sexta-feira, junho 03, 2016

A grande desgraça

Os indicadores económicos têm sido um verdadeiro festim para a direita e mesmo na sua ala com mais sensibilidade à esquerda já se ouvem algumas vozes mais afoitas, é o caso de Francisco Assis. Para a direita é uma desgraça, para Assis temos uma espécie de governo de gestão. 

A questão que se coloca é saber o que poderia ou deveria ter feito este governo e não fez, ou o que teria feito um governo de direita que este governo não fez.

Francisco Assis, que discordou desta solução governativa a que tentou opor-se com um jantar de leitão assado na Mealhada, queixa-se de que parece um governo de gestão. Mas o governo de direita sem maioria parlamentar e com um Presidente a que Passos chamou catavento era estável? E que poderia fazer neste quadro um governo que não fosse de gestão? Assis nada diz sobre o que de bom poderia fazer o seu governo imaginário neste quadro parlamentar, não explica, por exemplo, como devia reagir o PS num quadro de uma coligação CDS-PSD-PS quando a Assunção cristas propusesse o encerramento de escolas públicas ou Passos decidisse cortes inconstitucionais.

Quem ouve gente como a ex-ministra das Finanças fica com a ideia de que a crise económica acabou de chegar devido às medidas deste governo. Este é um raciocínio duplamente oportunista e desonesto, a crise que é atribuída à política económica de Centeno já cá estava e as medidas entretanto adoptadas tiveram um impacto reduzido. O OE só foi promulgado em 28 de Março pelo que nada do que entretanto foi alterado teve impacto na economia.

A direita queixa-se da reversão de medidas e atribui-lhes graves consequências económicas. Mas a verdade e que até ao momento o impacto da eliminação da sobretaxa nas receitas do Estado foi quase residual e a restituição dos vencimentos pouco mais impacto tem. Aliás, se considerarmos que a direita também iria reverter os cortes de vencimentos e a sobretaxa, ainda eu a um ritmo mais lento, teremos que considerar apenas o custo resultante da diferença nos ritmos da restituição dos rendimentos e, neste caso, estamos falando de valores quase residuais. Se considerássemos as propostas feitas pela direita (as vinte e tal medidas de facilitação) então a diferença seria quase nula.

Mesmo algumas medidas mais emblemáticas como a redução da taxa do IVA no sector da restauração ou as 35 horas nem sequer entraram ainda em vigor. Se considerarm os o aumento dos impostos especiais sobre o consumo concluímos que o discurso da direita assenta em mentiras.
  
A grande diferença entre o que tem sido feito e o que Passos faria está na verdade e no respeito pela Constituição. Passos nunca teve a intenção de reverter o que quer que fosse, iria inventar reformas de pensões e nas tabelas remuneratórias no Estado para iludir os acórdãos do TC e não cumpriria uma boa parte das promessas. Mas aprece que Assis não percebeu ou fez que não percebeu ao que vinha a direita que ele tanto aprecia.