Uns melhores, outros piores, todos os anteriores Presidentes da República mereceram o reconhecimento colectivo dos portugueses, não admira que quando se recandidataram tiveram o apoio dos dois maiores partidos ou apenas tiveram que enfrentar alternativas simbólicas. De todos se disse que foram presidentes de todos os portugueses e exerceram o cargo a pensar no país e não na sua própria imagem.
Pelo contrário, Cavaco não foi nem será um presidente de todos os portugueses, mereceu e voltará a merecer o respeito institucional mas mais pelo cargo do que pela sua própria pessoa. Ganhou as presidências à segunda tentativa e mais por falta de inércia da esquerda do que por mérito próprio, poderá voltar a ganhar as presidenciais porque uma boa parte da comunicação social e das personalidades esquecem os seus princípios na hora da luta pelo poder, mas nunca ganhará o respeito e consideração dos que não votaram nele, é o meu caso, não votei Eanes mas respeitei-o. Cavaco poderá volta a ser o Presidente de Portugal mas não será o presidente de todos os portugueses.
Um presidente que o quer ser de todos os portugueses não promove ou dá cobertura a intrigas com o objectivo de lançar falsas suspeitas sobre um governo eleito democraticamente pelos portugueses, não hesitando em influenciar o curso de eleições legislativas quando se apercebeu de que a manobra foi denunciada.
Num país onde uma boa parte dos cidadãos enfrenta dificuldades económicos e onde uma percentagem significativa está no limiar da pobreza um presidente de todos os portugueses não se arma em mísero professor na hora de explicar como ganhou numa operação financeira dúbia porque ultrapassa tudo o que é razoável em termos económicos. Um presidente de todos os portugueses não hesita em demonstrar a sua honestidade.
Um presidente de todos os portugueses não usa a crise financeira para jogos políticos ou para responsabilizar um governo porque não é da sua cor, escondendo-se atrás de supostos avisos que terá dado há sete ou mais anos. Um presidente de todos os portugueses está preocupado com as soluções e não com jogos políticos em torno de culpas.
Cavaco Silva poderá ganhar as eleições presidenciais, mas não ganhará o reconhecimento de todos os portugueses, na história deste país não ficará ao lado de homens como Eanes, Soares ou Sampaio, terá um lugar próprio de quem nunca conseguiu ser grande. Os presidentes de todos os portugueses puseram os princípios acima dos votos, colocaram os interesses nacionais acima dos pessoais, lutaram pelo interesse de todos e não pelo enriquecimento do grupo que os apoiou.
Cavaco ficará na história como um ganhador, um ganhador de eleições, um ganhador em negócios de acções, um ganhador em manobras palacianas. Mas não conseguirá ganhar a admiração de todos os portugueses.