segunda-feira, julho 07, 2014

Chamar as coisas pelos nomes

Se um grande banco escolhe para líder um político que nem deve saber a tabuada em vez de optar por alguém com conhecimentos sólidos em finanças é porque as soluções para os seus problemas ou a forma mais fácil de obter lucros é fazendo negócios políticos em vez de negócios financeiro. O problema é que para os negócios políticos há uma designação: corrupção. Isto é, se um banco recorre aos serviços de um político é contando que a influência deste sobre o poder lhe facilite soluções legais favoráveis ou o acesso a negócios fáceis.
  
É por isso que em Portugal os políticos são tão bem sucedidos na banca, nas empresas de construção ou na grande distribuição, são sectores que podem obter grandes lucros com os negócios do Estado ou que recorrendo a esquemas de influências evitam a aplicação rigorosa das leis, escapando-se ao velho princípio do direito “dura lex sed lex”.
  
Quando uma família financeira em apuros depois de meses de uma luta fratricida entre primos só consegue chegar a um acordo em torno de nomes que valem mais pela influência política e quando esses nomes envolvem todas os níveis e instituições no poder sendo apadrinhados pelo regulador que quase os sugeriu, fica tudo dito. Sejamos honestos, somando o currículo dos três mosqueteiros do PSD nomeados para o BES conseguir-se-ia uma vaga de administrador num pequeno banco americano.
  
É evidente que de um ponto de vista legal não há aqui nenhum crime e num país onde em matéria de corrupção o que conta é o direito penal nada há a dizer. Em Portugal palavras como ética ou moral deixaram de fazer sentido, os valores que se praticam na nossa sociedade estão balizados pelo direito penal e desde que a lei não condene tudo é socialmente aceite.
   
O país vive e convive diariamente com a corrupção de valores e no caso particular da banca até se aceita que todo um povo sofra e que funcionários públicos e pensionistas sejam massacrados para que os banqueiros fiquem melhor vistos aos olhos da Fitch. 
  
Como é isto possível?
  
É fácil de compreender, somem-se os orçamentos publicitários da banca e do imenso universo das suas imprensas e depois pergunte-se qul o jornalista que tem coragem de atacar os interesses de um banco pondo em causa o seu emprego, para não referir a imensidão de gorjetas com que a banca premeia os seus amigos, gorjetas que vão da prendinha de Natal à viagem de férias. Os iates dos banqueiros passeiam alguns dos nossos mais ilustres como ainda recentemente João Miguel Tavares teve a coragem de denunciar.
  
Porque razão os nossos comentadores só criticam os banqueiros quando se certificam que já estão mortos e bem enterrados? A boa parte dos nossos ilustres comentadores são juristas com quota e/ou trabalho avulso temporário ou permanente em grandes escritórios de advogados. Acontece que o contencioso de qualquer banco tem trabalho para distribuir por esses escritórios e se algum comentador se exceder o escritório do seu ganha pão sofre as consequências.
  
Porque razão os nossos políticos se encolhem? Para já porque não querem perder a esperança de virem a ter uma reforma dourada como administradores executivos dos bancos ou das suas empresas. Em segundo lugar porque pela banca passa muito dinheiro, seja aquele que vai a caminho das contas off shore, seja o dinheiro que ajuda muito bom político a sobreviver. Um contrato de consultoria dá sempre jeito e anda por aí muito político que sem os subsídios da banca passaria muita fome.
  
Corrupção é um conceito que se aplica a empresas que não vão além do conceito de pequena ou média empresa, acima disso deixa de haver corrupção e em vez de condenação só se ouvem elogios. Aquilo a que temos assistido no nosso pequeno mundo da alta finança chama-se corrupção, antes do 25 de Abril grupos como o BES viviam do poder e na sombra do poder, mantinham o poder a troco da protecção. Agora continuam a viver na sombra do poder e à custa do poder, mas agora são os políticos que lhes dão protecção a troco daquilo que habitualmente se designa por conforto.