segunda-feira, novembro 26, 2012

Vazio


Já não é apenas a Presidência da República que deixou de existir, essa nunca existiu desde que Cavaco Silva foi eleito, mas por uma questão de respeito pela instituição andámos a fazer de conta que aquilo era mais importante do a Junta de Freguesia de Belém, mas não é. Cavaco Silva é um vazio, um vazio de ideias, um vazio de coerência, um vazio constitucional.
 
Mas a verdade é que em grande medida a Presidência da República é um vazio de competências, a única competência que Cavaco tem mesmo é a de demitir ou contribuir para a demissão de um governo. Nesse capítulo Cavaco não pode ser acusado de vazio, com Sócrates usou esse poder até deixar por fora e o Passos Coelho que se cuide pois as paixões políticas de Cavaco nunca chegaram a netos.
 
Mas ainda mais grave do que o vazio presidencial é o vazio governamental, vazio que só não se nota mais porque Passos Coelho é um Pedro Santana Lopes numa versão troika, se não fosse estar segurado pela troika há muito que estava a levar massagens em Massamá. Mas com esta troika de crises que são o Cavaco Silva, a esquerda conservadora e a crise financeira o governo lá se vai mantendo com o Vítor Gaspar a juntar os portugueses enquanto brinca aos ministros e o Passos Coelho entretido em viagens e entrevistas.
 
Alguém é capaz de adivinhar qual será a grande prioridade nacional daqui a quinze dias?
 
É impossível, veja-se o que sucedeu com o tema “Estado”, o Gaspar disse que era preciso rever as funções do Estado, dois dias depois o Passos disse que ia refundar o Estado, agora o Gaspar diz que só podemos ter o Estado social que pudermos pagar, depois o passos fala em reestruturação, etc., etc.. Nem o Pedro Santana Lopes se lembraria de brincar com uma coisa tão séria como o Estado, a estabilidade psicológica de mais de 500 mil funcionários e com funções sociais como o Ensino, a Saúde ou a Segurança Social, com a mesma leviandade com que se faz uma peladinha dando pontapés numa bola de trapos.
 
E enquanto Passos Coelho vai falando em refundar ou sabe Deus o que fazer ao Estado, tema que está quase a atingir o prazo de validade que as preocupações do primeiro-ministro costumam ter, o governo não faz nada, rigorosamente nada. Se não fossem as bordoadas policiais na Assembleia da República dir-se-ia que não temos governo, mas a sessão de pancadaria teve pelo menos um mérito, podemos ficar descansados, no meio deste governo de cigarras há pelo menos uma formiga incansável, o Miguel.

Imagine-se que em vez do Miguel era a Cristas a mandar na polícia, a esta hora já o líder dos No Name Boys era presidente da Assembleia da República. A pobre senhora é mesmo uma cigarra, é um pouco como a senhora da Justiça ou o rapazola dos Negócios Estrangeiros, cantam, cantam, mas não fazem nada.