1.º de Maio de 1976 (foto de A. Moura)
Ouço Arménio Carlos e fico preocupado. No porque ele possa cercar o parlamento ou liderar um a cintura industrial de Lisboa num assalto ao Palácio de Inverno, algo em que parece acreditar. Não sei muito bem o que será essa “política de esquerda” milagrosa que tudo resolver, ou como se poderá reestruturara a dívida contra os credores e voltar a contar com eles.
Fico preocupado porque Arménio Carlos volta a falar em greves gerais, tentando forçar uma política redistributiva que parece ignorar a realidade. Quem ouve alguns políticos portugueses fica com a impressão de que Portugal é um país rico e que todos os seus males resultam de uma política salarial injusta, decidida pela direita e pelo PS só por maldade e ódio aos trabalhadores.
Esta que não é apenas de Arménio Carlos é muito perigosa e a ser levada a sério pode voltar a dar o poder à direita, tendo por consequência a perda de mais direitos laborais, a destruição de mais riqueza e mais uns orçamentos inconstitucionais, com cortes de salários e de pensões e aumentos de impostos.
Não seria má ideia se os líderes sindicais portugueses se deixassem de demagogia e reconhecessem que Portugal não é um país rico, que tem recursos escasso e que tem sérios problemas de competitividade, alguns deles resultantes dos modelos laborais. A pobreza não resulta apenas de má distribuição da riqueza, mas também da sua escassez.
Graças a um política competente e rigorosa do Estado o país volta a poder respirar, ao poucos as empresas saem de um pesadelo, mas as dificuldades ainda são muitas. Mas Arménio Carlos está impaciente e fala grosso, fala como se os submarinos soviéticos estivessem na foz do Tejo, como se o COMECON estivesse de braços abertos para nos comprar os produtos, como se a velha indústria siderúrgica fosse a salvação do país.
Infelizmente Arménio Carlos não tem razão, não parece perceber muito de economia e não conta com o apoio dos seus velhos D. Quixotes heroicos. A questão é simples e Arménio Carlos tem de decidir que come os poucos ovos que temos ou se prefere deixar crescer os frangos. A questão está em saber se quer que Portugal progrida ou em nome da sua ideologia prefere ajudara a direita a promover mais um retrocesso.