Acontece que os resultados da reforma foram nulos, não foi criado emprego e, tanto quanto se sabe, não atraiu um único investidor estrangeiro. A famosa criação de emprego mais não foi do que manipulação estatística e o resultado da emigração, da desistência dos desempregados ou das aposentações. Lamentavelmente, Passos Coelho tem vindo a usar os indicadores do desemprego como se fossem sinal do desastre das actuais políticas, escondendo que as políticas têm um tempo para surtir efeito e o que ele hoje avalia mais não é do que os resultados das suas próprias políticas.
Se fosse possível aprovar um OE em Março e em consequência das medidas nele previstas observar a criação de emprego em Junho o mundo seria bem mais feliz. Isso significaria que os investidores decidiriam fazer investimentos na hora e que primeiro contratavam os trabalhadores e só depois iriam construir as fábricas. É óbvio que se hoje são criados empregos em consequência de investimentos realizados no passado recente isso é mérito do governo de Passos Coelho. Mas se aumentou o desemprego porque no passado recente as empresas desinvestiram também deverá ser Passos Coelho a assumir as responsabilidades.
Curiosamente, os indicadores do desemprego não contabilizam nem os desempregados, nem a criação de emprego, dão-nos o número dos que procuram emprego. Se ocorreu o encerramento de postos de trabalho o aumento da taxa de desemprego resulta dos trabalhadores que se inscreveram nos centros de emprego na sequência do despedimento, neste caso teremos de estudar a causa destes despedimentos. Mas se não ocorreram despedimentos e há um aumento do desemprego isso significa que muitos trabalhadores que tinham desistido de procurar trabalho voltaram a inscrever-se nos centros de desemprego, pode parecer absurdo, mas neste caso o aumento do desemprego é um sinal de esperança.
Em matéria de política económica é preciso dar tempo ao tempo, cada medida tem o seu tempo para se reflectir nos indicadores económicos. Nenhum governo faz milagres em três meses e se quisermos interpretar os actuais indicadores teremos de considerar que resultam de políticas implementadas no passado recente.
Pode-se argumentar que as mudanças políticas ou os discursos políticos desencadeiam mudanças de comportamento nos agentes económicos, o que também é verdade. Neste caso teremos de avaliar o impacto do processo difamatório promovido pela direita conta o país e compará-lo com o discurso optimista de Marcelo ou irritantemente optimista de António Costa.