sábado, julho 06, 2013

Umas no cravo e outras na ferradura


 
   Foto Jumento
 
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Flor do Parque da Bela Vista, Lisboa
    
 Um sortudo chamado Gaspar

Ao voltar para o Banco de Portugal Vítor Gaspar é um funcionário público cheio de sorte, graças à alteração do estatuto do banco, a única reestruturação feita no Estado o ex-ministro fica a coberto das medidas de austeridade que impôs aos funcionários públicos. No Banco de Portugal os funcionários beneficiam do melhor de todos os mundos, até podem comprar duas casas, uma para residir e outra para férias, com empréstimos de dinheiro dos portugueses a juros simbólicos.
 
E nem sequer vai ser penalizado com mais uma hora de trabalho pois o Gaspar é um funcionário público que ganha dinheiro dos portugueses mas que naquilo que lhe interessa rege-se pelo contrato colectivo dos bancários.

Enquanto sujeitou os portugueses a uma experiência económica digna do laboratório do Dr. Mengele o nosso Gasparoika assegurou-se qu quando fugisse ficaria a viver à custa dos portugueses e sem os limites da austeridade que ele próprio impôs ao país para corrigir os desvios colossais que resultaram da sua própria incompetência.

 Ir tosquiar e sair tosquiado
 
É mais do que óbvio que esta crise política resulta de uma causa absolutamente miserável, a gestão da cobardia, do oportunismo e da ambição pessoal de Paulo Portas, tudo o resto são tretas inventadas pelo líder do CDS para emprestar seriedade e credibilidade à sua canalhice compulsiva.

Há meses que Portas espreitava a oportunidade de lançar esta crise, o que o líder do CDS é dinheiro, poder e votos, quer ser ele a gerir o pote porque já não tem tempo para resolver os seus problemas e depois da queda deste governo nem tão cedo voltará a ter a oportunidade de se aproximar do pote.

Se a crise resultasse dos bons princípios de porte de uma forma ou de outra já estaria resolvida, o prolongamento da situação só resultou de um processo negocial em que se discutiu o preço dos serviços dessa prostituta política que se dá pelo nome de Paulo Portas.
 
 Pobre Cavaco

Um dia destes ainda se engana e dá posse ao jardineiro como ministro da Agricultura.
 
 Dúvida
  
Qual será o papel de Pires de Lima nesta crise política criada pelo CDS para obter proveitos um momento de crise?

      
 Astros e equídeos
   
«No fim do Conselho de Ministros de ontem, Marques Guedes tinha importantes declarações a fazer. Informou-nos que o Governo tinha aprovado novas regras para a classificação dos equídeos e, respondendo a perguntas dos jornalistas sobre a actual solução política, falou sobre astrologia. Afinal, ainda há alguém no Governo que consegue dizer alguma coisa que faça sentido. Mais, sabemos que alguém ainda está a governar, talvez existam assuntos mais importantes do que a classificação equídea mas não se pode pedir muito mais.
  
Sim, talvez num momento em que assistimos à exibição da mais profunda incompetência e do maior desprezo pelos cidadãos por parte de umas pessoas que de políticos só têm o cartão e de governantes só têm a bandeirinha na lapela, tentar um sorriso não seja o mais recomendado.
  
Sim, talvez sorrir não seja a melhor opção quando precisamos de estabilidade e o Governo é o maior agente de instabilidade; quando um primeiro-ministro de um Governo de coligação e em circunstâncias terríveis se comporta como alguém que com a saída do verdadeiro chefe precisa de afirmar a sua autoridade; quando um ministro de Estado um dia diz que a sua presença no Governo é politicamente insustentável e um acto de dissimulação e no outro dia negoceia a sua permanência no Governo ou a do partido que lidera ou um simples apoio parlamentar que seja. Sorrir é capaz de não ser apropriado quando as instituições não estão a funcionar regularmente e a instituição que tem de assegurar o bom funcionamento das outras ainda consegue levantar a hipótese de manter este Governo que exibe este penoso espectáculo a que assistimos envergonhados.
  
Mas talvez, como cantava o Cartola, seja melhor sorrir para não chorar.» [DN]
   
Autor:
 
Pedro Marques Lopes
       
 Um fim trágico como nas tragédias
   
«Palavras, palavras, palavras. Tantas são as palavras que se ouvem nestes tempos de insanidade. Tanta coisa escrita, tanta análise. E eu também para aqui a escrever no meio do enorme absurdo em que se transformou esta democracia gerida por homens com a idade mental de garotos.

Por menos que isto estadistas foram depostos, até assassinados. Por menos que isto foram feitos golpes de Estado e revoluções. Valha-nos a democracia e a União Europeia senão estávamos de novo em ditadura. Mas valha-nos para quê? As respostas são todas más. De nada nos vale a União Europeia quando nós, num acesso de insanidade colectiva, elegemos um boneco de palha como primeiro-ministro e temos outro na calha para lhe suceder.

Durante dois anos tudo foi dito sobre o governo, sobre o programa de ajustamento, sobre a incompetência e impreparação do primeiro-ministro. Palavras, palavras, palavras. As democracias têm esta irracionalidade. Por renegarem a violência e aceitarem apenas o debate e o contraditório permitem que, às vezes, a irracionalidade e o absurdo cresçam até à catástrofe, até à autodestruição do sistema, paralisado em protocolos, regras e etiquetas.

A nossa democracia produziu o mais trágico e o mais patético dos primeiros-ministros. Pedro Passos Coelho é um actor que toda a vida ensaiou o papel de primeiro-ministro e convenceu-se de que é o personagem. Se tivesse ensaiado o papel de cirurgião estava agora a matar gente no bloco operatório convencido que a bata fazia o médico. Este trágico homem vive uma delusão; e não é só ele. Por uma incompreensível insanidade colectiva, colegas, eleitores e jornalistas também confundiram o actor com o personagem e levaram-no até ao cargo. Tratam-no, até hoje, como primeiro-ministro, ao ponto de dele esperarem soluções. É uma tragédia.

Sr. primeiro-ministro, o senhor já não tem mais carreira política pela frente. Duvido mesmo que tenha carreira. Acabou. O sr. não é como o sr. Relvas, que é esperto como um alho, um networker predestinado aos negócios. Nem é como o dr. Gaspar, que tem estudos, que tem currículo e que fugiu como um rato porque tem o futuro assegurado num qualquer gabinete das Finanças do mundo onde o Excel não se cruza com a realidade. Nem é como o outro rato, o dr. Portas (na verdade ninguém é como o dr. Portas) que tem amigos em todo o lado, que é enturmado, que "faz parte". O senhor daqui não tem para onde ir.

Se esta tragédia fosse ficção – e parece que é – eu escrevia-lhe um final trágico como é norma das tragédias. Um suicídio, político ou literal (tanto faz), mas heróico e cheio de dignidade. Como o de Brutus, quando se retirou para a montanha depois de ser derrotado pelas legiões de Octávio e Marco António. Ou como o de Cato, que preferiu morrer a ser perdoado por César.

Imagine-se as ondas de choque por essa Europa fora: “Primeiro-ministro sacrifica-se para não sacrificar o povo”; “Um gesto tão irracional como a política da União”. E a Europa, consternada, começaria a repensar as suas políticas em sinal de luto e respeito por um lutador de uma causa perdida.

Era um triste e bonito fim.» [Dinheiro Vivo]
   
Autor:

Pedro Bidarra.
     
 Porcaria na ventoinha
   
«Dava tanto mais jeito, hoje, escrever sobre o Egito. Tanta coisa para dizer, tanta reflexão para fazer, sobre o derrube, pelo Exército, de um presidente que resultou das eleições democráticas pós-revolução de fevereiro de 2011, num golpe que, incrivelmente, tem o apoio da mesma rua moderna e laica que iniciou há dois anos e meio o movimento para destituir o poder militar. Um derrube pelas armas de um Governo eleito democraticamente saudado em nome da democracia? É muito paradoxo junto. Mas é também uma coisa grandiosa, épica, para filmes de Eisenstein, com doses prodigiosas de risco, coragem e esperança. Em contrapartida, aqui a coisa está ao nível dos Malucos do Riso.
  
Uns tristes malucos do riso, de resto, porque o que isto suscita mesmo é tristeza e desalento. A tristeza de ver Portugal ir pelo buraco e o desalento de não saber como o evitar nem ver quem, podendo, o faça. Um Presidente reduzido a bobo palaciano, que dá posse ao que aparece mesmo quando toda a gente sabe que está a acolher uma farsa, e considera que tudo é melhor que eleições - inclusive isto. Um primeiro-ministro que no seu ricto de boca fina e olhar esvaziado se julga um predestinado, decidido a, mesmo abandonado e traído pelo seu sagrado piloto Gaspar, amarrar-se sozinho ao leme do barco para o levar, pelo mapa abjurado por aquele, ao naufrágio final. Um presidente do segundo partido da coligação que se demite com estrondo, anunciando a irrevogabilidade da decisão e explicitando ser incapaz de conviver mais com aquilo que descreve como total desconsideração, sendo a seguir mandatado pelo seu partido para se entender com quem, publicamente, lhe chamou duas vezes mentiroso (no episódio da TSU e neste da nomeação da nova ministra das Finanças). Um líder do principal partido da oposição percecionado como tão fraco e incapaz que não permite a projeção de esperança que levantaria o País. E dois outros partidos dos quais ninguém espera qualquer solução.
  
Sim: somos neste momento um país acabrunhado. Um país que aprendeu à sua custa o que dá acreditar que qualquer coisa é melhor do que o que está. Um país que saiu duas vezes à rua para se fazer ouvir e percebeu que lida com surdos. Um país que vê o défice com o freio nos dentes (10,6% no primeiro trimestre), o desemprego previsto (pelo Governo) de 19% para o fim do ano - este ano que nos garantiram ser o da retoma, depois de ter garantido o mesmo de 2012 -, a dívida a 127,3% do PIB, os juros quase nos 8% e a recessão estimada (por Gaspar; INE prevê pior) em 2,3% e não pode deixar de perguntar porque é que se muito menos era em 2011 apelidado de "bancarrota" isto é, na boca de banqueiros e troika, "sucesso" e "bom caminho", que não pode ser "deitado a perder". Um país que tem todos os motivos para concluir, como os egípcios que anteontem saudaram a queda de Morsi, que às vezes a democracia dá nós que ninguém sabe como desatar.» [DN]
   
Autor:
 
Fernanda Câncio.
   
 O resto do filme
   
«O Governo de coligação PSD/CDS, com a ligeireza própria da adolescência, resolveu entrar esta semana, pelo seu próprio pé, numa animada montanha russa. E enquanto por cá se sucediam, a velocidade vertiginosa, as cenas caricatas - para enorme espanto do País, da Europa e dos mercados - o primeiro-ministro optou por ir a Berlim (!) explicar porque é que o Governo, apesar de tudo, devia continuar. A explicação que deu foi extraordinária: "Não acredito que os portugueses não queiram ver o resto do filme". Manifestamente, o primeiro-ministro ainda não percebeu que é o principal protagonista de um filme deprimente, que só pode acabar mal.

Passos Coelho faria bem em ler com a devida atenção a longa e reveladora carta de demissão do seu mentor e ex-ministro de Estado e das Finanças. Nessa carta, Vítor Gaspar não se limitou a pedir a sua exoneração - optou por fazer o ‘front-loading' das memórias que há-de publicar daqui a trinta anos e reconheceu, desde já, o duplo fracasso da política do Governo. Disse ele: "o nível de desemprego e de desemprego jovem são muito graves" e "o incumprimento dos limites originais do programa para o défice e a dívida, em 2012 e 2013, foi determinado por uma queda muito substancial da procura interna e por uma alteração na sua composição que provocaram uma forte quebra nas receitas tributárias. A repetição destes desvios minou a minha credibilidade enquanto ministro das Finanças". Dois anos de austeridade "além da ‘troika'" deram nisto.
O que Vítor Gaspar percebeu é muito simples: não há um final glorioso para este Governo. Na linguagem cinematográfica do primeiro-ministro, isto pode dizer-se assim: este filme não vai ter um final feliz.

Falemos então do resto filme, porque afinal é em nome dele que este Governo sobrevive e conta com o patrocínio do Presidente da República. O que está no guião dos próximos capítulos é mais do mesmo: cortes nas pensões; despedimentos e cortes de salários na função pública; cortes nos serviços públicos e na protecção social. Aquilo a que se chama "reforma do Estado" é, recorde-se, um pacote de austeridade de 4.700 milhões de euros (!), que apenas promete mais recessão e desemprego. E a ele se seguirá ainda um novo programa de austeridade - dito programa cautelar - porque, no fim das contas, com os fundamentais da economia todos no vermelho, o tão falado "regresso pleno aos mercados" continua a ser uma miragem.

É esta, e não outra, a agenda do Governo que PSD e CDS insistem em salvar. Uma agenda cada vez mais longe dos compromissos eleitorais firmados com os portugueses. Sem dúvida, a aritmética parlamentar, assente numa coligação que já não é o que era, associada à conivência do Presidente da República, podem garantir a sobrevivência desta "coisa" que dá pelo nome de Governo. Mas não em nosso nome. Ninguém pediu para ver este filme. E muito menos disse que o queria ver até ao fim.» [DE]
   
Autor:
 
Pedro Silva Pereira.