Um dos erros cometidos pelos opositores aos desvarios económicos de Passos Coelho foi nunca terem promovido uma avaliação das consequências económicas das suas políticas. Pior do que isso, o país nem sequer foi informado sobre as numerosas negociações entre Passos e a troika, que terão conduzido a revisões do memorando. Quando o memorando de entendimento foi negociado o PSD e o CDS exigiram a sua publicação, foram ao pormenor de exigir a sua tradição, mas depois disso tudo foi confidencial e é bem provável que não exista um documento escrito, um e-mail arquivado ou uma conversa telefónica registada.
Hoje ninguém sabe quais foram as consequências da experiência económica de Passos Coelho, fala-se muito de reformas mas não se fez reforma nenhuma, fala-se de rigor orçamental mas o incumprimento serviu para impor ao país as ideias de Passos ou de quem lhas meteu na cabeça sob a forma de medidas de urgência.
A própria direita apoiante de Passos, incluindo destacados economistas, não sabem muito bem o que defender. Umas vezes tudo se deve ao governo de Passos e ao seu ímpeto reformista, outras vezes Passos não foi responsável por nada e a culpa das medidas foi do memorando, umas vezes Passos foi além da Troika e outras vezes enga qualquer responsabilidade no memorando, apesar da sua participação no processo negocial.
A certeza quando os benefícios das políticas adotadas era tanta que mal sairão do poder previram a desgraça, diziam que o diabo vinha em setembro, a situação era tão sólida que bastaria a sabotagem fiscal feita com os reembolsos do IVA e do IRS para levar o país a um segundo resgate. Diziam que a queda dos juros era conjuntural e se devia à intervenção do BCE, que iria aumentar o desemprego e que o pouco emprego criado era de baixos salários, que o sucesso das exportações ia ser posto em causa.
A certeza da desgraça era tanta que Passos continuou a negar a realidade, começou por a negar quando concluiu que tinha direito a governar com parte da oposição a abster-se, negou-a quando o diabo não veio em Setembro e adiou a sua “prenda envenenada” para Janeiro, dizendo que quem a traria seriam os Reis Magos, recusou todos os indicadores de que a reversão das suas políticas estavam a ter sucesso.
É urgente saber de tudo o que se passou no período da Troika e avaliar todas as suas consequências, positivas ou negativas.