Já não é apenas a Presidência da República que deixou de
existir, essa nunca existiu desde que Cavaco Silva foi eleito, mas por uma
questão de respeito pela instituição andámos a fazer de conta que aquilo era
mais importante do a Junta de Freguesia de Belém, mas não é. Cavaco Silva é um
vazio, um vazio de ideias, um vazio de coerência, um vazio constitucional.
Mas a verdade é que em grande medida a Presidência da
República é um vazio de competências, a única competência que Cavaco tem mesmo
é a de demitir ou contribuir para a demissão de um governo. Nesse capítulo
Cavaco não pode ser acusado de vazio, com Sócrates usou esse poder até deixar
por fora e o Passos Coelho que se cuide pois as paixões políticas de Cavaco
nunca chegaram a netos.
Mas ainda mais grave do que o vazio presidencial é o vazio governamental,
vazio que só não se nota mais porque Passos Coelho é um Pedro Santana Lopes
numa versão troika, se não fosse estar segurado pela troika há muito que estava
a levar massagens em Massamá. Mas com esta troika de crises que são o Cavaco
Silva, a esquerda conservadora e a crise financeira o governo lá se vai
mantendo com o Vítor Gaspar a juntar os portugueses enquanto brinca aos
ministros e o Passos Coelho entretido em viagens e entrevistas.
Alguém é capaz de adivinhar qual será a grande prioridade
nacional daqui a quinze dias?
É impossível, veja-se o que sucedeu com o tema “Estado”, o
Gaspar disse que era preciso rever as funções do Estado, dois dias depois o
Passos disse que ia refundar o Estado, agora o Gaspar diz que só podemos ter o
Estado social que pudermos pagar, depois o passos fala em reestruturação, etc.,
etc.. Nem o Pedro Santana Lopes se lembraria de brincar com uma coisa tão séria
como o Estado, a estabilidade psicológica de mais de 500 mil funcionários e com
funções sociais como o Ensino, a Saúde ou a Segurança Social, com a mesma
leviandade com que se faz uma peladinha dando pontapés numa bola de trapos.
E enquanto Passos Coelho vai falando em refundar ou sabe
Deus o que fazer ao Estado, tema que está quase a atingir o prazo de validade
que as preocupações do primeiro-ministro costumam ter, o governo não faz nada,
rigorosamente nada. Se não fossem as bordoadas policiais na Assembleia da
República dir-se-ia que não temos governo, mas a sessão de pancadaria teve pelo
menos um mérito, podemos ficar descansados, no meio deste governo de cigarras
há pelo menos uma formiga incansável, o Miguel.
Imagine-se que em vez do Miguel era a Cristas a mandar na
polícia, a esta hora já o líder dos No Name Boys era presidente da Assembleia
da República. A pobre senhora é mesmo uma cigarra, é um pouco como a senhora da
Justiça ou o rapazola dos Negócios Estrangeiros, cantam, cantam, mas não fazem nada.