O último ano e meio merece uma reflexão profunda, quer no plano político quer no da política económica. Pela primeira vez um governo formado e apoiado exclusivamente à esquerda adota uma política de austeridade conseguindo reduzir o défice a níveis históricos, conseguindo níveis surpreendentes de criação de emprego e de crescimento. Foi um ano e meio em que se derrubaram tabus e preconceitos e com sérios motivos para reavaliar algumas certezas no domínio da política económica.
É possível o Estado ser gerido com rigor e austeridade com diálogo e consenso, é possível conciliar austeridade com equidade, é possível adotar uma política de reequilíbrio das contas públicas sem comprometer o crescimento económico. Comparando o que este governo fez em ano e meio com o que se viu anteriormente é evidente que estamos perante uma política económica conduzida com competência, por oposição a uma política económica velhaca que em vez do progresso coletivo estava orientada para que uns enriquecessem à custa de outros.
Ainda há poucos meses Passos dizia que os investidores só confiavam na direita, um tabu defendido por uma direita imbecil, convencida de que os investidores só apostam em Portugal quando personagens como Cavaco, Passos, Marques Mendes, Durão Barroso e outras estão no governo. Um segundo tabu que foi derrubado é o de que a direita é mais competente e rigorosa do que a direita.
Quando Passos ganhou a eleições o seu “progenitor” Miguel Relvas chegou a declarar que com a direita portuguesa no governo as agências de rating não tardariam a tirar a dívida portuguesa do “lixo”. Foi o que se viu, é com um governo de esquerda que a Comissão Europeia, de uma Europa maioritariamente governada pela direita, retirou Portugal do procedimento dos défices excessivos e apela às agências de rating para uma revisão urgente da notação atribuída à dívida portuguesa. O economista tantas vezes gozado pela direita portuguesa é hoje reconhecido como um candidato à presidência do Eurogrupo.
A economia cresceu, o país está confiante, os investidores internacionais voltam a olhar para o país, as exportações cresceram apesar das dificuldades em mercados como o de Angola, Venezuela e Brasil. Tanto a direita como a esquerda terão muito para aprender, terão muitos preconceitos e tabus para abandonar. A direita e os seus economistas terão de perceber que em economia não há verdades absolutas e que as suas escolas não são melhores do que as dos outros. A esquerda tem de aprender que os trabalhadores têm muito m ais a ganhar com crescimento económico e uma gestão rigorosa e competente do estado, do que com défices descontrolados e gloriosas lutas laborais.