terça-feira, julho 12, 2016

Tempos de hipocrisia

Estas exaltações nacionais costumam ser um momento de irracionalidade, de um lado os derrotados humilham uma nação com a sua falta de grandeza, do outro inventam-se heróis e constam-se histórias dos tempos em que o agora maior ponta de lança da história do futebol português marcava golos a troco de costeletas. Pelo meio safa-se o puto Matisse que nos proporciona o momento mais bonito do campeonato, o que levou a CM a procura-lo rapidamente, talvez para leiloar a bandeira ou a camisola que o puto usava nas imagens do Euronews. O mesmo Ronaldo de que os nossos exemplares jornalistas diziam andar metido com um boxeus marroquino (até noticiaram que o Real Madrid tinha metido uma cunha ao Reio de Marrocos para vigiar as supostas escapadelas de Ronaldo) é agora para esses "jornalistas" o modelo de macho latino!
  
Chega-se ao ponto de um jornalista da rádio num momento de exaltação nacional sugerir que os destinos do país deviam estar nas mãos de um homem de fé. Só não explicou se estava a pensar no treinador dos tempos do Atlético, do Amadora, do Sporting, do Benfica e de vários clubes gregos ou o agora melhor treinador a trabalhar em Portugal. A verdade é que não seria o primeiro a chegar a primeiro-ministro sem vitórias eleitorais e as sanções a 0% (uma novidade que nasceu com o título de professor catedrático do ISEG a tempo parcial 0% que João Duque concedeu a licenciado Eduardo Catroga) é o equivalente político do golo que Gignac mandou ao poste esquerdo da baliza de Rui Patrício.

Longe vão os tempos em que uma equipa que teve o mérito de defender bem no campo do adversário, vencendo um jogo que lhe valeu um título, era uma equipa pequenina. Onde estão todos os jornalistas que elogiavam o futebol bonito não se cansavam de elogiar o outro treinador que passou pelo Amadora e até o consideraram o melhor treinador da época, mesmo tendo ganho apenas uma taça de pré-época? 

Até há dois meses elogiava-se o futebol bonito, o futebol de ataque, os modelos de jogo. Agora assistimos ao primado do mau futebol desde que ganhe, do futebol do autocarro, do futebol das jogadas de sorte. Lá fora há quem queira repetir o jogo como se da próxima vez a bola não fosse ao poste ou o Ronaldo não ficasse lesionado e com isso o Ederzito poderia ter ficado em campo.

Esta da petição dos franceses para repetir o campeonato, de que tanto gozamos agora, faz lembrar a proposta de Passos Coelho de revisão da Constituição para repetir as eleições legislativas tão depressa quanto possível. Aliás, o destino tem destas coisas, Passos faltou à festa do título em Belém porque não conseguiu regressar de Paris a tempo, algo semelhante à posse de Marcelo a que o líder do PSD faltou por ter ido dado uma aula aos bifes.