Em condições normais diríamos que esta semana não foi para cardíacos, com as notícias que saíram soube-se que não só o défice de 2012 pode ser bem superior a qualquer número até agora avançado pelo governo, como se percebeu que mesmo com o desvio colossal previsto para a margem de segurança do Gaspar, mais as poupanças da refundação do Estado a recessão vai ser bem superior ao estimado pelo governo, isto é, o país vai ser governado com base num orçamento que toda a gente sabe estar aldrabado mas já ninguém se lembra de dizer que não somos aldrabões como os gregos. Mas as coisas já ultrapassaram os limites da racionalidade e o problema já não é uma patologia do foro da cardiologia, estamos perante um país de loucos, dois dias antes de os portugueses perceberam como o país está sendo enterrado o primeiro-ministro organizou uma encenação em regime de co-produção com o governo da senhor Merkel para enganar o mundo apresentando um ajustamento bem sucedido, o modelo de sucesso que prova que as políticas defendidas pelo governo boche são as mais adequadas.
A declaração quase passou despercebida, o governador do Banco de Portugal atribuiu o desvio colossal nas receitas fiscais ao aumento da evasão fiscal, explicava assim o fracasso governamental e mesmo o seu próprio fracasso pois apesar de todos os seus técnicos e estudos, para não referir a sua vasta sapiência, nunca questionou a política fiscal do OE de 2012. Compreende-se que o senhor governador insinue a incapacidade da máquina fiscal, a alternativa seria assumir a sua própria incompetência e reconhecer que não teve competência para prever o óbvio, que as metas do OE de 2012 assentavam em previsões erradas ou falseadas e que a política fiscal violava os mais elementares princípios do bom senso. Quando seria de esperar que o senhor governado explicasse o impacto da recessão na destruição de empresas, na eliminação de empregos e na redução da receita fiscal o senhor governador optou por ser gandulo e em vez de se dar ao trabalho de fazer o que olhe competia assacou as culpas à máquina fiscal. Quando um governador de um banco central se comporta desta forma é porque vivemos num navio em que já são visíveis as ratazanas a fugirem como podem.
Quem ouviu o discurso indignado de Cavaco Silva imaginou um hospital cheio de polícias feridos e um parlamento parcialmente destruído na sequência dos incidentes ocorridos no dia da greve geral. É evidente que nada disso sucedeu e que não havia matéria para tanta indignação, tudo não passou de algum teatro típico a que os portugueses não estão habituados, mas é regra na Europa dos mais educados. Mas será que Cavaco estava preocupado com esta manifestação ou o seu discurso era dirigido a todos os portugueses e pretendia evitar que em futuras manifestações em vez de serem pequenos anarquistas a fazer barulho sejam duzentos ou trezentos mil cidadãos comuns e sem currículo criminal? Parece que as autoridades começam a sentir medo da realidade que ajudaram a criar.
O país pode ficar descansado, tem um presidente que trabalha pelo seu crescimento, compensando o impacto negativo da greve geral das cigarras, mas os tempos são melhores do que quando era primeiro-ministro, agora em vez de pedir para o deixarem trabalhar Cavaco Silva informa que trabalha. Não só trabalha sem a obstrução das cigarras como reconhece que já não é um homem que nunca se engana e raramente tem dúvidas, Cavaco reconheceu que estava optimista demais na sua mensagem de Ano Novo de 2010. Agora ficaremos todos à espera que em 2016, quando Cavaco já estiver dedicado à bisca na Quinta da Coelha admita que errou na mensagem de ano Novo de 2013, como também deverá ter errado nas de 2011 e de 2012.