terça-feira, novembro 27, 2012

Vai ser um fartar vilanagem


Eu ainda sou do tempo em que o Relvas não tinha condições para continuar no governo, a coligação já não existia, a Manuela Ferreira Leite apelava aos deputados do PSD para votarem contra o OE, o Presidente da República estava preocupado com a capacidade de os mais pobres suportarem o tratamento de empobrecimento a que o Gaspar os está sujeitando, os empresários questionavam a competência do governo, o Marcelo dizia que Passos era um impreparado (uma palavra que lembra invertebrado), todos diziam que o sô Álvaro era um erro de casting..
 
O que sucedeu então? Se um cidadão comum tivesse passado de um estado miserável para o elevado estatuto que toda esta mudança sugere diria que lhe tinha saído o Euromilhões. É mais ou menos o que deverá ter saído ao país, a economia já cresce, o ministro das Finanças dispensou os serviços da troika e a última tranche depois de uma manifestação de investidores estrangeiros na Wall Street apelando ao regresso de Portugal aos mercados, Passos Coelho fez um teste ao QI e os psicólogos garantem que o homem de Massamá é, afinal, um sobredotado, o Álvaro conseguiu provar que a sua lei dos despedimentos em vez de despedidos fez o milagre de empregar.
 
Tudo está a correr às mil maravilhas, Cavaco já nem se dá ao trabalho de falar e opta por se retirar por períodos prolongados para a Quinta da Coelha onde joga umas partidas de dominó e debate pentelhices políticas com o seu amigo da EDP e riem-se a comparar os lucros de Catroga na eléctrica com os de Cavaco na SLN. O país parece ter entrado nos eixos e a coisa está a correr tão bem que já nem se discutem as decisões do ministro das Finanças, o homem manda. O Vítor Gaspar tem uma ideia e dois dias depois o Passos confirma tudo o que o chefe decide.
 
Vivemos um ambiente de Estado Novo mas numa versão feliz, as bordoadas policiais são elogiadas pela oposição, os jornalistas já nem receiam a intromissão policial, até se voluntariam para serem polícias em part time, filmam duas horas de manifestação, um minuto na condição de jornalistas e o resto do tempo como polícias.
 
A verdade é que se não saiu o Euromilhões a Porugal é muito provável que tenha saído a muito boa gente. Depois das especiarias da Índia, dos escravos africanos, do ouro do Brasil e dos fundos comunitários e enquanto os chineses não se empanturram com pastéis de nata da multinacional lusa ou o sô Álvaro não encontra petróleo em Aljubarrota o país encontrou um novo maná para as suas elites idiotas, incompetentes, proxenetas e oportunistas, um milagre digno de um bispo da IURD.
 
Reduz-se o SNS a pensos rápidos, cobram-se propinas na primária, despedem-se metade dos funcionários públicos e o país deixa de cobrar IRC e IRS aos escalões mais elevados, o Estado passa a poder subsidiar os negócios e vai haver muito mais dinheiro do que nos tempos cavaquistas do Fundo Social Europeu. Agora é uma questão de enganar a populaça, pedir ao pessoal da troika para fazerem umas ameaças na comunicação social e arregaçar as mangas antes que alguém perceba o golpe.
 
Enfim, vai ser um fartar vilanagem.