quarta-feira, junho 01, 2016

Pontos e pontinhos

Antes de mais uma cruzada das forças policiais nas estradas portuguesas somos confrontados com uma ofensiva pedagógica que teve início com um email da Autoridade Tributária, que nos mandava um panfleto sobre a carta por pontos. 

Como não podia deixar de ser, fomos mais uma vez informados que o mal das estradas é dos condutores, algo que não é nada de novo, o mal dos hospitais é dos doentes que em vez de irem aos centros de saúde vão às urgências, o mal do fisco é dos contribuintes que tentam escapar-se por todos os meios e, como não podia deixar de ser, o mal da sinistralidade é dos automobilistas.

Mais uma vez nos explicam que um esquema repressivo serve para defender os cidadãos exemplares contra os maus cidadãos, os cidadãos modelos ficam com os pontos e são premiados pelo seu bom comportamento, pelo contrário, os maus cidadãos são tramados. Isto é-nos dito por governantes e funcionários superiores eu se desdobram nas diversas rádios e televisões para que os portugueses tenham uma lição intensiva das nossas regras. Nem percebo porque se dão a tanto trabalho, em Portugal todos conhecemos a lei e a ninguém aproveita o seu desconhecimento.

O problema é que não explicam porque razão as anteriores cruzadas falharam, aliás, nunca em Portugal se avaliou a acção das polícias e dos institutos e autoridades que tanto se dedicam ao combate à sinistralidade. Como se explica, por exemplo, que nunca tenham sido cobradas tantas multas, nunca os portugueses pouparam tanto no combustível e mesmo assim aumentou a sinistralidade. 

Depois de tanta multa e multinha agora é que vai ser, com pontos e pontinhos os malandros vão ter mais cuidado. Enfim, às multas e multinhas acrescentam-se agora os cursos e cursinhos mais as novas cartas, isto é, o IMTT e o lóbi das escolas de condução passam a partilhar o sucesso das polícias, beneficiando com mais taxas e taxinhas.

Se a principal causa de morte na capital se regista nas passadeiras porque motivo a polícia nada faz neste capítulo e anda a caçar multas por excesso de velocidade onde ninguém morre?  Qual é a percentagem de multas conseguidas em emboscadas incautos e que servem apenas para aumentar as receitas cobradas pelas polícias?

A verdade é que nunca se viu tanta caça à multa como sucedeu nos últimos anos, as multas e muitas taxas e taxinhas servem para directores-gerais e generais mostrarem receitas para manter mordomias e financiar a gestão dos seus serviços. É por isso que pouco importa que dessas multas, que hoje são um segundo imposto sobre o rendimento, não resulte qualquer redução da sinistralidade.
  
É verdade que os condutores que desrespeitam as normas e as mais elementares regras de civismo têm grande responsabilidade nos elevados. Mas também é verdade que o comportamento das polícias e as estratégias dos seus comandos também têm grandes responsabilidades nos sucessivos falhanços no combate à sinistralidade.