segunda-feira, julho 18, 2016

A institucionalização da pouca-vergonha

Marques Mendes deixou de ter acesso aos segredos do governo, deixou de ser uma espécie de porta-voz oficioso do governo, como sucedeu no tempo de Passos Coelho, mas continua a surpreender e isso voltou a suceder neste sábado. Marques Mendes revelou o teor de uma carta do BCE sobre as exigências desta instituição em relação à CGD.
  
O país ficou a saber mais uns segredos e Marques Mendes manteve o interesse do seu tempo de antena, alimenta assim o seu poder pessoal que dá jeito na hora de influenciar negócios. Mas pior do que o país ter ficado a saber o teor da carta foi o facto de Marques Mendes não se ter limitado a vender o seu peixe, foi mais longe e exibiu a carta. 

O país e a Europa ficou a saber que Portugal é um país com alguma classe política muito rasca, há poucos dias Durão Barroso surpreendeu a Europa e o mundo ao vender os seus serviços à Goldman Sachs, agora o BCE e as instituições europeias ficaram a saber que Portugal é um país que merece pouca confiança, onde a palavra confidencialidade não existe e os seus políticos não se limitam a divulgar informação sigilosas, exibem-se os documentos.

Este gesto de Marques Mendes mostras que a corrupção está institucionalizada, a sua rede de amigos e velhos afilhados bem colocados colocam a obediência aos interesses de Marques Mendes acima dos interesses do país. Marques Mendes foi menos bem sucedido do que o seu sucessor na liderança do PSD e colega no governo de Cavaco Silva, não ganhara tanta como Barroso vai ganhar na Goldman, mas prova que a sua passagem pelo poder lhe permite fazer render os seus conhecimentos por muitos anos.
  
Este gesto de Marques Mendes tem por base dois tipos de corrupção, a corrupção moral em que alguma classe política vai atolando Portugal e uma corrupção económica que gera negócios com base em influências. A passagem de Marques Mendes pelo poder permitiu-lhe promover muita gente, gente que lhe obedece como mos soldados das organizações mafiosas obedecem ao seu capo.
  
O problema é que não estamos a falar de uma personagem qualquer, falamos de alguém que foi líder do PSD, que foi membro de vários governos, que pertence ao Conselho de Estado. Como é que tal é possível e ninguém mostre indignação, como é que se pode aceitar que um Conselheiro de Estado designado por Marcelo Rebelo de Sousa tenha tal comportamento, atirando a credibilidade do país para o lodo?