleição foi a "da verdade sobre a calúnia". E desafiou os órgãos de comunicação social a revelarem "os nomes daqueles que estão por detrás" da "campanha suja".

A História está cheia de maus discursos. Alguns foram esquecidos, outros ficaram eternamente agarrados à reputação de quem os proferiu. Em Portugal, pensemos, por exemplo, no primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo. Ninguém se lembra que foi ele que preparou as primeiras eleições para a Assembleia da República. Mas quem se esqueceu do discurso em que, respondendo ao povo que lhe chamava fascista, disse "bardamerda para o fascista"?

Bill Clinton, nos EUA, teve discursos de tomada de posse memoráveis. Mas não tanto como aquele em que explicou, a propósito do seu caso com Monica Lewinsky, que sexo oral não era sexo. A respeito dos presidentes americanos, aliás, há quem edite colectâneas dos melhores discursos, mas também dos piores, porque há a consciência de que estes fazem igualmente história.

O discurso de posse de Abraham Lincoln é tido como um dos melhores de sempre, mas logo a seguir veio Ulysses S. Grant, que fez um dos piores. Terminada a guerra civil, os americanos esperavam palavras inspiradoras sobre um futuro radioso de paz e prosperidade, mas Grant limitou-se a choramingar que era preciso pagar as dívidas da guerra civil, sem deixar de ressalvar que nunca quis ser chefe de Estado.

No caso de alguns presidentes, foi notória a diferença entre os discursos do primeiro mandato e do segundo. Thomas Jefferson foi brilhante da primeira vez e um desastre da segunda, em que passou o tempo a atacar, com voz sussurrante e rancorosa, os ex-adversários e a imprensa.

Mas quais são as consequências de um discurso infeliz? Depende. Podem não ser nenhumas, se os acontecimentos ulteriores o fizeram esquecer. Ou catastróficas, se a conjuntura já é periclitante. Quando Richard Nixon, na fase final das investigações sobre Watergate, disse na televisão "Os americanos têm o direito de saber se o seu Presidente é um escroque. Eu não sou um escroque", foi patético. Para milhões de americanos, ele próprio se tinha definido: era um escroque.

Os motivos por que se faz um mau discurso são vários. Uma precipitação, uma avaliação deficiente das expectativas, um mau conselheiro de comunicação, ou até um propósito estratégico que só mais tarde será compreendido.

Desabafo pessoal

Quanto ao discurso de vitória de Cavaco Silva, só ele sabe o que se passou. Ou nem ele. Terá tido Cavaco um desabafo pessoal, tão pouco consentâneo com a sua forma habitual de agir?

António Costa Pinto, politólogo e historiador, acha que sim. Cavaco não ouviu os conselheiros. "Ter sido apanhado no caso do BPN [Banco Português de Negócios], que está a ser criminalizado, perturbou-o emocionalmente", explica. "Cavaco tem tendência para respeitar as regras, e tudo o que faz se fundamenta em pareceres e estudos. Ele introduz temas, mas tudo muito bem pensado. Não faz nada por impulso, emocionalmente." Até agora. Segundo o investigador do Instituto de Ciências Sociais, os ataques à sua integridade moral, porém, "as informações e críticas sobre as suas relações com um grupo cujas actividades estão a ser criminalizadas" fizeram-no explodir. Conteve-se durante a campanha, mas no fim teve um desabafo."Aconteceu-lhe um pouco o que acontece aos outros políticos", disse Costa Pinto ao PÚBLICO. "Por exemplo, [ao primeiro-ministro, José] Sócrates. Mas ele não estava habituado."

E deixou que o discurso resvalasse para o nível de "algo que anima a política nos tempos actuais": o nível da conspiração. Porque, segundo Costa Pinto, "a conspiração existe na vida política democrática". "E os políticos estão razoavelmente bem informados sobre as actividades conspirativas dos adversários. Há uma grande dureza nas vidas internas dos partidos, as candidaturas, os financiamentos, legais e ilegais. É muito duro. Nós temos tendência a subestimar essa dimensão da vida política." E Cavaco tenta não a trazer para o plano do discurso público. Mas houve um deslize, e isso vai ter consequências na imagem que passou a vida a construir, de alguém acima dessas coisas.

Já Susana Salgado, investigadora de media e política e professora na Universidade Nova de Lisboa, não acha que a imagem de Cavaco possa ser muito afectada por este discurso. "A imagem de um político constrói-se durante muito tempo", diz. Não é um episódio isolado que a pode alterar. De qualquer forma, talvez o discurso da vitória de Cavaco não seja um episódio isolado. Susana Salgado, que publicou na editorial Minerva um livro, baseado na sua tese de doutoramento, intitulado Os Candidatos Presidenciais. Construção de Imagens e Discursos nos Media, observa o comportamento político de Cavaco há muito tempo. O suficiente para saber que ele não faz nada por acaso. "Todas as suas aparições são planeadas com cuidado. Desde os grandes discursos às pequenas intervenções. É raro, aliás, ele responder a questões que não estivessem agendadas. Tudo é pesado no conjunto de uma estratégia. Ele conhece o funcionamento dos media. Foi muito castigado por eles enquanto primeiro-ministro e aprendeu. Nos últimos anos Cavaco Silva tem sabido usar os media a seu favor em diferentes circunstâncias. Falou quando e como quis e sempre teve a exposição e a visibilidade pretendidas." Não é portanto provável que desta vez tenha falhado. "Em 2006 a campanha também foi muito negativa, e ele não reagiu desta forma."

No seu livro, que estuda a campanha presidencial de 2006, Susana Salgado usa um aforismo de Oscar Wilde para definir a campanha de Cavaco: "Perdoa sempre aos teus inimigos, pois nada os enfurece tanto." Se agora o Presidente decidiu fustigar os adversários no momento da reeleição, não o terá feito sem um motivo. Ou até dois. O primeiro pode ter sido "reforçar que, não obstante as várias tentativas dos opositores, a sua imagem não foi afectada". E o segundo anunciar que será mais interveniente neste segundo mandato. "A sua atitude de não responder aos adversários mudou sensivelmente nesta última campanha, e parece-me que isso não foi só devido aos frequentes ataques de que foi alvo, mas também porque pretendeu mostrar que seria mais actuante e interventivo num segundo mandato. O seu discurso na noite das eleições vai um pouco nessa linha."

Aviso a Sócrates

António Cunha Vaz, especialista em comunicação política e director da agência Cunha Vaz e Associados, partilha esta opinião. Cavaco quis anunciar que, neste segundo mandato, vai ser diferente. No discurso e nos actos. "No primeiro mandato Cavaco esteve preso às regras de uma comunicação desumanizada, eufemística, em que não se podem expressar sentimentos." Agora, Cavaco vai dizer o que pensa. E fazer o que acha que deve. "Agora vou ser activo, foi o que ele quis dizer. Sou o único que tem legitimidade para julgar, politicamente. E essa legitimidade vem do povo, como ele também referiu."Com a expressão "magistratura actuante" Cavaco quis portanto dizer que "Sócrates não terá a paz que teve até aqui. Ao primeiro motivo, Cavaco vai actuar. Vai ter o mandato interventivo que sempre quis ter". Cunha Vaz lembra o comportamento que teve Jorge Sampaio no segundo mandato. "E a Santana Lopes nunca foi, por exemplo, colocada em causa a autenticidade do seu diploma de licenciatura. É preciso lembrar que temos um primeiro-ministro que, durante muito tempo, de cada vez que abria a boca era para mentir."

No entanto, apesar da sua manifesta intencionalidade, o discurso de vitória de Cavaco, para António Cunha Vaz, foi um erro. "Todo o capital de simpatia que granjeou na campanha, até junto do eleitorado que não era o dele, perdeu-o agora. Não foi um discurso de chefe de Estado. Foi mais o de um dirigente de um clube de futebol." Para as mensagens que quis emitir deveria ter usado um mandatário ou director de campanha. "Devia ter pedido a um assessor que atirasse cá para fora os ódios todos." A menos que o discurso tenha servido apenas para pôr os pontos nos is quanto à imagem de integridade, sendo agora corrigido no tom, aquando do discurso de tomada de posse. "Essa seria a única justificação técnica para isto. "Para que não restem dúvidas aos portugueses: eu sou mesmo honesto.""

João Tocha, consultor de comunicação e director da agência F5C, também espera que tenha sido esse o sentido do discurso. "Foi alguém que estava a conter-se e que abriu a válvula. Descomprimiu e disse o que lhe ia na alma. Pode ter dois significados. Ou é apenas: tinha de dizer isto, e está dito e ultrapassado; ou há um ressentimento e será preciso resolver o assunto no futuro."

A primeira hipótese é a mais provável, segundo Tocha. Mas a verdade é que Cavaco nunca diz nada por acaso. "Ao contrário do que se pensa, Cavaco é o político mais político que apareceu em Portugal nas últimas décadas. Sabe muito bem o que quer. Sabe ser popular quando é preciso, reservado ou com sentido de Estado, quando é necessário, ou secar tudo à volta, quando as circunstâncias o exigem. Não é o tecnocrata que muitos julgam."

O seu azedo discurso de vitória pode ser um sinal de que vai, no futuro, ser guiado pelo ressentimento. "Se eu fosse psicanalista, diria que ele mostrou que tem um problema interior para resolver. Colocou muita ênfase numa nota que pode ou não ser preponderante daqui para a frente. Não sei qual a sua capacidade de ultrapassar este ressentimento. Dependerá muito do aconselhamento do seu círculo mais próximo."

Para João Tocha, o discurso de Cavaco foi o de alguém "agastado". "Era o momento em que um vencedor deve partir para outro nível. Ficou agarrado à tese da conspiração, porque não soube lidar com temas incómodos." Como especialista de comunicação, João Tocha pensa que a campanha de Cavaco deveria ter respondido rapidamente a todas as questões sobre o BPN. Nestes casos, "a melhor política é a da antecipação. Explicar de forma rápida e clara, e assim esvaziar o tema. Como não o fizeram, devem depois ter calculado que, no "deve&haver" dos benefícios e ganhos, o melhor seria não falar no assunto. Devem ter pensado: isto resolve-se à primeira volta, e pronto. O assunto será ultrapassado."

E foi. Excepto talvez na cabeça do Presidente. Mas se o discurso lhe bastou como vingança, as consequências não serão graves. "A memória é curta", diz Costa Pinto, "e isto vai ser esquecido." Até porque é do interesse de todos que assim aconteça. Um mau discurso dá azar, pode ser muito perigoso. Pode até matar. No dia da sua tomada de posse, a 4 de Março de 1841, o presidente William Henry Harrison proferiu aquele que é unanimemente considerado o pior discurso da História da América. Perante uma assistência de milhares de pessoas, ao ar livre, no meio de uma tempestade de neve, Harrisson debitou durante mais de duas horas o seu relambório de 49.647 caracteres, na maioria dos quais perorava, inexplicavelmente, sobre o Império Romano. Foi fatal. No dia seguinte caiu doente, com uma pneumonia, de que viria a morrer um mês depois.»

TÍTUO CARTÃO DO CIDADÃO E AS AUTO-ESTRADAS

Há uns anos atrás sempre que se iniciava ou terminava um período de férias ou um fim-de-semana prolongado os portugueses tinham a mania muito lusa de iniciarem as viagens ao mesmo tempo, o resultado eram filas infernais, algumas ocupavam mais de um terço do percurso entre Lisboa e o Algarve. Não me recordo de ter ouvido propostas para se triplicarem as auto-estradas só por causa da grande afluência em dois ou três dias do ano, nem sequer alguém se lembrou de exigir a demissão de um ministro das Obras Públicas.

Nas últimas presidenciais o dia estava chuvoso e muito frio, votei antes da nove da manhã e as secções de voto estavam às moscas, nem sequer lá estavam as velhinhas do costume. Com as discotecas a aquecerem só depois das duas da manhã e com tempo frio as ruas de Lisboa são um deserto durante as manhãs de domingo. Muito boa gente que sabendo que o número do cartão do cidadão não corresponde (ainda) ao número do contribuinte não se deu ao trabalho de se informar nos dias que antecederam às eleições e limitaram-se a fazer o mesmo que faziam os veraneantes no passado, tentaram aceder ao site das eleições ao mesmo tempo. Sucedeu com o site o mesmo que sucede com excesso de carros, entupiu. E os mesmos que não se lembram de pedir a demissão do ministro das Obras Públicas pedem agora a cabeça do ministro da Administração Interna, porque este se esqueceu de os aconselhar a evitarem as horas de ponta para consultar o site.

Recorde-se que o fenómeno nem é novo, há poucos anos era habitual o site da DGCI entupir n os últimos dias do prazo para a entrega das declarações de IRS e também nestes caso o CDS não pediu a cabeça do ministro das Finanças.

LUTS JUSTAS QUE NOS METEM MEDO

«Quem disse há poucos anos que "o mundo está perigoso" pecou por apressadinho. Hoje, sim, o mundo está perigoso. Como se mede o perigo tipo agora-é-que-é? É quando vemos ditaduras corruptas a estremecer com multidões na rua e nós a hesitar: vamos lá ver o que vem a seguir... Ontem, estaríamos eufóricos com jasmins nos canos das espingardas, em Tunes, ou com aquele carro policial a meter o seu jacto de água entre as pernas porque um só jovem em larga avenida cairota o defrontou... Agora, fazemos contas. E elas são contas de três complicadas: há os bons, os maus e os péssimos. E estes, não tendo ainda entrado em cena (aparentemente), bem podem ser os vencedores finais. Vejam a muito poderosa Hillary Clinton enredada também ela em contagens múltiplas. Mediu os mesmos manifestantes, com iguais razões de protesto, tunisinos e egípcios, por bitolas diferentes. Aos primeiros, aplaudiu-lhes a coragem, aos segundos, negou-lhes homenagem. Leia-se na diferença só isto: o perigo dos péssimos na Tunísia é menos provável do que no Egipto. Olhem, outra característica do mundo quando fica mesmo, mesmo perigoso: além do preto e branco acrescenta-nos muitos cinzentos. Mas, claro, nem todos vêem isso. Só os que têm um mapa-múndi lá em casa e percebem que o mar Mediterrâneo se chama assim porque não é um grande oceano. » [DN]

Autor:

Ferreira Fernandes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

NUNCA É TARDE PARA UM BOM ENCONTRO

«Era aquele, o discurso. Era se ele fosse capaz de pensar um projecto, uma nação. Imagine-se Obama reeleito com a força que o voto dá.

Na palavra estaria, como esteve, a força das ideias e o sal dos desafios: inovar; competir; justiça social; reforma da educação. E pontes, todas com ligação à outra margem, numa partilha de responsabilidade e poder. Com o adversário, os republicanos. Foi o que Obama fez esta semana, desafiando uma nação.

Cavaco é o que é. Tragam-lhe a cabeça dos conspiradores, para que o povo de onde lhe vem a força se deleite com a força que julga ter. Veio a oportunidade e emergiu a sede de um sentimento mesquinho (revanche!), mais forte do que a genica de um Presidente reeleito - partilhando a vitória, envolvendo fiéis e adversários no degrau de uma escada íngreme mas vencível. Cavaco preferiu descer à cave que lhe atormenta a cabeça e que, desta vez, lhe atarantou o raciocínio. Ele pensou no que disse e disse o que pensou.

Ei-lo, pois, no seu fulgor: irrelevante além do pequeno, pequenino mundo em que se desenvolve um modelo numa regra de três simples. Cavaco é assim e não tem emenda. Sempre foi - desiludindo apenas aqueles que esperam um golpe fora dos eixos. Perdeu-se mais uma oportunidade. Tem-se perdido desde que se acredita no triunfo de uma inconsequência.

É evidente que virão outros momentos e mais discursos com a força do povo, uns mais ameaçadores do que outros. No fundo, o temor de Cavaco reduz-se à aparência. De si e do país. E nem sempre o que parece é.

Desengane-se, pois, quem pensa que nasceu um novo Presidente. Sócrates topa-o e foi dos primeiros a perceber o valor desarmante de uma reacção ponderada de apelo à estabilidade; Passos Coelho conhece-o e sabe que alcançar o objectivo depende exclusivamente de si e do seu trabalho. Ambos - numa química de circunstância - ganharam tempo na noite de domingo.

Com Cavaco vem a sofreguidão de Paulo Portas. Nem sempre se impõe a ironia. No caso, emerge a similitude. Nunca é tarde para um bom encontro.» [DE]

Autor:

Raul Vaz.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

711-2011, 1300 ANOS DEPOIS

«Na noite de 31 de Dezembro passado, a explosão de uma bomba diante de uma igreja cristã copta, em Alexandria, à saída da celebração do Ano Novo, causou 23 mortos e 79 feridos. Um grupo ligado à Al-Qaeda no Iraque, responsável pelo ataque sangrento da catedral de Bagdad em Outubro, já tinha apontado os coptas como alvo. Independentemente de quaisquer considerações ideológicas, políticas ou religiosas, é legítimo perguntar-se pelas consequências do incêndio que alastraria pelo mundo inteiro, se algo de semelhante acontecesse, diante de uma mesquita, no Ocidente.

Quem não anda completamente distraído já notou que há muito se observa um plano para acabar com os cristãos no Médio Oriente. Quem mais tem denunciado a situação são intelectuais ateus ou agnósticos, como Bernard-Henri Lévy ou Régis Debray. O último número de Philosophie Magazine faz notar que o novo objectivo da Al-Qaeda parece ser o de pôr as comunidades religiosas umas contra as outras, "passando por cima dos Estados". Começou no Iraque e estende-se ao Egipto e à Nigéria. Nesta estratégia, os cristãos do Oriente - "ângulo morto da nossa visão do mundo", segundo R. Debray - representam "um alvo ideal". Pela sua própria existência - "árabes não muçulmanos" -, "desmentem" a ideia de um choque entre civilizações fundadas na religião. Os cristãos "desempenham um papel insubstituível de traço de união e de mediador entre o exterior e o interior, o Ocidente e o Oriente", afirma Debray. Mas, por este andar, por quanto tempo?» [DN]

Autor:

Anselmo Borges.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

CAPUCHO INDICA PASSOS COELHO PARA O CONSELHO DE ESTADO

«"Razões estritamente pessoais", que se sabe serem de saúde, foram os motivos invocados por António Capucho para suspender o seu mandato de presidente da Câmara de Cascais por um ano e, também, para colocar o seu cargo de membro do Conselho de Estado à disposição de Passos Coelho.» [DN]

Parecer:

A proposta de Capucho passa por cima das competências do Presidente da República.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Pergunte-se Capucho porque se calou quando Passos Coelho foi excluído da lista de deputados.»

UM BOM EXEMPLO

«Um fim-de-semana bastou para que o Farmville, um dos mais populares jogos da rede social Facebook, se tornasse um vício capaz de obrigar João Oliveira a "colocar o despertador a tocar a meio da noite". Para aproveitar uma promoção de dois dias para uns ‘Super Morangos', o jovem engenheiro informático acedia à sua conta de duas em duas horas. Rapidamente se fartou do jogo e deixou o ‘vício' de uma forma no mínimo lucrativa: desenvolveu a aplicação ‘Farming Extreme Manager', que substitui a mão humana nas tarefas rotineiras do Farmville. E o sucesso foi imediato após o lançamento a 1 de Setembro de 2009. Quase ano e meio depois, já mais de 500 mil utilizadores descarregaram o programa que, actualmente, custa 9,99 dólares (cerca de 7 euros) - no início, custava 4,99 dólares.

Mas o caminho para o êxito foi tudo menos tranquilo. Durante algum tempo, João Oliveira, 25 anos, recebeu ameaças por parte da Zynga, criadora do jogo da quinta virtual. "Ameaçaram processar-me porque o meu programa estaria a deturpar os termos de utilização do jogo", conta o jovem empresário. Aconselhou-se com um advogado a quem tudo parecia legal: "Não fui eu que tive de assinar os termos, foram os utilizadores. São os jogadores que eles têm de banir", explica.» [Diário Económico]

Parecer:

È uma pena que situações como esta sejam uma excepção no aproveitamento das oportunidades de negócios oferecidas pela internet.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Dê-se conhecimento ao primeiro-ministro.»

PLAYMATE DIRIGE CLUBE DE FUTEBOL POLACO

«Escondido no antepenúltimo lugar da segunda divisão polaca, o Warta Poznan recuperou recentemente o mediatismo de outros tempos (foi duas vezes campeão), graças a uma mudança directiva. Izabella Łukomska-Pyżalska, uma antiga «playmate», assumiu a presidência do clube. » [Portugal Diário]

DARIUSZ LANGRZYK