terça-feira, julho 15, 2014

A inclita geração do comunismo português

Se há partido que tem razões para festejar nestes tempos é o PCP, nem Lenine teria feito melhor se ainda fosse vivo, desde a pequena burguesia do Bloco de Esquerda aos banqueiros do BES, passando pelos social-democratas de Seguro, juntaram-se para lhe dar razão. Não admira que o PCP cresça eleitoralmente e é bem provável que este crescimento eleitoral prossiga.
  
Os banqueiros têm dado mais razões económicas em favor da nacionalização da banca do que alguma vez o PCP conseguiu enunciar, a banca transformou-se num sector que parasita o progresso, que atira o país para crise cíclicas, que gere de forma ineficaz as poupanças e os recursos financeiros do país, que corrompe a sociedade, tendo-se transformado numa imensa central de corrupção e evasão fiscal, que ajuda ao branqueamento e à fuga de capitais. Ao lado dos nossos banqueiros os banqueiros do século XIX eram uns santinhos, o que nós temos em Portugal não é uma banca, é uma associação financeira criminosa.
  
Os social-democratas de Seguro têm dado razão ao velho ódio dos comunistas à social-democracia acusada de se limitar a querer amaciar o capitalismo, a forma como Seguro tem dado apoio à destruição do estado social, a conivência com o desprezo para com a Constituição assumido na abstenção em votações em que estavam em causa medidas inconstitucionais e o servilismo de muitas personalidades que desempenham altos cargos como a presidência do Tribunal de Contas, são comportamentos que levam muitos cidadãos de esquerda a questionar se podem acreditar num projecto político que se limita a querer ser uma versão simpática e incompetente da direita.
  
As medidas adoptadas pela direita resultaram num sistema político pretensamente democráticos e duas economias, uma economia liberal em que funcionam os mercados e a economia comunista onde vivem funcionários públicos, pensionistas, pobres, desempregados e trabalhadores não qualificados. Para estes não há progresso, não há esperança, de nada serve o crescimento e o governo decide de quanto precisam para viver independentemente do seu trabalho ou competência. Estes nada têm a perder numa sociedade comunista em que já vivem graças à direita e à conivência de gente como Seguro, Guilherme d’Oliveira Martins e muitos outros.
  
Nem a pequena burguesia radical, a designação que os comunistas costumam usar para se referirem à extrema-esquerda tem desiludido o PCP, convencidos de que se poderiam disfarçar de democratas e dessa forma ultrapassavam o PCP pela direita e o PS pela esquerda alcançaram um patamar eleitoral que os levou a pensar que já poderiam discutir governos à esquerda e à direita. Não resistiram à tentação de se juntar à pior direita na tentativa de destruírem o PS e acabaram canibalizados pelo PCP. Cada figura conhecida do BE promove uma cisão e cria mais um partido que pretende unir a esquerda, já há mais movimentos de extrema-esquerda do que os que existiam no princípio dos anos 70.
  
O PCP não precisa de fazer muito pois conta com uma nova geração que faz mais pela implantação do comunismo em Portugal do que muitas gerações de militantes. A nova geração de comunistas é formada por gente como o Passos Coelho, o Ricardo Salgado, o Carlos Moedas, o Vítor Bento, o José Seguro, o Oliveira Martins, o patriarca de Lisboa, o Paulo Macedo, o Carlos Costa, o Vítor Constâncio, o Durão Barroso, o Fernando Ulrich, o Cavaco Silva, o Fernando Lima, o José Manuel Fernandes, o César das Neves e muitos outros são a ínclita geração do comunismo português, estão fazendo mais pelo comunismo que gerações de militantes do PCP.