terça-feira, junho 27, 2017

O político abutre



Há abutres, fundos abutres e, pelo que se vê, também há políticos abutres, políticos que em vez de se esforçarem fazendo as suas propostas preferem esperar que uma qualquer desgraça surja para se aproveitarem da situação. Já vimos isto com o PEC IV, pouco depois repetiu-se com a troika, no ano passado o abutre voltou a voar em círculos sobre o Terreiro do Paço, aguardando a vinda anunciada do diabo, agora foi novamente visto a sobrevoar Pedrógão Grande. Passos é um político abutre.

Não é a primeira vez que Passos exibe o perfil de um político que não perde a oportunidade de se alimentar com carne putrefata, uma boa parte do seu sucesso político tem sido feito à custa de crises financeiras e de processos judiciais. Chega ao poder com uma crise e mantém-se no poder durante quatro anos com o maior partido da oposição pressionado devido a um processo judicial, de que ele se soube aproveitar depois de dizer que não o faria.

O incêndio de Pedrogão Grande colocou Passos perante um dilema difícil, como aproveitar a desgraça sem deixar passar a imagem do abutre que se aproveita da morte? Passos começou com a pantomina do político responsável, mas a fome é má conselheira e os seus instintos mais primários foram atiçados pela fome desesperada de votos. Não se conteve, com o candidato autárquico do PSD de Pedrógão Grande usando as vestes de um santo provedor estava reunidas as condições para o seu voo circular sobre a desgraça.

Quando achou que o governo já se teria retirado foi em busca de desgraças e quando lhe disseram que várias pessoas se tinham suicidado ou tentado o suicídio não se conteve, não importa os princípios, os cuidados a ter, o cheiro a carne putrefata era tão forte que lhe toldou a lucidez, não resistiu à tentação.  E mesmo quando o assessor lhe segredou em direto que a morte não se confirmava Passos não largou o "manjar", não tinha morrido ninguém mas isso não importavam, tinham tentado o suicídio e estavam hospitalizados. Como qualquer abutre que se preza, se a vítima ainda estava viva ele estava ali para aguardar até que morresse.

Perante um país indignado Passos percebeu que tinha caído na sua própria armadilha, encomendou ao seu lacaio de Pedrógão que corresse para as televisões assumindo a culpa da má informação. O pobre diabo do provedor da Santa Casa que estava mais empenhado em ajudar Passos do que as vítimas dos incêndios, lá fez o "minha culpa, minha máxima culpa". Mas por mais que seja voluntarioso na ajuda à inesperada vítima dos incêndios, o pobre diabo não é responsável pelo comportamento de abutre do seu chefe. Restava a Passos aproveitar a apresentação de Seara como candidato a Odivelas, para se tentar retratar.

A emenda foi pior do que o soneto, tentou converter o seu comportamento miserável numa ajuda às vítimas dos incêndios, ninguém se tinha matado mas havia falta de apoio e graças á presença de um abutre nos céus de Pedrógão o governo lembrou-se das vítimas, pobre gente, o que seriam deles se não fosse Passos Coelho! Depois foi-se enterrando, depois de dar um raspanete ao jornalista que chegou atrasado ao encontro combinado lá explicou a sua tese de abutre.

Explicou que se um bombista cometesse um atentado o governo seria sempre o responsável. A sua teoria está explicada, perante uma desgraça o governo é sempre responsável e a ele cabe sempre o papel de abutre. Numa versão mais bondosa lá explicou que o Estado devia assumir a culpa e poupar as vítimas a processos judicias envolvendo as companhias de seguros. Isto é, sempre que ocorrer uma calamidade os banqueiros e seguros devem ser dispensados, para poupar os cidadãos o governo de assumir as culpas.

O país viu um Passos como nunca tinha visto ou não se teria apercebido de quem era, um político abutre sem grandes dotes inteletuais. É assim, os abutres não são conhecidos mais pela sua paciência e oportunismo do que pela sua inteligência. Mas na natureza os abutres são necessários e têm um importante papel a desempenhar, não é o caso deste nosso político abutre.