sexta-feira, junho 24, 2016

O muro de Berlim reemergiu para dividir o Reino que era Unido

A história prega-nos destas partidas, a queda do mudo de Berlim alterou tanto a Europa que acaba por conduzir à saída do Reino Unido e o muro que divida a Alemanha parece ter reemergido para dividir novamente a Europa e o Reino Unido. A Europa não volta a ser a mesma, enquanto a gloriosa Grã-Bretanha dá mais um passo no sentido de uma decadência iniciada com a Grande Guerra, perdido o império, perde a influência na Europa e acaba por se dividir.

Se na França o PCF perdeu muitos dos seus eleitores para a extrema-direita, no Reino Unido os sindicatos que servem e suporte ao Labour aproximaram-se das teses xenófobas e proteccionistas da extrema direita escondida atrás do eurocepticismo. Não admira que Nigel Farage tenha aproveitado a sua proclamação como líder dos ingleses para apelar à destruição da União Europeia e ao apoio aos partidos da extrema-direita.

Os processos negociais não vão ser fáceis e com a extrema-direita a transformar o Labour e o Partido Conservador em fanicos avizinham-se roturas não só internas, mas principalmente nos processos negociais, quer os da separação, quer os do TTIP. O discurso de vitória de Nigel Farage, hoje de manhã, lembrou o discurso de Yeltsin em cima de um tanque, junto à Duma. Por lá a Rússia desmoronou-se com um líder bêbado, no Reino Unido vamos ter um primeiro-ministro que fala como se fosse um treinador de futebol.
  
Nem mesmo a Commonwealth ficará unida em torno da velha e Grande Albion, países como a Austrália, o Canadá ou a Nova Zelândia beneficiaram muito com as negociações da adesão do Reino Unido à CEE pois muitas das relações comerciais privilegiadas que mantinham com o Reino Unido passaram a ter com a CEE. Por outro lado, uma boa parte da Commonwealth beneficia de vantagens concedidos no quadro dos vários acordos preferenciais, como é o caso dos SPG e principalmente dos ACP. 

É quase certo que o muro que desapareceu em Berlim vai separar a Escócia da Inglaterra e Gales e não seria de admirar se um dia destes acordarmos com a Irlanda reunificada. Os ingleses sonham com as velhas glórias e um dia destes vão acabar reduzidos a Inglaterra e Gales, mais pobres e, depois de terem corrido com os emigrantes, a terem de limpar a caca que fazem e liderados por um rei que em tempos tinha por desejo ser o penso higiénico da Camilla Parker Boyles.

Na Europa veremos se a Alemanha declara Berlim como a capital do IV Reich ou se volta a ter a posição mais humilde dos tempos em que precisava dos que a defendiam no Atlântico e no Mediterrâneo e volta a apostar no eixo franco-alemão. Veremos quais as consequências políticas e militares de uma separação com uma Inglaterra que parece não estar a resistir ao perfume da extrema-direita.

Por cá será interessante ver como reage a direita e, principalmente, a extrema-direita fina dos Portas, Passos, Luísas, Cristas e Morgados. É uma direita com um grave problema de bipolarismo, de dia são machos e à noite anda a passear pelo Parque, de dia são social-democratas e à noite confessam-se admiradores de Salazar. No passado foram gemanófilos quando Hitler estava em vantagem e transformaram-se em atlantistas quando os aliados ganharam a guerra. Recentemente lamberam os pés ao Wolfgang Schäuble, veremos como se posicionam agora que estão divididos entre o dinheiro alemão (dantes a gula era o ouro dos judeus) e o tal atlantismo de que tanto falam. Veremos até quando esta direita que é europeísta de dia e eurocéptica à noite assume o seu projecto político em vez de se esconder atrás de siglas como o “social-democracia sempre”.