Tanto à direita como à esquerda há uma tentativa de provar a superioridade dos seus projectos, procura-se provar que por razões morais, éticas ou científicas os projectos são superiores aos do adversário. À esquerda as considerações são mais de ordem moral e inspirada no marxismo tenta-se passar a ideia de que tudo se baseia numa visão com fundamentos científicos, produtos desta mania é a ideia do socialismo científico ou a superioridade moral que no caso do PC até teve honras de obra ideológica da autoria de Álvaro Cunhal.
A direita divide-se entre considerações com uma fundamentação que mistura a religião com o pensamento de Adam Smith para sugerir que há uma ordem natural. Perante a fragilidade desta abordagem e sem resposta consistente para opor às esquerdas a direita refugia-se muitas vezes atrás de uma superioridade técnica. As suas propostas de sociedade poderão não ser tão simpáticas, mas são as que optimizam os resultados, criando mais riqueza. A gestão orçamental da direita é mais rigorosa, a política fiscal é mais amiga das empresas e até da natalidade, a gestão privada dos recursos da sociedade produz melhores resultados.
Se esta abordagem ideológica da direita tiver algum fundamento isso implica que as crises portuguesas só podem ser explicadas pela burrice dos nossos políticos de direita, que como Mário Soares disse uma vez é de fazer inveja à direita francesa de quem já se disse ser a mais burra da Europa. A direita bem se esforça de inventar culpados para todos os males, a bangunça da República explicou a ditadura, a loucura de Vasco Gonçalves serviu para encobrir as consequências de um modelo social miserável, do fim inevitável do colonialismo e da maior crise petrolífera da história. Mais recentemente tentaram iludir a existência de crises financeiras atribuindo as culpas ao odiado Sócrates, ou como muito imbecil deste país gosta de designar os governos do PS, aos “governos socialistas”.
Um pouco em desespero e meio atrapalhado Marcelo Rebelo de Sousa foi o único político de direita com um assomo de honestidade, tentando retirar o debate do tema da culpa penal assumiu estar preocupado porque o que sucedeu no BCP e no BES põe em causa a tal superioridade técnica da gestão privada dos recursos colectivos. É mais do que óbvio que a privatização da banca não trouxe progresso ao país, antes pelo contrário, os banqueiros optaram pelo estatuto de capos mafiosos, corrompendo tudo e todos e lançando a economia em crise.
A privatização da banca começa a parecer um grande crime contra o país e demonstra que com os imbecis da nossa direita não há superioridade técnica que lhes valha. Com a crise do BES vão à falência os pressupostos ideológicos da direita portuguesa e, pior ainda, começa a ser claro o nível de imbecilidade da nossa direita, seja nas empresas, no jornalismo ou no poder. A imagem que marca o país é, de um lado, o sistema financeiro a desmoronar-se, e do outro um secretário de Estado da Cultura convencido de que vai promover o crescimento com artesanato. A nossa direita é imbecil, incompetente e ridícula, e como se isso não bastasse conta ainda com uma elevada percentagem de gente pouco honesta, para não referir o imenso rebanho de corruptores e corruptos.