O que mais me impressionou na votação para a presidência do Conselho Económico Social não foi o facto de dois partidos terem chegado na um compromisso e depois esse mesmo compromisso não ter sido respeitado pelos deputados de um ou dos dois partidos envolvidos. Até aqui tudo estaria bem, os deputados não foram eleitos para serem borregos parlamentares e é natural que discordem das respectivas lideranças parlamentares.
O problema é que os nossos deputados não são borregos mas são cobardes, nem um criticou esse compromisso antes da votação e nenhum assumiu o seu voto depois da votação. Dir-se-á que o voto é secreto para que cada um vote sem pressões e de acordo com a sua consciência, mas a verdade é que a consciência dos deputados não é secreta e muitos portugueses poderão agora interrogar-se se não terão ajudado um cobarde a ser deputado do parlamento.
Como eleitor não me incomodaria que um deputado que eu tivesse ajudado a ser eleito tomasse decisões diferentes das minhas, um deputado representa muita gente e é natural que existam opiniões divergentes. Mas a hipótese de ter ajudado a eleger um cobarde que assume compromissos e depois não os cumpre a coberto do voto secreto deixa-me muito incomodado.
Esta situação não enobrece os deputados e mostra-nos o lado escuro dos nossos partidos, chega-se a deputado por se ser amigo do chefe, por ter sido sugerido por algum ricaço, por se ter feito um frete no passado, depois anda-se quanto anos em pavoneios parlamentares, fazendo intervenções de ocasião e gerindo influências. Nos momentos importantes decide-se na calada de uma caixa que esconde a cobardia.
É vergonhoso que tantos deputados se façam de sonsinhos fazendo de conta que votaram de acordo com um compromisso assumido pelo seu partido, como se fossem putos do ensino básico que fizeram uma asneira. É vergonhoso que um deputado se esconda no anonimato para se vingar de alguém que em tempos fechou uma maternidade com padrões de qualidade medieval.
Aquilo a que o país assistiu foi a um gesto colectivo de cobardia.