Os erros de previsão da nossa política orçamental são tão
colossais que nem podem ser considerados um mero erro do modelo ou dos
parâmetros nele considerados, são erros que se afastam da realidade muito mais
do que qualquer palpite. Até as “previsões” feitas neste humilde e ignorante
blogue estão bem mais próximas (décimas) dos valores reais do que os números
absurdos avançados pelo ministro das Finanças.
Não só os erros de previsão são colossais
como os erros de política orçamental são erros de palmatória, só aceitáveis se
um qualquer comerciante de esquina tivesse sido promovido a ministro das
Finanças, isso no pressuposto de que esse comerciante não tinha o antigo curso
geral de comércio, habilitação bem mais credível que a licenciatura de alguns
dos nossos ministros.
Os erros são de tal dimensão que é legítimo questionar se o
governo erra por incompetência grosseira ou o faz de forma premeditada para
conduzir a economia a uma crise tal que lhe permita impor as ideias do livrinho
que alguém escreveu ao Passos Coelho ou do projecto de revisão constitucional
escrito pelo banqueiro formado nas manifestações da Legião Espanhola.
Quando um país faz um orçamento e ainda o está a discutir e
já está a lançar uma refundação do Estado para tapar o buraco que dele vai
resultar é porque nesse país o governo ou é louco ou procura governar à margem
de quaisquer regras e, porventura, lançar
a sociedade num beco sem saída de forma a dar razão a uma direita que só
se sente confortável a governar em ambiente de ditadura.
O mais grave de tudo isto é que o governo português já não
governa em função dos interesses do país, o desempenho governamental de Vítor
Gaspar e do seu coelho anão parece ser feito a pensar nas eleições alemãs. A
política orçamental portuguesa, as famosas reformas e refundações são feitas
para que Merkel as possa exibir. Não admira que a máquina de propaganda
germância insista no sucesso do caso português e o nosso ministro das Finanças
vá a mais seminários a Berlim do que a tomar a bica no Martinho da Arcada.
Igualmente grave é que uma instituição assente em valores
democráticos e na transparência como é a EU esteja envolvida neste embuste,
pondo em causa a sua credibilidade, situação a que não será alheio o facto de
ter um presidente da Comissão de quem se dizia que ia para Bruxelas para ajudar
Portugal. É muito grave que a troika tenha esquecido o memorando e as partes
que o assinaram e se tenham aproveitado de um governo fraco e servil para usar
um país e um povo em experiências dignas do laboratório que Josef Mengele tinha
no campo de Auschwitz.
Vítor Gaspar erra devido a circunstâncias inesperadas ou
fá-lo de forma premeditada? Tanto quanto se sabe nada sucedeu no último ano que
não fosse previsível, a situação até foi bem menos grave do que se receava
quando foi elaborado o OE para 2011 já que nem a Espanha nem a Itália tiveram
de ser resgatadas, até a Grécia ainda está no euro.