sexta-feira, julho 25, 2014

O respeitinho é muito bonito

Merece a pena comparar o comportamento da classe política, dos jornalistas, dos magistrados e dos comentadores em relação ao caso Ricardo Salgado com o que se passou noutros casos judiciais ocorridos no passado. Compare-se com o que se passou, por exemplo, com o Caso Freeport, um processo que nasce com uma carta anónima escrita por um alto responsável do CDS onde se faziam falsas acusações. Foi um verdadeiro regabofe envolvendo tudo e todos, valeu de tudo, desde idas a Belém para fazer queixinhas até a telenovelas encenadas pela Manuel Moura Guedes.
  
Neste caso até o juiz que ouviu Ricardo Salgado surpreendeu, um magistrado que nos tem habituado à dureza revelou uma rara candura e desta vez até o Ministério Público cabendo aos advogados do arguido a comunicação das conclusões. Ainda recentemente vimos um funcionário judicial comunicar aos jornalistas as medidas de coacção adoptadas no caso do famoso Palito, o homicida que andou foragido escapando à política nos matos da beiras. 

O mais curiosos vão ficar desiludidos, desta vez a grande jornalista de investigação Felícia Cabrita não vai conseguir saber o que cobnsta no processo, a Manuela Moura Guedes não vai montar nenhuma telenovela, os jornais esquecerão o assunto por falta de novos elementos.
  
Os políticos já não tecem comentários nem recorrem a insinuações como noutros casos do passado, agora refugiaram-se na presunção da inocência e no caso de Passos Coelho até fugiu dos jornalistas como o diabo da cruz, de Cavaco não se ouviu nada, é muito provável que os seus assessores, habituados a combinar as perguntas que podem ser feitas ao senhor, tenham decidido que sobre Ricardo Salgado nada se deveria perguntar.
  
Os comentadores revelaram-se dóceis, quase simpáticos e nos casos de alguns dos que no passado eram conhecidos por dar graxa aos banqueiros nem conseguiram esconder a atrapalhação. Se fosse um pobre diabo é muito provável que Ricardo Salgado tivesse ficado em prisão preventiva, indo direito a Monsanto e sem fazer escala pelos mais confortáveis calabouços da PJ. Os políticos festejariam o fim da impunidade e os jornalistas exigiriam a cabeça de Ricardo Salgado, os comentadores não se cansariam de exibir as entranhas de Ricardo Salgado.
  
Mas Ricardo Salgado inspira um misto de medo e de respeitinho, foram muitas campanhas partidárias a serem financiadas com dinheiro fácil, negócios públicos conseguidos de forma estranha, jornalistas comprados com investimentos publicitários, toda uma elite rasca comprada com gorjetas, uma elite que agora se divide entre o respeitinho pelo dinheiro que Salgado ainda tem e o medo de o banqueiro se vingar metendo a boca no trombone, provocando um segundo 25 de Abril. Afinal de contas Ricardo Salgado era o DDT, o Dono Deles Todos.