Há quem defenda que a alternativa à desvalorização fiscal em
curso seria a saída do euro e uma desvalorização da ordem dos 30% ou 40%,
resultando daí uma desgraça para o país.
Têm razão quanto à desgraça mas a verdade é que para muitos
portugueses esta política já é uma desgraça bem maior do que a que resultaria
dessa desvalorização da moeda. Primeiro foram os funcionários públicos e os
pensionistas a perderem rendimentos muito acima do que teriam perdido com a
saída do euro, agora são os do sector privado a perceberem que serão os
próximos.
A verdade é que esta desvalorização fiscal que está a ser
implementada pelo ministro das Finanças é uma desvalorização fiscal selectiva,
é o ministro que manipulando a política fiscal escolhe quem deve ficar pobre e
quem deve ficar rico com a sua política. O país está assistindo à mais brutal
transferência de riqueza a que se assistiu no último século num país
desenvolvido. A coberto da crise financeira que ninguém combate com seriedade
estão a ser adoptadas políticas que visam transferir o património e rendimentos
da classe média e dos mais pobres para conforto dos mais ricos, e como isso
ainda é pouco o governo descobriu que a despesa feita com o Estado social
também pode e deve ser mobilizada para os mais ricos.
Não admira que o Ulrich comente que ainda há margem para
sacrificar ainda mais as vítimas da política social selectiva de Vítor Gaspar
declarando que “ai aguente, aguenta”. É evidente que aguenta, se um pobre
consegue viver com um ordenado mínimo um professor ou um enfermeiro também
consegue. Se toda essa riqueza for transferida para os Ulrichs deste país há
razões para que estes sejam defensores incondicionais desta política.
Percebe-se porque razão eles preferem a desvalorização
fiscal à desvalorização da moeda sabendo-se que desta desvalorização fiscal não
resulta qualquer acréscimo de competitividade, pelo menos num horizonte
temporal em que daí resultem benefícios para combater a crise financeira. Uma saída
do euro e mesmo da EU acabaria com a imensa mama que a adesão à CEE representou
para esta gente, uma desvalorização do escudo atingiria tudo e todos de forma
mais equilibrada e justa do que esta desvalorização fiscal selectiva.
O problema é que nenhum problema financeiro está sendo
resolvido, a despesa pública não foi controlada, a receita fiscal está em
queda, as empresas que ainda são competitiva são-no apesar da política
destrutiva do governo e da cara de imbecil do ministro da tutela, a dívida
externa aumenta exponencialmente. A saída do euro poderá ser inevitável, o
problema é saber se a sociedade portuguesa vai suportar pacificamente uma
desvalorização da moeda depois desta desvalorização fiscal selectiva e dirigida
com péssimas intenções.