Passos Coelho já não tem discurso, já não sabe se deve anunciar a vinda do diabo, se o melhor é tirar férias porque o governo vai cair, se deve dizer que tudo falhar ou assegurar que tudo o que de bom venha a suceder a ele se deve. Se fosse um pouco mais inteligente poderia aproveitar as autárquicas para ignorar esta fase má em que tudo corre bem ao país e dedicar-se às temáticas locais, parasitando um ou outro dos seus autarcas mais exemplares. Fazia como Assunção Cristas, propunha muitas estações de metropolitano, sugeria rotundas e outras obras e esperava que o tempo fosse passando, mais tarde ou mais cedo poderia acontecer algo de mau que o ajudasse.
Mas a lucidez política de Passos não é muita, compreende-se, tudo lhe corre mal desde aquela malfadada hora em que chamou cata-vento a Marcelo, desde então falhou em tudo, pensava que uma vitória de Marcelo dependia do seu apoio e enganou-se, imaginava que a esquerda nunca se uniria e lhe bastaria uma vitória pequenina e está na oposição, esperava que o país precisasse de um segundo resgate e é ele que está à beira de ter de ser resgatado.
Prometeu que não tiraria consequências das autárquicas no plano nacional isto é, que não se demitiria por maior que fosse uma derrota nestas eleições e agora usa os jantares de lombo assado da campanha autárquica para ter antena ao nível nacional. Parasita as iniciativas dos seus autarcas para ganhar a notoriedade nacional que não consegue nos debates parlamentares. Opta por discursos sem contraditório para criticar o governo à sexta à noite.
Sem argumentos a sua lenga, lenga é sempre a mesma, as reformas, as reformas que ele fez e o governo não faz. Mas de que reformas fala Passos? Só pode ser da reforma dos cortes de vencimentos e das pensões, o aumento do IVA na restauração e os feriados transformados em dias nacionais de trabalho escravo.
Nos últimos anos foram feitas algumas reformas, uma reforma laboral iniciada e feita em grande medida durante o governo de Sócrates, uma reforma do regime da Função Pública feita igualmente por Sócrates, uma reforma da legislação do arrendamento iniciada antes de Passos e uma reforma do imposto sobre o património feita pró Manuela Ferreira leite. De que reformas que fala o senhor das reformas, provavelmente refere-se à sua própria reforma, aquela que para muitos, principalmente os do seu próprio partido, é a reforma mais urgente de que o país carece.