Alguém se lembra do Panamá Papers? Certamente que sim, muito
menos dos que na ocasião se interessaram pelo tema e muito menos dos que ainda
se lembram do Swissleaks, ainda que quando surgiram os primeiros alguém tenha
vindo a público garantir que o fisco não se tinha esquecido dos outros. Quando
o caso estalou o então diligente secretário de estado dos assuntos fiscais
apressou-se a dar “instruções à administração tributária para ter acesso
imediato aos 611 nomes de pessoas ligadas a Portugal e que constam de uma lista
com contas bancárias na Suíça. O banco HSBC terá ajudado clientes de todo o
mundo a esconder do fisco de mais de 180 mil milhões de euros, revelou a
investigação Swissleaks.”
O que é certo é que os resultados de todo o alarido do
Swissleaks foi o que se viu, um zero absoluto, ainda entreteve o voyeurismo
nacional quando se “apanhou” uma inspectora de Finanças (IGF) com uma conta
choruda mas esgotada a má língua tudo ficou em águas de bacalhau.
Com o caso Panamá Papers o espectáculo foi bem maior, tudo
começou com jornalistas a explicarem com ar muito ´serio que tinham sido os
eleitos para aceder aos grandes segredos, que até tinham recebido formação para
trabalhar nas bases de dados da informação. Era à TVI e ao Expresso que cabia a
representação nacional e o país ficou suspenso, prometiam-se grandes
revelações.
Mas tudo tinha que ser feito a conta-gotas porque antes de
divulgar tinha que se estudar bem os processos pois nem tudo é ilegal.
Entretanto, algumas personalidades já caídas em desgraça iam vendo os seus
nomes a alimentar a vendas do Expresso. Foi o caso, por exemplo, do dono da
Bial e do actual bombo da festa nacional, Ricardo Salgado. Entretanto ia-se
aguçando a vontade de comprar o Expresso da próxima semana, sugerindo-se novas
revelações.
A verdade é que o país foi enganado pelos distintos
jornalistas do Expresso e da TVI e hoje já ninguém se lembra de absolutamente
nada. O caso Panamá Papers não foi mais do que um Panamá Tretas e aqueles
órgãos de comunicação social limitaram-se a gerir o caso em favor das suas
audiências, algo importante para assegurar os seus vencimentos e prémios de
desempenho. E da mesma forma que o caso foi lançado acabou por ser bem abafado
e hoje ninguém sabe se a montanha pariu um rato ou se os nossos corajosos
jornalistas apanharam quem não deviam apanhar.