Desiludam-se os que imaginam que um país para poder ser
considerado um paraíso terrestre deve ser feito de gente rica e feliz, isso é
coisa de Sodoma e Gomorra, no verdadeiro paraíso terrestre só há ricos para que
os pobres tenham uma leve ideia, uma ideia de passagem, a imagem que fica
quando brrum passou o Ferrari, o paraíso terrestre ée um local de virtudes e
como ante câmara do inferno nele só há gente devidamente habilitada ao grande.
No paraíso há muitos pobres e poucos ricos, muitos pobres porque é mais difícil
um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que atravessar as portas do céu e
alguns ricos porque apesar de tudo ainda há ricos como a senhora Jonet, gente
com generosidade para ajudar os pobres e permitir que os filhos lavem os dentes
com água corrente.
Desiludam-se os que pensavam que a economia era uma ciência
de bem estar, que o grande objectivo dos economistas era aumentar a riqueza e
promover a sua distribuição mais ou menos equitativamente. Com economistas
desses um dia destes os pobres estariam a comer bifes do lombo, a ir à praia
dos tomates e a querer casa de praia na Quinta da Coelha, mais um pouco andava
tudo a fornicar e a pecar de todas as formas.
Não senhor, nunca haverão bifes, casas na Quinta da Coelha e
toldos na Praia dos Tomates para toda essa imensa populaça que não sabe dar
valor às coisas, é por isso que uma coisa é o chamado bem-estar do povo e a
outra é o progresso económico, quanto mais o povo está agradado maior é o risco
de uma crise financeira. O objectivo não é pagar bem a todos porque depois não
só a crise financeira obriga a fechar empregos como os trabalhadores acabam por
ficar anafados e preguiçosos, empregar sim, mas pagando o menos possível, para
que o povo fique elegante e poupe na saúde.
É por isso que ao contrário desse mundo de pecado que nos
rodeia no nosso país o progresso é medido de outra forma, há o PIB per capita,
no Butão criaram o Felicidade Interna Bruta, mas em Portugal estamos mais
evoluídos e medimos o progresso pela MIB, a Miséria Interna Bruta. Porque mais
miséria significa um melhor equilíbrio da Balança Comercial, mais miséria
significa mais vontade de trabalhar, mais miséria significa maior
disponibilidade para aceitar baixos salários, mais miséria significa que os
ricos podem investir mais.
Se a riqueza for medida pelo PIB vão descobrir que há
recessão, se alguém se lembrar de medir a Felicidade Interna Bruta a populaça
ainda se lembra de ir para a rua no próximo dia 15, mas se formos realistas,
anti-socráticos e admiradores do Gaspar veremos que avaliada a situação pelo
MIB – Miséria Interna Bruta o país nunca esteve tão bem, o ajustamento está a
resultar como nunca se esperava e só pedimos mais tempo para que o MIB atinja
valores inimagináveis.