É um dado adquirido que a mecanização da agricultura americana ocorreu várias décadas antes de ter ocorrido na Europa. Enquanto a presença de máquinas agrícolas é evidente em imagens do mundo rural americano anterior à Grande Guerra, enquanto as imagens de mecanização da agricultura europeia são frequentes já nos pós guerra. A causa desta diferença também é evidente, mesmo com os trabalhadores negros, antigos escravos, a agricultura americana não dispunha dos necessários recursos humanos. Mesmo com mecanização intensiva a agricultura americana dependeu de vagas sucessivas de mão-de-obra emigrante.
Mais recentemente ocorreu um fenómeno em sentido inverso. Enquanto o choque petrolífero forçou a indústria japonesa e europeia do setor automóvel a adaptar a sua oferta a uma situação de escassez de combustível e aos seus altos preços, a indústria automóvel americana permaneceu sem grandes evoluções, beneficiando de um mercado onde os preços dos combustíveis permaneceram baixos. Os carros europeus ou japoneses eram considerados viaturas citadinas para senhoras. O resultado foi o que se viu, cidades como Detroit são hoje verdadeiros museus de arqueologia industrial mal frequentadas.
Num mundo onde a regra parece ser o oportunismo, o Reino Unido vê no Brexit a forma de ganhar beneficiando da concorrência desigual em consequência de não ter de respeitar as regras do mercado comum e de não ter de suportar os seus custos. Do outro lado do Atlântico a América de Trump acha que o desrespeito de normas ambientais favorecerão as empresas americanas.
A curto prazo os oportunistas poderão dar a ilusão de que trazem progresso, a anão ser que como a imbecil conservadora do Reino Unido se lembre de espantar o seu eleitorado com o já famoso imposto sobre a demência. A longo prazo tanto britânicos como americanos poderão pagar caras as suas opções oportunistas. Começa a ser óbvio que as vantagens dos ingleses serão escassas pois a indústria europeia não aceitará uma situação de concorrência desleal, com os ingleses a obter proveitos em simultâneo no mercado comum e na negociação internacional sem partilha de proveitos com a Europa.
A desvalorização da importância das normas ambientais poderá ter consequências trágicas num país que em setores como o das energias renováveis já revela um grande atraso. Mais tarde ou mais cedo os americanos vão soçobrar á nova realidade e não tardará a que além de direitos aplicáveis para compensar o dumping sejam também adotadas normas para combater as vantagens desleais resultantes do dumping ambiental.
Mas se a questão vai ter de ser abordada nas negociações comerciais, penalizando os que são mais competitivos por não terem de suportar custos ambientais, também vai ter consequências no plano do desenvolvimento. O mundo está iniciando uma nova revolução industrial, estimulada pela necessidade de desenvolver tecnologias compatíveis com a defesa do ambiente. A mesma América que ganhou a batalha da mecanização da agricultura e do fabrico em série do taylorismo, vai perder a revolução industrial das tecnologias ambientais, da mesma forma que perdeu a revolução industrial no setor automóvel. O mesmo Trump que se queixa das importações americanas de carros alemães está a conduzir a indústria americana para o atraso tecnológico, e dentro de poucas décadas teremos várias cidades de Detroit.