Foi lindo ver Marcelo agradecer publicamente a Passos Coelho pela saída do procedimento dos défices excessivos, só não entendi se o fazia com sinceridade, para salvar a honra do seu próprio partido ou se por ironia.
Sugiro a hipótese da ironia pois tenho muitas dúvidas de que Passos Coelho estivesse muito interessado nessa saída, quer como líder da oposição, quer se fosse ainda primeiro-ministro. Se os membros da Comissão Europeia tivessem a mesma opinião de Passos e Maria Luís acerca das políticas deste governo, dos seus resultados e das expectativas em relação ao futuro nunca proporiam ao Ecofin tal saída.
Os argumentos da Comissão Europeia para propor a saída de Portugal do espartilho orçamental resultante do procedimento dos défices excessivos são a negação de tudo o que Passos tem dito ao longo de mais de um ano. Nem é preciso recuar muito no tempo, para ouvir de Passos Coelho declarações pouco abonatórias em relação aos resultados. Ainda há poucos dias um senhor que tem o hábito de ser a voz do dono, desvalorizou o crescimento económico, dizendo que o mesmo é resultado da crise no Mediterrâneo.
Mas será que se Passos ainda fosse primeiro-ministro estaria interessado em tal desfecho?
O crescimento económico apenas esteve temporariamente na agenda de Passos Coelho, porque foi obrigado a cumprir acórdãos do Tribunal Constitucional e porque lhe dava jeito em período eleitoral. A agenda de Passos Coelho implicava uma situação económica que lhe permitisse continuar com medidas inconstitucionais e isso só era viável com a política do medo que adotou durante quatro anos.
Passos ficou a meio a sua agenda económica, não teve tempo para consolidar juridicamente os cortes dos vencimentos no Estado e a redução das reformas, não promoveu o despedimento em massa de funcionários públicos e não conseguiu o “ajustamento” no setor privado, algo de que se queixava com frequência declarando que o Estado já o tinha feito.
A saída do procedimento dos défices excessivos teria sido uma má notícia para quem queria ter um povo cheio de medo e um Tribunal Constitucional soba a ameaça permanente da bancarrota. O elogio de Marcelo só poder ter sido ironia marcelista.