Há muitos anos que a verdadeira direita, a direita profunda, não grita o que lhe vai na alma, não reivindica a parte da riqueza que a ordem natural das coisas atribui àqueles que Deus fez nascer com um pirilampo no rabo. Desde os tempos das lutas entre Jesuítas e Maçons, do ódio à Carbonária, que a Igreja arranja a unhas, os cardeais dedicam-se às coisas de Deus e desde o Vaticano II que só transmite bondade e reformismo.
Portugal estava a precisar de um partido de direita liderado por alguém de direita e sem complexos de centros, de um cardeal à moda antiga, daqueles que sabem de que lado deve estar a Santa Madre Igreja, de gente que defenda sem problemas morais aquilo a que tem direito. Esse momento chegou com a grande luta dos colégios privados, ou, para ser mais preciso, de meia dúzia de colégios privados.
Foi bonito ver o cardeal em Fátima a dar a sua bênção à luta, deixando-se de discursos eclesiásticos para se assumir como líder ideológico de uma luta que não podia ser em defesa de pequenos privilégios, do lucro de empresas oportunistas e do conforto financeiro da Fábrica da Igreja, ele próprio deu orientações e promoveu o direito à igualdade de oportunidades, pela primeira vez um cardeal deixou de se dedicar à bíblia, para evangelizar o país com base em princípios constitucionais interpretados por quem autoridade divina e outorgada por Roma para o fazer.
A luta endureceu, os cruzados de amarelos, inspirados pelo cardeal e liderados pela Cristas saíra à rua. Que estavam a fechar os bons colégios, que iam destruir projectos educativos de excelência, que estavam a despedir os professores, que as escolas privadas são dinheiro bem empregue, que queriam destruir o futuro dos seus meninos. Vieram todos à rua, papás com um discurso próprio de quem ganha ordenados mínimos, estudantes dispostos a ficarem encharcados, professores solidários como nunca tinham sido. E vinham todos de amarelo.
Numa boa luta vale tudo menos limpar armas e desde o boicote ao congresso do CDS no Palácio de Crital que não se via nada assim, os cruzados despiram as suas armaduras amarelas e assumiram-.se como guerrilheiros sem fardas para dizerem o que pensavam do PS, aliás, do que sempre pensaram mas só agora tinham sentido a necessidade de o fazer. O PS era isto e aquilo, merecia que lhe sucedesse isto e aquilo. A batalha foi travada, a Assunção não apareceu, o cardeal ficou na obscuridade da sacristia, mas a mensagem estava dada, aos ataques organizados do exército amarelinho iam suceder as batalhas de guerrilha.
Mas as sondagens são tramadas, a Aximage descobriu que os defensores dos colégios pouco mais eram dos que os utentes mais o proletariado da Fábrica da Igreja. De um dia para o outro Passos Coelho deixou de defender os amarelinhos, a Assunção Cristas baixou a dita e o cardeal parece ter regressado aos estudos bíblico. É pena, a sociedade portuguesa precisa de uma destas lutas, ajudam a saber quem é quem, a quem é que cada político serve e para que servem os recursos poupados com cortes de vencimentos e pensões. Por favor Cristas, não baixes a crista.