sexta-feira, novembro 16, 2012

Um presidente que falhou


Aos poucos a direita portuguesa vai tentando branquear as responsabilidades pelas opções, pelas consequências da gula pelo poder, pela tentativa de “endireitar” a democracia portuguesa depois de quatro décadas de síndrome de abstinência por falta de um regime ditatorial. O governo vai apagando as suas opções extremista endossando para a troika a responsabilidade pelas suas opções de política económica.
 
Mas a alteração de posição mais incrível, ou talvez não, é de Cavaco Silva, um homem que sonhou ficar na história do país com o símbolo do progresso, mas esbanjadas as transferências de fundos comunitários luta desesperadamente por levar o mandato até ao fim, ainda que um dia destes tenha de disputar influência política com o presidente da Junta de Freguesia de Belém.
 
O homem que raramente tem dúvidas e que nunca se engana vem agora admitir que se enganou nas suas previsões quando fez a sua mensagem de Ano Novo de 2010. O homem que tudo fez para derrubar o governo anterior, que traçou os cenários mais pessimistas, que ignorou ostensivamente a existência de uma crise internacional para assacar todas as responsabilidades ao governo de então, o homem que sempre que era questionado sobre a realidade económica remetia os portugueses para os avisos que tinha feito em artigos, discursos ou Facebook, o homem que tudo tinha escrito no seu site, enganou-se por defeito.
 
Compreende-se que Cavaco se tenha enganado e que agora tente dizer que a situação é brutal, como se entre 2010 e finais de 2010 a história de Portugal tivesse uma “branca”. Durante esses dois anos nada sucedeu, não ocorreram eleições presidenciais, não se realizaram eleições legislativas, não houve um chumbo do PEC IV porque Cavaco não tinha sido avisado, não houve um discurso de vitória presidencial, não, nada sucedeu em Portugal.
 
Começa a ser tempo de Cavaco Silva perceber que se não vai ficar na história como um grande Presidente não é por culpa de Passos Coelho não estar à altura de o ajudar a terminar o mandato com dignidade, como ele um dia ousou dizer que ia ajudar Mário Soares. É porque não tem perfil nem dimensão política para o cargo. Os bons Presidentes são aqueles que exercem o mandato a pensar no país, são aqueles que choram, que se enganam , que lutam pela camisola.
 
Um Presidente que fala para dizer que avisou, que não consulta o TC com o argumento que outros não consultaram, um Presidente que Preside a pensar mais em si, é um Presidente que falhou. Não falhou apenas na mensagem de Ano Novo, falhou como Presidente.