segunda-feira, novembro 05, 2012

Desvalorização fiscal selectiva


Há quem defenda que a alternativa à desvalorização fiscal em curso seria a saída do euro e uma desvalorização da ordem dos 30% ou 40%, resultando daí uma desgraça para o país.
 
Têm razão quanto à desgraça mas a verdade é que para muitos portugueses esta política já é uma desgraça bem maior do que a que resultaria dessa desvalorização da moeda. Primeiro foram os funcionários públicos e os pensionistas a perderem rendimentos muito acima do que teriam perdido com a saída do euro, agora são os do sector privado a perceberem que serão os próximos.
 
A verdade é que esta desvalorização fiscal que está a ser implementada pelo ministro das Finanças é uma desvalorização fiscal selectiva, é o ministro que manipulando a política fiscal escolhe quem deve ficar pobre e quem deve ficar rico com a sua política. O país está assistindo à mais brutal transferência de riqueza a que se assistiu no último século num país desenvolvido. A coberto da crise financeira que ninguém combate com seriedade estão a ser adoptadas políticas que visam transferir o património e rendimentos da classe média e dos mais pobres para conforto dos mais ricos, e como isso ainda é pouco o governo descobriu que a despesa feita com o Estado social também pode e deve ser mobilizada para os mais ricos.
 
Não admira que o Ulrich comente que ainda há margem para sacrificar ainda mais as vítimas da política social selectiva de Vítor Gaspar declarando que “ai aguente, aguenta”. É evidente que aguenta, se um pobre consegue viver com um ordenado mínimo um professor ou um enfermeiro também consegue. Se toda essa riqueza for transferida para os Ulrichs deste país há razões para que estes sejam defensores incondicionais desta política.
  
Percebe-se porque razão eles preferem a desvalorização fiscal à desvalorização da moeda sabendo-se que desta desvalorização fiscal não resulta qualquer acréscimo de competitividade, pelo menos num horizonte temporal em que daí resultem benefícios para combater a crise financeira. Uma saída do euro e mesmo da EU acabaria com a imensa mama que a adesão à CEE representou para esta gente, uma desvalorização do escudo atingiria tudo e todos de forma mais equilibrada e justa do que esta desvalorização fiscal selectiva.
 
O problema é que nenhum problema financeiro está sendo resolvido, a despesa pública não foi controlada, a receita fiscal está em queda, as empresas que ainda são competitiva são-no apesar da política destrutiva do governo e da cara de imbecil do ministro da tutela, a dívida externa aumenta exponencialmente. A saída do euro poderá ser inevitável, o problema é saber se a sociedade portuguesa vai suportar pacificamente uma desvalorização da moeda depois desta desvalorização fiscal selectiva e dirigida com péssimas intenções.