A esquerda francesa tal como a conhecíamos desde o final da II Guerra Mundial desapareceu, dos velho militantes do PCF parece só ter sobrado a preferência pelo autoritarismo e terão votado Le Pen, a extrema-esquerda de Mélenchon, o tal senhor de que Catarina Martins disse que o homem até tinha cantado a Grândola Vila Morena é ridículo, longe vão os tempos do Maio de 68 e agora muitos dos seus militantes ficam em casa, porque é-lhes indiferente que seja uma fascistas ou um democrata a ganhar as eleições.
O PCF teme a sua missa do 7.º dia, a extrema-esquerda vai debater eternamente o que será melhor para a França, se uma fascista ou um democrata, o PSF envelheceu e não se renovou. Mas a verdade é que o presidente eleito da França veio da esquerda, talvez uma esquerda que não passa pelo crivo dos velhos sacerdotes, mas alguém que nunca se juntou à direita. Macron não só veio da esquerda como é o primeiro líder europeu com menos de 40 anos, se fosse em Portugal diríamos que nasceu depois do 25 de Abril.
A direita desmoronou-se, sem projeto, sem uma afirmação jovem, ficou reduzida à extrema-direita e acabou por soçobrar, apelando ao voto de um independente vindo da esquerda. Dir-se-á que a direita teve os votos de Le Pen e pouco mais. Pressionada pela extrema-direita e pela renovação da esquerda que Macron representa, a direita francesa está em crise.
Estas eleições representam o fim dos dogmas do modelo político que dominou a Europa. Os desfavorecidos, que durante décadas, alimentaram eleitoralmente a esquerda, vota agora na extrema-direita, a esquerda mais conservadora mudou-se para a Le Pen e uma boa parte do discurso de Le Pen podemos ler em muitos discursos e documentos do PCP ou do BE, as suas grandes batalhas, como a saída da EU ou do euro, as críticas ao capitalismo e à banca, estão no discurso da nossa esquerda conservadora.
Não foram os votos das “classes trabalhadoras”, a velha classe operária que no leninismo é a “líder do proletariado”, ou os agora muito adorados micro-empresários, que livraram a França de uma presidente fascista, foi a classe média. É a classe média que nos EUA mais se bateu contra Trump, que no Reino Unido lutou e luta contra o Brexit e que na França travou a extrema-direita. Do lado do Brexit, da extrema-direita e de Trump estiveram os “desprotegidos”, os pequenos empresários e até os emigrantes “de primeira”.