Ricardo Salgado tentou explicar a crise no BES com a crise financeira internacional e tinha alguma razão, se não fosse a crise desencadeada a partir dos EUA a situação no BES ficaria oculta, pelo menos durante mais algum tempo. Mas o que sucedeu no BES foi o mesmo que assistimos noutros bancos, foi um caso de corrupção, de esquemas mafiosos, de negócios sujos.
O BPN chegou a ser apresentado no jornal Expresso comop um caso de sucesso, Ricardo Salgado era um Deus na banca portuguesa e era bajulado por políticos e jornalistas, o BANIF era na Madeira o banco do regime, o BCP era apontado como um modelo de sucesso da b anca privada. Cavaco apontava a banca privada como um caso de sucesso.
A CGD era o patinho feio ao lado da gestão de excelência na banca privada, mas quando esta ruiu muitos portugueses transferiram as sua poupança para o banco do Estado, era o único porto seguro. A ideia que se tinha era a de que na CGD a gestão tinha em conta a defesa do interesse público, que os créditos eram concedidos com rigor, que os seus gestores defendiam o interesse público.
De repente percebe-se que a CGD perdeu a virgindade, que a ganância tinha atingido as suas chefias, de repente sabemos que há milhares de milhões de euros concedidos sem que tenham tido como contrapartidas garantias válidas. A CGD não foi vítima de qualquer bolha imobiliária, das desgraças de um grupo empresarial associado ao banco ou da crise financeira. A CGD parece ter sido vítima das decisões de concessão de crídito por parte dos seus responsáveis a todos os níveis.
A ideia que tinha era a de que na CGD era tudo mais rigoroso, as taxas de juro eram menos competitivas, os créditos eram concedidos com grandes exigências. Durante muito tempo fui cliente da CGD e nunca senti qualquer simpatia, a CGD não dava nada. Mas de repente sabemos que os administradores, directores de crédito e gestores das suas agências era gente muito generosa, gente que dava crédito primeiro e cuidava dos interesses do banco e do Estado depois, gente muito descuidada a exigir garantias.
E digo que são gente generosa porque não quero falar em ganância, em esquemas de prémios fáceis ou mesmo de corrupção. Fala-se muito de alguns administradores e de alguns negócios, mas a verdade é que o forrobodó na CGD pode ter tido uma extensão mais generalizada. Eu conheço um caso que envolve cerca de um milhão de euros e interrogo-me sobre quantos casos como este existirão em todo o país. Interrogo-me também sobre o que terá levado gestores do dinheiro de um banco público a serem tão generosos.
É um caso interessante que contarei num terceiro post que dedicarei à CDG, fica para a próxima segunda-feira.