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Para Pedro Pimpão o soldado da GNR de castanheira de Pera é membro do governo e António Costa deve ser responsável por tudo o que qualquer agente da autoridade faça.
«Os deputados do PSD que estiveram no terreno e nas zonas afetadas pressionaram o partido — na reunião da bancada social-democrata desta quinta-feira — a enfrentar a “propaganda” do Governo, apesar de o momento ser de luto. “Já chega!”, disse emocionado um dos deputados. Outro optou, também ainda abatido, por contar que a própria filha foi encaminhada pela GNR para a estrada da morte, mas decidiu seguir outra alternativa. Foram várias as vozes da bancada a insistir que está na hora de começar a escrutinar a ação do Governo.
O deputado Pedro Pimpão, eleito por Leiria e que esteve desde o primeiro dia no terreno, emocionou-se na reunião de bancada enquanto garantia aos outros deputados que o discurso oficial do Governo não bate com a realidade. “Custa-me ver toda esta propaganda sem respeito pelo que aconteceu. Sei que o PSD deve respeitar o luto mas já chega, é preciso que as pessoas saibam a verdade“, afirmou o deputado na reunião à porta fechada, de acordo com declarações recolhidas pelo Observador e que o Expresso também noticiou. A direção da bancada e a direção do partido estão a preparar-se para não dar tréguas ao Governo na busca de responsabilidades pelo que aconteceu.» [Observador]
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Se nos próximos dias aparecerem "especialistas", professores universitários ou políticos a argumentarem em defesa das celuloses, com argumentos de que as críticas ao eucalipto não têm fundamento científico, que o problema é dos abusos e que o setor é fundamental para a economia, exijam-lhes que façam as suas declarações de interesses, que nos digam se de alguma forma ganham dinheiro com os eucaliptos.
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Vivemos num país onde muitas centenas de polícias e funcionários municipais se dedicam à caça às multas do estacionamento, somos perseguidos a toda a hora por agentes muito diligentes na hora de passar o aviso das multas, as instituições do Estado multa o cidadão comum por tudo e por nada.
Mas parece que o rigor no estacionamento não se aplica quando está em causa a proteção da ida, da mesma forma que em Lisboa se multa muito por estacionamento e muito pouco por desrespeito pelas passadeiras de peões, há centenas de quilómetros de troços de estradas onde a zona de segurança em que a lei proíbe a florestação não se respeita. É óbvio que os donos desses terrenos não querem prescindir neles, são os de mais fácil acesso e ao a madeira é só lucro. Mas as leis, os fiscais e os polícias servem para que o país não seja uma selva.
A imagem mostra a agora mal afamada EN236, que ficou conhecida por "estrada da morte". Trata-se de um troo na zona onde se registaram as mortes numa imagem do Google Maps anterior ao incêndio. Quem quiser pode percorrer essa estrada recorrendo ao Street View. Em muitos troços, como o da imagem os eucaliptos chegam à beira do asfalto, estando separados por uma vala de meio metro.
Ninguém viu isto na estrada EN236, o mesmo sucedendo em centenas de troços de estrada deste país? Quem fiscalizou a EN236, quem são as suas chefias imediatas que fizeram de conta que davam ordens para cumprir e fazer a cumprir a lei? O que levará a que muitos responsáveis e agentes da autoridade ignorem a lei num país com tantos e tão violentos incêndios.
O mínimo que se exige é que os responsáveis pela fiscalização deste troço sejam acusados de homicídio involuntário. Aposto que nas semanas seguintes vão chover multas e ordem para abater eucaliptos que estão na beira da estrada.
Não faria sentido aumentar aquela distância para vinte metros? Imagino que os madeireiros e as celuloses não gostariam, mas que se danem, à frente dos seus interesses está a segurança dos portugueses.
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«Toda a gente está a falar da tragédia de Pedrogão. Muitos se lembram da última vez que se falou da última tragédia. Exprimem-se indignação, revolta, angústia e desespero. Às forças da inércia, da preguiça, do statu quo, do deixa-andar que acaba por dar em deixa-arder, basta esperar que tudo passe. Até acontecer outra tragédia e começar tudo outra vez.
Como se pode impedir este sistema cómodo e assassino de sobreviver? As forças do deixa-arder, para disfarçar, erguem-se a protestar também, para não destoar. As forças do deixa-arder tudo fazem para deixar desabafar quem quiser. É desabafando que eventualmente perderemos o fôlego. Depois do desabafo - contam esses poderes instalados - virão o cansaço, o abatimento, a desistência e a aparência externa, politicamente crucial, de indiferença e esquecimento.
Malfeitores são também os que não fazem nada ou só fazem o mínimo para parecer que respondem aos protestos. Malfeitores são também os que, no momento da tragédia, prometem fazer o que ainda não fizeram. Esses são os primeiros a esquecer as promessas. Só se lembram delas para voltar a fazê-las: as mesmas promessas com que nos calaram da última vez.
Como se há-de manter este saudável sobressalto em que tantas vozes discordantes se levantam? Como se há-de manter esta heróica teimosia em repetir o que já se gritou tantas vezes em vão?
É a quantidade de vozes que importa, até mais do que dizem ou divergem. É preciso que não se calem, para que não contem com o nosso silêncio.» [Público]
Autor:
Miguel Esteves Cardoso.