sexta-feira, junho 23, 2017

Umas no cravo e outras na ferradura



 Jumento do Dia

   
Pedro Pimpão, deputado

Para Pedro Pimpão o soldado da GNR de castanheira de Pera é membro do governo e António Costa deve ser responsável por tudo o que qualquer agente da autoridade faça.

«Os deputados do PSD que estiveram no terreno e nas zonas afetadas pressionaram o partido — na reunião da bancada social-democrata desta quinta-feira — a enfrentar a “propaganda” do Governo, apesar de o momento ser de luto. “Já chega!”, disse emocionado um dos deputados. Outro optou, também ainda abatido, por contar que a própria filha foi encaminhada pela GNR para a estrada da morte, mas decidiu seguir outra alternativa. Foram várias as vozes da bancada a insistir que está na hora de começar a escrutinar a ação do Governo.

O deputado Pedro Pimpão, eleito por Leiria e que esteve desde o primeiro dia no terreno, emocionou-se na reunião de bancada enquanto garantia aos outros deputados que o discurso oficial do Governo não bate com a realidade. “Custa-me ver toda esta propaganda sem respeito pelo que aconteceu. Sei que o PSD deve respeitar o luto mas já chega, é preciso que as pessoas saibam a verdade“, afirmou o deputado na reunião à porta fechada, de acordo com declarações recolhidas pelo Observador e que o Expresso também noticiou. A direção da bancada e a direção do partido estão a preparar-se para não dar tréguas ao Governo na busca de responsabilidades pelo que aconteceu.» [Observador]

 Sugestão

Se nos próximos dias aparecerem "especialistas", professores universitários ou políticos  a argumentarem em defesa das celuloses, com argumentos de que as críticas ao eucalipto não têm fundamento científico, que o problema é dos abusos e que o setor é fundamental para a economia, exijam-lhes que façam as suas declarações de interesses, que nos digam se de alguma forma ganham dinheiro com os eucaliptos.

 Estradas da morte

Vivemos num país onde muitas centenas de polícias e funcionários municipais se dedicam à caça às multas do estacionamento, somos perseguidos a toda a hora por agentes muito diligentes na hora de passar o aviso das multas, as instituições do Estado multa o cidadão comum por tudo e por nada.

Mas parece que o rigor no estacionamento não se aplica quando está em causa a proteção da ida, da mesma forma que em Lisboa se multa muito por estacionamento e muito pouco por desrespeito pelas passadeiras de peões, há centenas de quilómetros de troços de estradas onde a zona de segurança em que a lei proíbe a florestação não se respeita. É óbvio que os donos desses terrenos não querem prescindir neles, são os de mais fácil acesso e ao a madeira é só lucro. Mas as leis, os fiscais e os polícias servem para que o país não seja uma selva.



A imagem mostra a agora mal afamada EN236, que ficou conhecida por "estrada da morte". Trata-se de um troo na zona onde se registaram as mortes numa imagem do Google Maps anterior ao incêndio. Quem quiser pode percorrer essa estrada recorrendo ao Street View. Em muitos troços, como o da imagem os eucaliptos chegam à beira do asfalto, estando separados por uma vala de meio metro.

Ninguém viu isto na estrada EN236, o mesmo sucedendo em centenas de troços de estrada deste país? Quem fiscalizou a EN236, quem são as suas chefias imediatas que fizeram de conta que davam ordens para cumprir e fazer a cumprir a lei? O que levará a que muitos responsáveis e agentes da autoridade ignorem a lei num país com tantos e tão violentos incêndios.

O mínimo que se exige é que os responsáveis pela fiscalização deste troço sejam acusados de homicídio involuntário. Aposto que nas semanas seguintes vão chover multas e ordem para abater eucaliptos que estão na beira da estrada.

Não faria sentido aumentar aquela distância para vinte metros? Imagino que os madeireiros e as celuloses não gostariam, mas que se danem, à frente dos seus interesses está a segurança dos portugueses.

      
 Não deixar morrer
   
«Toda a gente está a falar da tragédia de Pedrogão. Muitos se lembram da última vez que se falou da última tragédia. Exprimem-se indignação, revolta, angústia e desespero. Às forças da inércia, da preguiça, do statu quo, do deixa-andar que acaba por dar em deixa-arder, basta esperar que tudo passe. Até acontecer outra tragédia e começar tudo outra vez.

Como se pode impedir este sistema cómodo e assassino de sobreviver? As forças do deixa-arder, para disfarçar, erguem-se a protestar também, para não destoar. As forças do deixa-arder tudo fazem para deixar desabafar quem quiser. É desabafando que eventualmente perderemos o fôlego. Depois do desabafo - contam esses poderes instalados - virão o cansaço, o abatimento, a desistência e a aparência externa, politicamente crucial, de indiferença e esquecimento.

Malfeitores são também os que não fazem nada ou só fazem o mínimo para parecer que respondem aos protestos. Malfeitores são também os que, no momento da tragédia, prometem fazer o que ainda não fizeram. Esses são os primeiros a esquecer as promessas. Só se lembram delas para voltar a fazê-las: as mesmas promessas com que nos calaram da última vez.

Como se há-de manter este saudável sobressalto em que tantas vozes discordantes se levantam? Como se há-de manter esta heróica teimosia em repetir o que já se gritou tantas vezes em vão?

É a quantidade de vozes que importa, até mais do que dizem ou divergem. É preciso que não se calem, para que não contem com o nosso silêncio.» [Público]
   
Autor:

Miguel Esteves Cardoso.