sexta-feira, novembro 09, 2012

Teoria marginalista da revolução


Ligo a rádio e ouço um Conselheiro de Estado, homem que ganha num mês o que muitos portugueses não ganham num ano, defender a refundação do regime, mas sem algazarra, isto é, para este senhor que acha que a cidadania varia em função do grau académico (excepto em relação aos Relvas) e qualquer debate público de uma coisa como o próprio regime é algazarra.
   
Ligo para a SIC e vejo uma senhora caridosa que está à frente da maior organização nacional de caridade fazer o elogio da austeridade, só lhe faltou assegurar que a miséria e a pobreza são forma de lavar os pecados dos mais pobres. No país onde se defendia o progresso e se elogiavam os direitos civilizacionais que depois de uma ditadura obtiveram o estatuto de direitos sociais, defende-se agora as virtudes da miséria, as vantagens da perda de direitos e a escravidão como modelo social de sucesso.
   
Leio os jornais e fico a saber que os ilustres e meritíssimos magistrados poderão continuar a viajar à borla nos transportes públicos, apesar de o OE prever o fim dessa prerrogativa medieval a ministro pediu um chiu aos magistrados, que pela calada da noite retiraria essa medida de austeridade. O homem que acha que os portugueses são cigarras foi pelo mesmo caminho, num tempo em que os polícias e os magistrados são mais necessários do que nunca há que dar umas gorjetas a essa gente não vá o regime precisar.
  
Enquanto por cá julgam que conseguem evitar revoluções dando passes de transportes à borla para polícias e juízes, são os responsáveis do FMI que alertam para os riscos de uma política sem resultados e sem justificação. Por cá o ministro chama gandulos aos portugueses e assegurar que há dinheiro para balas e cassetetes, os responsáveis do FMI alertam para a insustentabilidade social e política da política que está sendo seguida. É caso para dizer que o mundo está ao contrário.
  
Se os rapazolas liberais aplicassem os principio marginalistas com que explicam todos os fenómenos económicos à situação social do país perceberiam que estão empurrando este para uma revolução. Da mesma forma que se explicam os juros também se pode explicar uma revolução com base na teoria marginalista, mais tiro menos tiro, quando um pobre faz uma revolução é porque tem mais a ganhar com a revolução do que com o capitalismo.
     
Se um pobre não tem dinheiro para alimentar os filhos, se não tem emprego, se perde todos os direitos sociais ou segue o pensamento da senhora Jonet e aceita as suas privações como penitência por ter comido umas bifanas a mais ou conclui que entre morrer de doença e morrer vítima da repressão é preferível a segunda hipótese e promover uma revolução. Este é um raciocínio tão simples como aquele que os marginalistas usam, por exemplo, para justificar a poupança.
    
Vítor Gaspar  e outros membros deste governo acham que basta reforçar as medidas de segurança nos seus gabinetes, dar uns passes à borla e aumentar o orçamento das polícias para poder transformar um país onde haviam direitos sociais num modelo de capitalismo sem direitos e onde um governo pode decidir que dois terços ficam mais pobres para que um terço possa transferir os seus capitais para off shores asiáticas.
   
Esta gente ainda não percebeu e é burra demais para virem a perceber que contra cem ou duzentos mil manifestantes não há polícia que chegue e que na hora de ser dada ordem para abrir fogo é mais provável que a polícia mude de campo. Esta gente ainda não percebeu que está no século XXI e não no século XIX quando as revoluções eram reprimidas a tiro. Esta gente ainda não percebeu que está a conduzir o país para uma revolução. É caso para perguntar como Scolari: e o burro sou eu?