Além de desinteressante esta campanha eleitoral tem-se revelado de um amadorismo que já não era de esperar depois de mais de trinta anos de batalhas partidárias. Se tal significasse ingenuidade até poderia ser considerado um aspecto positivo, mas muito provavelmente terá mais que ver com o perfil dos candidatos e com a incompetência das suas equipas.
Cavaco contava com uma campanha morna durante a qual se limitaria a passear a sua vantagem, depois de ter feito do seu mandato presidencial um projecto de engrandecimento pessoal, aproveitando-se do estatuto para branquear a sua imagem, como sucedeu com a homenagem a Salgueiro Maia, Cavaco Silva estava convencido de que confirmaria as sondagens que quase lhe davam o estatuto de caudilho.
É por demais evidente que a equipa de Cavaco não se deu ao trabalho de prever as possíveis adversidades que o candidato teria de enfrentar e as perguntas incómodas a que teria de responder, fizeram-no sempre depois dos acontecimento e após Cavaco dar respostas atabalhoadas que apenas serviram para acabar com os dogmas da competência e da honestidade. Cavaco reagiu sempre com atraso, com pouca inteligência e claramente de forma espontânea e desastrosa, o que abona pouco a favor do homem que trouxe do Pingo Doce para orientar a sua campanha, o que ficou em evidência quando teve que recorrer a Alexandre Relvas, o director da anterior campanha, para justificar o seu negócio de acções.
Se Cavaco estava convencido da sua invencibilidade, Manuel Alegre parece estar convencido de que basta a entoação da voz, pouco importando o que se diz. Apresentou-se com um discurso pobre, monótono, e em muitos momentos, como sucedeu no debate com Cavaco Silva, mostrou-se mesmo atabalhoado. Mas Alegre teve a sorte do seu lado, estando na posição de quem desafia o candidato que o venceu nas eleições anteriores era de esperar que fosse nele que se centrassem as eleições, mas Cavaco Silva deu-lhe uma preciosa ajuda ao comportar-se de forma desastrada centrando nele as dúvidas do eleitorado e dos jornalistas.
A não ser Francisco Lopes que parece estar a ganhar as suas duas batalhas, a das presidenciais e a da sua legitimação como futuro líder do PCP, os candidatos comportam-se como amadores. Os discursos são espontâneos e pobres porque já não têm idade para estas andanças, as estratégias eleitorais mudam ao sabor dos telejornais, apostam mais nos descuidos verbais dos adversários do que na qualidade dos seus discursos.
Quando esta campanha terminar recordar-nos-emos do humor de José Manuel Coelho, da colagem de Francisco Lopes a Lula da Silva, da forma como Defensor Moura “despachou” Cavaco Silva, das justificações idiotas de Cavaco Silva e da esposa de Manuel Alegre.