Nunca a execução orçamental justificou tanta ansiedade e cada dia 25 do mês parece que o país político e jornalista para como se estivesse à beira de mais um dérbi decisivo entre a equipa do JJ e o SLB. A execução orçamental é escrutinada no seu mais pequeno pormenor, já não basta que se cumpram as metas do défice, analisam-se as receitas fiscais em pormenor, se estão em linha com o previsto vai-se ver se alguma coisa correu menos bem, se nada puder servir de crítica analisam-se as tendências.
O princípio seguido por alguns analistas é sempre o mesmo: “ao mau cagador até as calças empatam!”, nada está bem, a desgraça vem aí. Desta vez todos esperavam uma pequena desgraça, este governo teve de absorver o impacto do inflacionamento das retenções na fonte do IRS que geraram grandes devoluções aos contribuintes, bem como os reembolsos abusivos do IVA eu a Maria Luís mandou fazer com o intuito de enganar os eleitores com a famosa devolução da sobretaxas e que acabaram por ter de ser processados em 2016, para não penalizar o défice de 2015.
Mas, azar dos azares, a desgraça não aconteceu e o traste de Massamá ficou a falar sozinho. Passos Coelho aqueceu o ambiente, primeiro com a banca e depois com as sanções, foi ao conselho nacional do PSD anunciar a desgraça com um discurso político que teve o seu momento orgásmico na festa madeirense, muito provavelmente com as ponchas a servir de viagra ideológico. As coisas correram mal, a ressaca não foi das melhores e Passos teve de invocar motivos de saúde para justificar a ausência na audiência de Marcelo, ficando mudo perante a execução orçamental.
Compreende-se a importância política da execução orçamental, é desta que depende a solidariedade da direita europeia representada na Comissão e só uma desgraça orçamental que desencadeasse uma nova crise financeira poderia viabilizar o programa político de Passos Coelho. O programa da direita não depende apenas de resultados eleitorais, implica uma desgraça que permita a Passos governar à margem da lei.
Não admira que nada mais interessa à direita, tudo se joga no plano orçamental e a execução orçamental, a quem ninguém prestou atenção durante dezenas de anos, é agora o único documento que anima Passos Coelho e uma direita que aposta tudo num segundo resgate para governar contra a Constituição, contra a democracia e contra o próprio Marcelo.